Três anos de Rio: uma mão cheia de nada
É natural que uma parte do PSD, por estes dias, ande a sonhar com Passos Coelho: apesar de tudo, ficou à frente de Costa nas legislativas de 2015.
É verdade que Rui Rio tem o cargo mais difícil e mal-amado do país: o de líder da oposição. Nunca houve um líder da oposição “bom”, com a excepção de Cavaco Silva em 1985 e de José Sócrates 20 anos depois, em 2005.
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É verdade que Rui Rio tem o cargo mais difícil e mal-amado do país: o de líder da oposição. Nunca houve um líder da oposição “bom”, com a excepção de Cavaco Silva em 1985 e de José Sócrates 20 anos depois, em 2005.
Tiveram a seu favor, tanto Cavaco Silva como José Sócrates, a vantagem de terem estado no calvário muito pouco tempo. Quando chegou ao poder na Figueira da Foz, Cavaco fez cair o bloco central e rapidamente se apresentou a eleições. Sócrates beneficiou do facto de o Governo de Santana Lopes ter sido sumariamente despedido pelo Presidente Sampaio (a liderança do PS tinha ficado vaga escassos meses antes, quando Ferro Rodrigues se demitiu, furioso por Sampaio não ter convocado eleições depois da saída de Durão Barroso e ter dado posse a Santana).
Durão Barroso foi uma tragédia como líder da oposição, mas acabou primeiro-ministro. Teve sorte: Guterres, sem maioria absoluta, demitiu-se depois das famosas autárquicas de 2001 e o pântano favoreceu o PSD e Durão Barroso. Mas o desgaste e a desagregação do PS eram imensos por essa altura (aliás, é por isso mesmo que Guterres se demite).
É possível que aconteça algo inesperado que leve Rui Rio ao poder. O problema é que não parece que, salvo algo inesperado, isso esteja para ocorrer. Três anos depois de ter tomado posse como líder do PSD, não se percebe o que Rio quer para o país, tirando a ideia de que, não fosse Costa ter dito que se tivesse que contar com o PSD para aprovar orçamentos se demitia, ele estaria pronto.
É difícil encontrar no mundo o exemplo de um líder da oposição que aprova uma lei para se prejudicar: foi isso que fez Rio quando aceitou acabar com os debates quinzenais, o lugar onde podia confrontar o primeiro-ministro, porque achava – palavras suas – que o primeiro-ministro tinha que “trabalhar”.
É verdade que o sistema político português não é igual ao britânico, que dá um grande estatuto político ao líder da oposição (mas já sabemos que, se isso acontecesse, Rui Rio também ajudava a acabar com isso). Rio parece especialista em tiros no pé: podia ser um líder capaz de captar o eleitorado centrista, mas alienou esse capital quando admitiu acordos com o Chega, num enorme favor a Costa (e ao Chega).
O líder do PSD põe agora a cabeça a prémio nas autárquicas: se é certo que é difícil fazer pior que em 2017, não se percebe ainda como vai fazer muito melhor. É natural que uma parte do PSD, por estes dias, ande a sonhar com Passos Coelho: apesar de tudo, ficou à frente de Costa nas legislativas de 2015.