BCP destaca qualidade das moratórias e trava dividendos até Setembro
Banco tem 8583 milhões de euros em moratórias, mas o seu presidente, Miguel Maya, destaca a qualidade dessa carteira de crédito.
O presidente executivo do BCP anunciou esta quinta-feira que a comissão executiva não vai propor a distribuição de dividendos, mantendo a posição que já tinha defendido no início da crise provocada pela covid-19, mesmo antes da recomendação do Banco Central Europeu (BCE) nesse sentido. Miguel Maya admite, no entanto, avaliar essa possibilidade no futuro, “mas não antes de Setembro”.
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O presidente executivo do BCP anunciou esta quinta-feira que a comissão executiva não vai propor a distribuição de dividendos, mantendo a posição que já tinha defendido no início da crise provocada pela covid-19, mesmo antes da recomendação do Banco Central Europeu (BCE) nesse sentido. Miguel Maya admite, no entanto, avaliar essa possibilidade no futuro, “mas não antes de Setembro”.
Num momento marcado por “grande incerteza”, ainda sem se saber a “abrangência do risco e a profundidade do risco”, o gestor considera que a melhor opção passa pela “preservação do capital do BCP”. Falando na apresentação de contas do último ano, Maya afastou também a necessidade de aumento de capital do banco.
Recorde-se que o BCE recomendou aos bancos para não distribuírem lucros ou, fazendo-o, para os limitar a 15% a partir de Setembro, tecto que vai ser seguido pela Caixa Geral de Depósitos e pelo BPI.
O presidente do BCP justifica o peso das moratórias de crédito concedidas pelos bancos nacionais com as dificuldades do Governo, devido ao peso da dívida pública, em conceder apoios directos às empresas. E dá o exemplo da vizinha Espanha, onde os apoios públicos ascenderam a 18% do PIB e as moratórias representam apenas 7% da carteira de crédito, quando em Portugal os apoios estatais representaram 7,2% e as moratórias 22%.
Entretanto, o banco destaca a qualidade da carteira em moratória (93% desse montante é crédito performing, isto é, sem problemas), explicando que essa qualidade decorre do facto “de não haver nenhum sinal de que esse crédito não vai ser pago” e que muitos clientes que recorreram à medida fizeram-no “por cautela, por prudência”.
O gestor garante que “está a falar agora com os clientes com moratórias, mesmo no caso das que vencem em Setembro”.
Em relação às que vencem já no final de Março, que como o PÚBLICO noticiou na edição desta quinta-feira afecta milhares de famílias, o responsável não quantificou o seu número, referindo apenas que não tem “nenhuma razão para estar preocupado com as moratórias que vão expirar agora”.
“Preocupa-me os sectores que não estão a gerar receitas e os casos dos trabalhadores nestes sectores. Seria muito mau do ponto de vista social tirar estes apoios”, defendeu, acrescentando que os apoios do Estado devem ser canalizados para boas empresas e bons empresários afectados pela crise pandémica.
O BCP terminou o exercício de 2020 com 8583 milhões de euros em moratórias activas às famílias (perto de 102 mil contratos) e às empresas (23.420 contratos). Do “bolo” actual das moratórias concedidas pela instituição, 4483 milhões de euros dizem respeito a crédito de empresas e 4085 milhões a famílias. No caso dos particulares, 90% (3,7 mil milhões de euros) corresponde a crédito à habitação, sendo que 3361 milhões de euros estavam integrados na moratória pública e 725 milhões de euros na privada, criada no âmbito da Associação Portuguesa de Bancos (APB).
Face a Setembro, o montante em moratória reduziu-se em 600 milhões de euros, por cancelamentos, liquidações ou moratórias que expiraram.