Um excerto de Desculpa, novo livro de Eve Ensler, a autora de Os Monólogos da Vagina

Nas livrarias a partir desta quinta-feira, o novo livro da autora da peça Os Monólogos da Vagina é um relato autobiográfico dos anos em que Eve Ensler, agora conhecida por V, foi abusada pelo pai. É editado em Portugal pela Minotauro, que pertence ao Grupo Almedina, e irá doar 1 euro à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) por cada exemplar vendido nos primeiros seis meses após a sua publicação.

Foto
Eve Ensler, agora conhecida por V Nicholas Hunt/Getty Images

Fartei-me de esperar. O meu pai morreu há muito, nunca me dirá as palavras. Não fará o pedido de desculpa. Esse pedido terá, portanto, de ser imaginado, pois é na nossa imaginação que pode­mos sonhar para lá das fronteiras, aprofundar a narrativa e conce­ber desfechos alternativos.
Esta carta é uma invocação, uma chamada. Tentei fazer com que o meu pai me falasse como ele faria. Não obstante ter sido eu a escrever as palavras que precisava que o meu pai me dissesse, tive de deixar espaço para que ele se exprimisse através de mim.
Há tanto acerca dele, a sua história, que nunca partilhou comigo, que me foi necessário evocar também grande parte disso.
Esta carta é a minha tentativa de dotar o meu pai com a von­tade e as palavras para atravessar a fronteira — e falar a lingua­gem — do pedido de desculpa, para que finalmente eu possa ser livre.

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Fartei-me de esperar. O meu pai morreu há muito, nunca me dirá as palavras. Não fará o pedido de desculpa. Esse pedido terá, portanto, de ser imaginado, pois é na nossa imaginação que pode­mos sonhar para lá das fronteiras, aprofundar a narrativa e conce­ber desfechos alternativos.
Esta carta é uma invocação, uma chamada. Tentei fazer com que o meu pai me falasse como ele faria. Não obstante ter sido eu a escrever as palavras que precisava que o meu pai me dissesse, tive de deixar espaço para que ele se exprimisse através de mim.
Há tanto acerca dele, a sua história, que nunca partilhou comigo, que me foi necessário evocar também grande parte disso.
Esta carta é a minha tentativa de dotar o meu pai com a von­tade e as palavras para atravessar a fronteira — e falar a lingua­gem — do pedido de desculpa, para que finalmente eu possa ser livre.