Apenas 55% dos convocados responderam ao SMS para serem vacinados contra a covid-19

Já foram enviadas 30.500 mensagens escritas por telemóvel e obtidas 16.799 respostas. Destes, só 2,47% recusaram ser imunizados.

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Rui Gaudencio

Desde que se iniciou a vacinação contra a covid-19 das pessoas com mais de 80 anos e entre os 50 e os 79 com pelo menos uma das quatro doenças classificadas de risco “foram enviadas 30.500” SMS – mensagens escritas por telemóvel – de agendamento e “obtidas 16.799 respostas, ou seja, 55,08%”, revelou ao PÚBLICO a Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Destas, “16.393 pessoas responderam sim à vacinação e 406 disseram não”, o que significa que só 2,47% das pessoas recusaram ser imunizadas.

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Desde que se iniciou a vacinação contra a covid-19 das pessoas com mais de 80 anos e entre os 50 e os 79 com pelo menos uma das quatro doenças classificadas de risco “foram enviadas 30.500” SMS – mensagens escritas por telemóvel – de agendamento e “obtidas 16.799 respostas, ou seja, 55,08%”, revelou ao PÚBLICO a Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Destas, “16.393 pessoas responderam sim à vacinação e 406 disseram não”, o que significa que só 2,47% das pessoas recusaram ser imunizadas.

Embora o número de agendamentos seja crescente - a 2 de Fevereiro, véspera do início da vacinação destes dois grupos prioritários, o Ministério da Saúde disse à Lusa terem sido enviadas cerca de 850 SMS -, há uma grande percentagem que fica sem resposta. “Importa reforçar que todos os utentes serão contactados, sendo a SMS apenas o meio preferencial, em virtude da sua simplicidade”, diz a SPMS. Que explica que “nas situações em que se verifique uma ausência de resposta à SMS, os centros de saúde podem sempre convocar os utentes para vacinação através de chamada telefónica e, em último recurso, enviar carta”.

A mensagem “é enviada quatro dias antes para dar tempo a que as equipas [dos centros de saúde] possam contactar”, explica o presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde familiar (AN-USF), referindo que “na faixa etária dos 50-65 anos – os que estão a ser convocados agora para fazerem a vacina da Astrazeneca – a taxa de resposta estará acima dos 70%”, sendo “mais baixa nos idosos, devendo estar em 50%”, mas depende dos locais. A ausência de resposta, explica Diogo Urjais, não é porque as pessoas não queiram ser vacinadas – “a maioria quer” -, mas porque muitos idosos “não têm telemóvel ou não o sabem usar”. Há também um trabalho de colaboração que está a ser feito pelas autarquias e juntas de freguesia, que criaram call centers ou têm equipas que vão a casa das pessoas quando não há outra maneira de as contactar, “porque não têm filhos ou um número actualizado”.

Actualizar contactos

“Se a pessoa não responde ao SMS, por precaução ligamos. Mas por vezes não conseguimos contactar as pessoas por falta de um contacto actualizado. Por isso, faço esse apelo”, diz Mariana Freire, coordenadora da USF Alvalade, unidade em Lisboa que já vacinou 996 pessoas. Uma das formas de actualizar os contactos é através do covid-19.min-saude.pt. Segundo a SPMS, este mecanismo já “foi usado 65.160 vezes, estando já actualizados os contactos alterados até ao dia 22 de Fevereiro”.

Mas o processo nem sempre é fácil, com alguns utentes a queixarem-se de que os novos dados não são assumidos. Questionada, a SPMS explica que “neste momento, a actualização de contactos ainda demora alguns dias”, mas que estão a “alterar o serviço para que, até ao final desta semana, passe a ocorrer no máximo em 24 horas, passando, nessa mesma altura, o utente a constatar essa alteração no portal logo que esta se verifique”.

