Cientistas ganham financiamento para expedição ao mar profundo dos Açores

Várias instituições portuguesas participam em projecto internacional de investigação do oceano.

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O navio de investigação Pelagia trabalhará durante 17 dias no projecto DR

Uma equipa liderada pelo Centro de Investigação Okeanos da Universidade dos Açores garantiu financiamento do projecto Eurofleets+ para a realização de uma expedição científica a zonas do mar profundo “nunca antes visitadas”.

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Uma equipa liderada pelo Centro de Investigação Okeanos da Universidade dos Açores garantiu financiamento do projecto Eurofleets+ para a realização de uma expedição científica a zonas do mar profundo “nunca antes visitadas”.

“O financiamento agora garantido pelo Grupo de Investigação do Mar Profundo do (centro de investigação) Okeanos da Universidade dos Açores vai permitir a realização de uma expedição científica para a exploração de zonas desconhecidas da Dorsal Médio-Atlântica, ao longo de 17 dias”, diz, em comunicado, o investigador Telmo Mourato, que vai liderar a missão.

Sobre a Dorsal Médio-Atlântica, o comunicado adianta: “É uma cordilheira vulcânica que se estende desde o Árctico até à Antárctida, sendo a estrutura topográfica dominante do oceano Atlântico e a cordilheira mais extensa do mundo. A expedição vai cartografar os fundos desta região e caracterizar as comunidades de corais e esponjas que habitam as cristas e montes submarinos na dorsal. Pretende ainda identificar os factores ambientais que determinam a distribuição espacial da biodiversidade bentónica de profundidade.”

Baptizada “iMAR: Avaliação Integrada da Distribuição dos Ecossistemas Marinhos Vulneráveis ao longo da Dorsal Médio-Atlântica na região dos Açores”, a expedição é financiada pelo projecto Eurofleets+, do programa Horizonte 2020, que visa reunir uma frota de navios de investigação avançada e integrada para melhorar a coordenação e promover o uso económico das infra-estruturas de investigação marinha. O Eurofleets+ engloba 27 navios de investigação, sete veículos operados remotamente (ROV), cinco veículos submarinos autónomos (AUV) e uma unidade portátil de telepresença.

De acordo com a nota conjunta do Centro Okeanos e do Azores Deep-Sea Research, esta expedição ao mar profundo dos Açores “vai permitir explorar zonas nunca antes visitadas” com recurso a “equipamentos e meios tecnológicos complexos, embarcações oceanográficas de grandes dimensões e tripulações especializadas, o que representa elevados custos económicos”. “Este tipo de meios de investigação está raramente disponível para a comunidade científica nacional”, assinala o comunicado.

Telmo Morato, investigador do Imar (Instituto do Mar) e do centro Okeanos da Universidade dos Açores, destaca a importância do financiamento obtido através do Eurofleets+, considerando que “As equipas de investigação do mar profundo em Portugal têm tido alguma dificuldade no acesso a navios de investigação de grande dimensão, que possibilitem trabalhar em águas mais profundas e mais distantes e com os meios tecnológicos adequados”, destaca Telmo Morato, investigador do Imar (Instituto do Mar) e do centro Okeanos da Universidade dos Açores, em relação à importância do financiamento obtido através do Eurofleets+. “Os nossos projectos de investigação regionais, nacionais ou europeus não conseguem suportar os custos associados à diária de um navio destas características, que pode rondar entre 20 e 60 mil euros”, sublinha o investigador, citado no comunicado.

Apesar dos “grandes avanços no conhecimento do mar profundo dos Açores” alcançados nos últimos anos, Telmo Morato considera que “ainda há muito por conhecer e por descobrir. Por isso, considera que a oportunidade gerada pelo Eurofleets+ e pelo Real Instituto para a Investigação do Mar dos Países Baixos (NIOZ) para utilizar o navio de investigação Pelagia nos Açores, durante a primavera de 2021, irá “contribuir para avançar o conhecimento do mar profundo em Portugal”.

O ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, realça, na nota de imprensa, ser “mais uma etapa do percurso rico da equipa de investigação do mar profundo do IMAR/Okeanos da Universidade dos Açores”, destacando o trabalho dos investigadores Telmo Morato e Marina Carreiro-Silva, “pelo mérito de terem conseguido esta bolsa” que permite “alocar, durante 17 dias, o navio de investigação Pelagia”.

Marina Carreiro Silva, co-líder do grupo de investigação e especialista em corais de águas frias, refere igualmente que “o mar profundo dos Açores esconde uma diversidade de comunidades biológicas única no oceano Atlântico e alberga extensos jardins de corais de águas frias e campos de esponjas”.

O comandante João Vicente, Chefe da Divisão de Hidrografia do Instituto Hidrográfico (IH), sublinha também a elevada importância desta missão que contribuirá também para o programa SEAMAP 2030 (Mapeamento do Mar Português) do IH.

A expedição “iMAR” visa ainda “identificar novas áreas que se enquadrem na definição de Ecossistemas Marinhos Vulneráveis, determinar o estado ambiental das comunidades bentónicas e quantificar o lixo marinho” para “a preservação do património natural, o uso sustentável do mar profundo e minimizar os impactos negativos nestes ecossistemas tão vulneráveis”.

Para Aodhán Fitzgerald, coordenador do Eurofleets +, este projecto “possibilita o acesso aos mais modernos navios de investigação, proporcionando oportunidades para estudar locais ainda por explorar e compreender melhor os impactos negativos nos nossos ambientes de águas profundas”.

A expedição contará com a participação de investigadores de várias instituições portuguesas e internacionais, nomeadamente o Instituto Hidrográfico, o Ciimar da Universidade do Porto, a Universidade de Aarhus (Dinamarca), o Centro Nacional de Oceanografia (Reino Unido), o Geomar (Alemanha), o Instituto de Oceanografia P.P. Shirshov (Rússia), e a Universidade do Vale do Itajaí (Brasil).