Após estudo, cientistas pedem libertação de mulher condenada pelo homicídio de quatro filhos

Mortes das crianças podem ter sido provocadas por causas naturais, aponta equipa de investigadores. Kathleen Folbigg está presa desde 2003.

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David Gray/Reuters

Uma equipa de 90 cientistas pede que uma mulher condenada por ter assassinado os quatro filhos seja libertada, depois de encontrar provas de que as crianças podem ter morrido de causas naturais. Kathleen Folbigg está na prisão desde 2003 em Nova Gales do Sul, na Austrália.

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Uma equipa de 90 cientistas pede que uma mulher condenada por ter assassinado os quatro filhos seja libertada, depois de encontrar provas de que as crianças podem ter morrido de causas naturais. Kathleen Folbigg está na prisão desde 2003 em Nova Gales do Sul, na Austrália.

“Em 2003, uma mulher australiana foi condenada por um júri por ter asfixiado e matado os seus quatro filhos, ao longo de um período de dez anos. Cada criança morreu repentinamente e inesperadamente durante o sono, com idades compreendidas entre os 19 dias e os 18 meses. Em 2019, pediram-nos que investigássemos se uma causa genética poderia explicar as mortes das crianças, como parte de uma investigação à condenação da mãe”, começa por explicar uma equipa de 90 investigadores responsáveis pelo estudo publicado na revista científica Cosmos.

Os resultados, que apontam para a possibilidade de as crianças terem morrido de causas naturais, motivaram a criação de uma petição pela libertação da mulher, assinada pelos participantes nestes estudos. “O factor principal é que a ciência se alterou neste caso, através de novos conhecimentos”, explicou Ian Connellan, editora da revista Cosmos. “Esta longa lista de australianos cultos e eminentes exige que a justiça seja feita”, resumiu, citada pelo jornal britânico The Guardian.

O primeiro passo para a equipa de investigadores foi sequenciar o genoma de Kathleen Folbigg, com o objectivo de perceber se mutações genéticas hereditárias estiveram na origem da morte das crianças. A própria mãe poderia ter transmitido estes traços genéticos aos filhos, mas não ter experienciado qualquer efeito destas mutações, como acontece em alguns adultos que são portadores dessas mutações. 

Os testes feitos pelos cientistas mostraram efectivamente que Sarah e Laura, as filhas de Kathleen, herdaram da mãe uma mutação genética conhecida como CALM2. Este gene está associado com a morte súbita nas crianças e, consideram os investigadores, poderá ter sido preponderante na morte das meninas. Quanto aos rapazes, está ainda a ser investigada a existência de uma outra mutação genética, que também poderá ter contribuído para as fatalidades. 

De acordo com os especialistas, as quatro crianças sofriam ainda de um conjunto de patologias antes de morrerem. O primeiro rapaz, Caleb, sofria de dificuldades respiratórias desde o nascimento. O segundo menino, Patrick, tinha convulsões provocadas pela epilepsia. As meninas, Sarah e Laura, registaram infecções respiratórias poucos dias antes de morrerem.

Foi ainda detectado que todas as crianças tinham uma doença que causava arritmia cardíaca, factor que poderia provocar uma paragem cardiorrespiratória.

De acordo com o The Guardian, um porta-voz da Procuradoria-Geral de Nova Gales do Sul, Mark Speakman, garantiu que a petição receberá a consideração merecida, relembrando que as acusações contra Folbigg já foram reavaliadas por várias vezes nos últimos 17 anos.