Afinal, há luz ao fundo do túnel
O combate à covid-19 está a correr bem e será mais facilmente ganho se os portugueses não forem tratados como potenciais irresponsáveis, antes como pessoas que tanto sabem que o perigo anda por aí, como constatam com inteligência e factos que se aproxima a hora de o encarar de forma menos penalizadora para as suas vidas.
Ao anunciar para 11 de Março um plano para os primeiros passos de um desconfinamento “gradual, progressivo e diferenciado por sectores”, o primeiro-ministro acabou com as dúvidas sobre a existência de uma estratégia reflectida para responder à evolução da pandemia. Ou, por outras palavras, deu fôlego à ideia de que há uma avaliação lúcida e realista da situação que dispensa jogos psicológicos, tabus e teimosias que subestimam a capacidade dos portugueses em analisar o que se passa. Se António Costa avançou com uma data para anunciar a luz ao fundo do túnel para calar a pressão da oposição ou para satisfazer a vontade do Presidente da República, pouco interessa. O Governo fez bem em conciliar um discurso de cautela e restrições com a esperança de que o esforço enorme que os cidadãos fizeram e vão ainda fazer está prestes a ser recompensado.
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Ao anunciar para 11 de Março um plano para os primeiros passos de um desconfinamento “gradual, progressivo e diferenciado por sectores”, o primeiro-ministro acabou com as dúvidas sobre a existência de uma estratégia reflectida para responder à evolução da pandemia. Ou, por outras palavras, deu fôlego à ideia de que há uma avaliação lúcida e realista da situação que dispensa jogos psicológicos, tabus e teimosias que subestimam a capacidade dos portugueses em analisar o que se passa. Se António Costa avançou com uma data para anunciar a luz ao fundo do túnel para calar a pressão da oposição ou para satisfazer a vontade do Presidente da República, pouco interessa. O Governo fez bem em conciliar um discurso de cautela e restrições com a esperança de que o esforço enorme que os cidadãos fizeram e vão ainda fazer está prestes a ser recompensado.
Ao anunciar a probabilidade de uma abertura, por ligeira que seja, quando se discutir o próximo estado de emergência, o primeiro-ministro recupera a iniciativa política. Não fica refém das críticas sobre a falta de um plano nem da incompreensão dos portugueses, que vêem as infecções reduzirem-se e os internamentos nos hospitais baixarem sem que essa melhoria produza qualquer iniciativa condizente por parte do Governo. Mostra que está atento ao balanço sempre difícil entre as necessidades primordiais de controlar os danos do vírus e os dramas que o confinamento geral está a causar à economia, às famílias e, muito especialmente, aos jovens. Com o simples anúncio de uma data, o Governo respondeu à percepção que os portugueses têm da gravidade do problema e mostrou abertura para ir ao encontro dos seus legítimos anseios.
Não é coisa pouca. Um combate desta dimensão não se ganha sem o empenhamento colectivo. Saber que em breve poderá haver uma distensão no rigor do confinamento pode levar alguns a relaxar as regras, mas seguramente levará muitos mais a resistir mais umas semanas por sentirem que em causa não está uma punição, antes a conquista de um prémio. Depois de se chegar a 11 de Março, com mais dados sobre contágios e internamentos, ver-se-á o que decide o Governo. Ver-se-á também como vai ser contornada a ameaça da Páscoa.
Seja como for, depois da comunicação do primeiro-ministro tudo fica mais claro. O combate ao surto brutal da covid-19 está a correr bem e será mais facilmente ganho se os portugueses não forem tratados como potenciais irresponsáveis, antes como pessoas que tanto sabem que o perigo anda por aí, como constatam com inteligência e factos que se aproxima a hora de o encarar de forma menos penalizadora para as suas vidas.