Aprender em excesso com a história da pandemia
O exercício de máxima prudência na gestão da pandemia tem o mérito de blindar o Governo ou o Presidente às críticas de imprudência, irresponsabilidade ou incompetência que se repetiram nas últimas semanas. Mas tem também o risco de excesso que o pode comprometer
“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”, disse algures, no século XVIII, o filósofo irlandês Edmund Burke. A frase foi desenterrada pelo Presidente da República para justificar a blindagem da sua cooperação estratégica com o Governo contra qualquer pressão para se começarem a discutir os primeiros, ainda que tímidos, passos em direcção ao desconfinamento. A mensagem subliminar que a citação de Burke deixa ao país é que o Governo e o Presidente conhecem a história que conduziu à tragédia de Janeiro e farão tudo ao contrário do que foi feito na altura para a não repetir. Não mudam nada, não parecem dispostos a fazê-lo na próxima revisão do estado de emergência, em 16 de Março, nem sequer no final do mês. Conhecedores de História, Governo e Presidente receiam que o Natal de 2020 se repita na Páscoa de 2021 e estão dispostos a manter o país fechado até essa data para se ganhar o Verão e o Outono.
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“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”, disse algures, no século XVIII, o filósofo irlandês Edmund Burke. A frase foi desenterrada pelo Presidente da República para justificar a blindagem da sua cooperação estratégica com o Governo contra qualquer pressão para se começarem a discutir os primeiros, ainda que tímidos, passos em direcção ao desconfinamento. A mensagem subliminar que a citação de Burke deixa ao país é que o Governo e o Presidente conhecem a história que conduziu à tragédia de Janeiro e farão tudo ao contrário do que foi feito na altura para a não repetir. Não mudam nada, não parecem dispostos a fazê-lo na próxima revisão do estado de emergência, em 16 de Março, nem sequer no final do mês. Conhecedores de História, Governo e Presidente receiam que o Natal de 2020 se repita na Páscoa de 2021 e estão dispostos a manter o país fechado até essa data para se ganhar o Verão e o Outono.
O exercício de máxima prudência na gestão da pandemia tem o mérito de blindar o Governo ou o Presidente às críticas de imprudência, irresponsabilidade ou incompetência que se repetiram nas últimas semanas. Mas tem também o risco de excesso que o pode comprometer. No difícil equilíbrio entre a saúde e a vida material, entre a defesa dos hospitais em detrimento das escolas, entre o combate às infecções e a travagem do desemprego, o país hesitou sobre o que deve ser mais importante. Mas a escolha teve sempre por base uma análise do que a cada momento é mais urgente defender – com as infecções em alta, a saúde; com a pandemia controlada, o ensino ou o emprego. O Presidente e o Governo querem rever os termos em que esse equilíbrio foi assumido.
Se daqui a 15 dias o limiar de infecções, de internamentos ou de doentes nos cuidados intensivos estiver no ponto que o próprio Presidente considerou recomendável, o país aflito com a economia, saturado com o isolamento e alarmado com a factura do fecho das escolas dificilmente compreenderá o prolongamento da dureza das actuais restrições. E essa falta de compreensão não resulta do desconhecimento da história: resulta, sim, de uma leitura inteligente sobre o que é mais importante a cada momento: a defesa da vida ou a defesa dos empregos ou dos jovens.
Se o país não tivesse aprendido com a história, estaria já a querer desconfinar-se. Como aprendeu, não o faz. No futuro próximo, porém, agirá, como sempre fez: de acordo com a realidade da pandemia. A prudência, legítima e compreensível, dos palácios arrisca-se a ser interpretada como uma inaceitável punição.