Covid-19. Região norte tem índice de transmissão semelhante a Outubro. Lisboa e Vale do Tejo com mortalidade acima da média nacional
Grande parte da região norte tem uma incidência da doença inferior a 240 casos por cem mil habitantes e uma mortalidade abaixo da média nacional. Tal não se verifica em Lisboa e Vale do Tejo que tem zonas acima dos 960 casos por cem mil habitantes e uma mortalidade acima do resto do país.
Durante a reunião sobre a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal desta segunda-feira, que juntou políticos e especialistas na sede do Infarmed, em Lisboa, o especialista André Peralta Santos, da Direcção-Geral da Saúde (DGS), analisou os indicadores da covid-19 das duas maiores regiões do país, começando pela região norte: “Grande parte da região norte já tem uma incidência inferior a 240 casos por cem mil habitantes [o nível mais baixo].”
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Durante a reunião sobre a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal desta segunda-feira, que juntou políticos e especialistas na sede do Infarmed, em Lisboa, o especialista André Peralta Santos, da Direcção-Geral da Saúde (DGS), analisou os indicadores da covid-19 das duas maiores regiões do país, começando pela região norte: “Grande parte da região norte já tem uma incidência inferior a 240 casos por cem mil habitantes [o nível mais baixo].”
“Em termos de internamentos, há também uma consolidação desta tendência e já com valores aproximados aos de meados do mês de Novembro — em unidades de cuidados intensivos isso ainda não se verifica. Em relação à mortalidade, é também inferior à nacional”, avançou o especialista da DGS.
Já Lisboa e Vale do Tejo, que teve uma evolução em Janeiro mais expressiva, atingindo incidências altas, está agora com cerca de 480 casos por cem mil habitantes. “Há ainda algumas zonas de Setúbal e da região de Lisboa com incidências entre 480 e 960 casos por cada cem mil habitantes. Em termos de hospitalizações, há também uma descida, ainda que não tão expressiva naquilo que é o número de internados em cuidados intensivos. Em termos de mortalidade, está também superior ao nacional, como seria de esperar e fruto da maior intensidade da epidemia. [Esta região] tem ainda valores bastante altos de mortalidade por milhão de habitantes”, avançou Peralta Santos.
Apresentando os dados relativos à incidência da covid-19 a 14 dias por cada cem mil habitantes, Peralta Santos começou por mostrar o gráfico correspondente à última reunião, altura em que Portugal já estava “numa fase de descida, mas ainda com uma incidência muito alta”. “Houve uma consolidação dessa tendência e uma descida muito significativa e expressiva da incidência do número de novos casos. Estamos, ao dia 20, com uma incidência de 322 casos por cem mil habitantes”, disse.
André Peralta Santos avançou ainda que se mantém a tendência de descida da incidência da doença em todos os grupos etários. “O grupo com mais de 80 anos é neste momento o que tem uma maior incidência, apesar de tudo muito mais reduzida e com níveis de incidência ao nível do que tínhamos em Novembro, o que é de assinalar como positivo”, indicou o especialista da DGS.
Excesso de mortalidade entre Dezembro e Fevereiro
Na sua intervenção, Henrique de Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, afirmou que foi feita uma modelação da mortalidade por todas as causas em função de vários factores que estão descritos como potenciadores do risco de morte — desde a gripe, períodos de temperaturas extremas (calor e frio) e a epidemia de covid-19.
“Aquilo que os nossos modelos identificaram é que durante este período [semana 53 à semana 6] ocorreu um aumento de cerca de 8900 óbitos atribuíveis à covid-19. Comparando com o valor de óbitos actualmente notificado como causa por covid-19, verificamos que este valor está na mesma ordem de grandeza e dentro do intervalo de incerteza. No entanto, também estimamos que haja um excesso de mortalidade da ordem dos 2200 óbitos atribuíveis aos períodos de temperaturas extremas”, disse o especialista. “Em termos percentuais, o que podemos dizer é que do total de óbitos em excesso durante aquele período estima-se que cerca de 64% seja atribuível à epidemia de covid-19, cerca de 19% atribuível às temperaturas baixas — há 7% dos óbitos que não conseguimos encontrar factor que explique”.
O perito disse ainda que existiu alguma variação por grupo etário, nomeadamente no grupo dos 75 aos 84 (a fracção em que as mortes são mais atribuíveis à covid-19) e no grupo dos 45 aos 64 anos (faixas etárias em que a maior parte das mortes foram causados pelo frio).
Ao abrigo do estado de emergência, o Governo impôs um dever geral de recolhimento domiciliário e a suspensão de um conjunto de actividades a 15 de Janeiro. As escolas foram entretanto encerradas a 22 de Janeiro, primeiro com uma interrupção lectiva por duas semanas, e depois com o regresso das aulas à distância.
No dia em que foi decretado o actual estado de emergência, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que será preciso manter o confinamento geral “ainda durante o mês de Março” e que não era o momento “para começar a discutir desconfinamentos totais ou parciais”.
Já Marcelo Rebelo de Sousa apontou como meta até à Páscoa, no início de Abril, a redução do número de novos casos diários de infecção “para menos de dois mil”, de modo que “os internamentos e os cuidados intensivos desçam dos mais de cinco mil e mais de oitocentos agora para perto de um quarto desses valores”.
Portugal teve, desde a passada segunda-feira, uma média de 1744 novos casos de infecção e de 91 mortes por dia. Neste domingo, foram registados 549 casos de infecção, o número mais baixo desde 6 de Outubro. Segundo os últimos dados da DGS, existiam 3322 pessoas internadas, 627 destas nos cuidados intensivos.