Um excerto de Desculpa, novo livro de Eve Ensler, a autora de Os Monólogos da Vagina
Nas livrarias a partir desta quinta-feira, o novo livro da autora da peça Os Monólogos da Vagina é um relato autobiográfico dos anos em que Eve Ensler, agora conhecida por V, foi abusada pelo pai. É editado em Portugal pela Minotauro, que pertence ao Grupo Almedina, e irá doar 1 euro à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) por cada exemplar vendido nos primeiros seis meses após a sua publicação.
Fartei-me de esperar. O meu pai morreu há muito, nunca me dirá as palavras. Não fará o pedido de desculpa. Esse pedido terá, portanto, de ser imaginado, pois é na nossa imaginação que podemos sonhar para lá das fronteiras, aprofundar a narrativa e conceber desfechos alternativos.
Esta carta é uma invocação, uma chamada. Tentei fazer com que o meu pai me falasse como ele faria. Não obstante ter sido eu a escrever as palavras que precisava que o meu pai me dissesse, tive de deixar espaço para que ele se exprimisse através de mim.
Há tanto acerca dele, a sua história, que nunca partilhou comigo, que me foi necessário evocar também grande parte disso.
Esta carta é a minha tentativa de dotar o meu pai com a vontade e as palavras para atravessar a fronteira — e falar a linguagem — do pedido de desculpa, para que finalmente eu possa ser livre.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Fartei-me de esperar. O meu pai morreu há muito, nunca me dirá as palavras. Não fará o pedido de desculpa. Esse pedido terá, portanto, de ser imaginado, pois é na nossa imaginação que podemos sonhar para lá das fronteiras, aprofundar a narrativa e conceber desfechos alternativos.
Esta carta é uma invocação, uma chamada. Tentei fazer com que o meu pai me falasse como ele faria. Não obstante ter sido eu a escrever as palavras que precisava que o meu pai me dissesse, tive de deixar espaço para que ele se exprimisse através de mim.
Há tanto acerca dele, a sua história, que nunca partilhou comigo, que me foi necessário evocar também grande parte disso.
Esta carta é a minha tentativa de dotar o meu pai com a vontade e as palavras para atravessar a fronteira — e falar a linguagem — do pedido de desculpa, para que finalmente eu possa ser livre.