Não são só estas questões que podem tornar a convocatória dos idosos “um processo mais moroso”. “Muitas vezes o contacto que está associado é o de um filho. Quando ligamos, tem de falar com o pai ou a mãe e por vezes é preciso mais de um contacto para o agendamento. O sistema informático permite associar o contacto preferencial, mas não permite adicionar informação para saber de quem é o número”, diz Diogo Urjais.

Há ainda a questão de como se responde ao SMS. A SPMS explica que mensagem que chega aos utentes explica como devem responder. “O SMS é enviado do número de 2424, para o utente elegível para vacinação na fase 1, com o local, a data e a hora. Este SMS carece de uma resposta através do formato: SNS.NUMERO UTENTE.SIM ou NAO. Quando o utente responde sim ou não, fica registada essa confirmação.”

Quando a resposta vai com um formato errado, o utente recebe a seguinte mensagem: “COVID19: Formato da resposta incorrecto. Responda: SNS.NUMERO UTENTE.SIM ou NAO.” Se responder com um número de SNS de um utente que não é elegível para esta fase “recebe informação de que o número de utente da resposta não coincide com o número de utente da pessoa contactada”, explica a SPMS, acrescentando que no dia anterior à vacinação, é enviado um lembrete com a hora e o local onde a pessoa será vacinada.

Faltas pontuais à vacinação

Mesmo entre as pessoas que respondem sim, há quem não se apresente no dia da vacinação, o que leva à convocatória de outros utentes num curto espaço de tempo por causa da validade das vacinas depois de prontas para serem administradas. Da experiência que tem, Mariana Freire fala “em casos pontuais”. “Tivemos uma senhora já com muita idade que no dia acabou por não querer sair de casa e um outro utente que disse que já não queria porque os familiares achavam que podia ser arriscado. Há ainda os casos de pessoas que depois de preencherem o inquérito se percebe que têm critérios de exclusão, como já terem tido covid.”

“Por isso é que é obrigatório que existam listas de suplentes, que devem ser contactados previamente a avisar que poderão vir a ser chamados”, diz Diogo Urjais, que também fala em casos pontuais e dá outros exemplos que levam a faltas: “A pessoa pode estar doente, perceber-se que tem uma alergia, ter caído e não se poder deslocar. ”

À medida que o processo avança, os centros de saúde vão percebendo o que ainda é preciso melhorar. “Alguns dos utentes que chamámos acabaram por se confinar fora de Lisboa. Alguns vieram de propósito para fazer a vacina, mas outros dizem que vão tentar fazê-la no centro de saúde na zona onde estão. Para estes casos não há uma indicação”, diz Mariana Freire, que explica que “o utente não sai da lista, deixamos uma nota para voltar a contactá-lo para ser vacinado”.

“A lei do registo nacional de utente permite a inscrição temporária até um ano num outro centro de saúde – não elimina a inscrição mãe -, mas o sistema informático não foi adaptado. Alguém terá de dar uma orientação para que sejam inseridos manualmente na lista desses locais para serem vacinados”, refere Diogo Urjais, que chama a atenção para os utentes que ficaram inactivos na lista dos médicos de família por não frequentarem o centro de saúde há mais de três anos. “Estes utentes não estão a ser inseridos em nenhuma lista. Tem de se desbloquear esta inscrição ou serem colocados na lista de utentes sem médico de família.”

A SPMS diz que “os utentes inactivos constam das listas das unidades que já estão a agendar para vacinação. No entanto, alguns carecem de procedimentos adicionais para entrarem na lista de elegíveis, como por exemplo a emissão de uma declaração pelo seu médico assistente, atestando que o mesmo reúne as condições para ser vacinado na fase 1”. Já as pessoas que não têm unidade atribuída “vão integrar as listas das unidades no início da próxima semana, pois a informação destes utentes é mais incompleta e carece de tratamento especial antes da sua atribuição a uma unidade em função da residência”. “Estes últimos são utentes que nunca estiveram inscritos num centro de saúde, sendo inexistente ou muito esporádico o contacto com o Serviço Nacional de Saúde”, acrescenta.