Covid-19: crianças com asma não correm maior risco de contrair vírus SARS-CoV-2

Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde dizem que crianças com asma não são mais afectadas pela covid-19, mas continuam a transmitir a doença.

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A vacinação das crianças deverá ser “um passo crítico” no combate à pandemia, quer para sua própria protecção, quer para suportar a imunidade de grupo Teresa Pacheco Miranda

A asma parece não constituir um factor de risco para a covid-19 em crianças, mesmo nas que também são obesas, mas podem ser “vectores de transmissão” do vírus SARS-CoV-2, concluiu um estudo publicado nesta segunda-feira.

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A asma parece não constituir um factor de risco para a covid-19 em crianças, mesmo nas que também são obesas, mas podem ser “vectores de transmissão” do vírus SARS-CoV-2, concluiu um estudo publicado nesta segunda-feira.

“Estes dados, que resultam de uma revisão de artigos científicos publicados a nível mundial, permitem respirar de alívio. De facto, os estudos realizados até agora indicam que as crianças com asma, bem como as que sofrem de atopia (mais predispostas a alergias), não são mais afectadas pela covid-19”, sublinham os investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis).

José Laerte Boechat e Luís Delgado, investigadores do Cintesis e da FMUP, sublinham, contudo, que “nem tudo são boas notícias. Se é verdade que as crianças, com ou sem asma, não estão em maior risco e têm menos tendência a apresentar sintomas, também é verdade que continuam a transmitir o vírus, mesmo quando são assintomáticas”.

Segundo os investigadores, “este risco já está a fazer soar as campainhas em vários países, sobretudo quando se pondera o regresso às aulas presenciais”.

“O regresso às escolas levanta sérias preocupações, pois as crianças sem sintomas podem funcionar como vectores de disseminação da doença na escola e na família”, alertam os autores do estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health.

Embora o assunto seja controverso, estes especialistas defendem que a identificação de crianças assintomáticas deve ser parte da estratégia contra a covid-19, através de acções de rastreio, nomeadamente nos casos de surtos.

No que diz respeito às crianças com asma, consideram que o foco deve estar no controlo da doença, promoção da adesão à medicação e na estratificação do risco individual. “Só assim as crianças com asma poderão regressar às escolas de forma segura”, dizem. Já as crianças com asma grave ou com asma não controlada devem continuar a ser consideradas como um grupo de risco para o desenvolvimento de formas graves de covid-19.

Os investigadores afirmam ainda que a vacinação das crianças contra a SARS-CoV-2 deverá ser “um passo crítico” no combate à pandemia, quer para sua própria protecção, quer para suportar a imunidade de grupo.

Para já, referem, a maior parte das vacinas não incluiu crianças nos ensaios realizados.

A aparente protecção das crianças asmáticas contra o novo coronavírus acontece mesmo em crianças que são simultaneamente obesas, embora a obesidade seja considerada um factor de risco independente para a infecção nas diversas faixas etárias.

“Questiona-se se a asma será, por si só, um factor protector contra a covid-19. Existem algumas explicações possíveis para que assim seja, como a expressão reduzida de receptores para o vírus SARS-CoV-2, o papel protector dos eosinófilos (células do sistema imune implicadas na asma) presentes nas vias aéreas e as propriedades antivirais e imunomoduladoras da medicação inalada (corticóides)”, referem os investigadores.