Líder do FMI alerta que 2021 pode ser o ano da “Grande Divergência”

Kristalina Georgieva diz que, depois do Grande Confinamento de 2020, a pandemia afasta muitos países da convergência.

Foto
Reuters/MIKE THEILER

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou hoje para a possibilidade de se desenvolver uma “Grande Divergência” em 2021, depois do “Grande Confinamento” de 2020, inclusive na União Europeia (UE).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou hoje para a possibilidade de se desenvolver uma “Grande Divergência” em 2021, depois do “Grande Confinamento” de 2020, inclusive na União Europeia (UE).

Num discurso no âmbito da Semana Parlamentar Europeia, co-organizada pelo Parlamento Europeu e pela Assembleia da República, no quadro da dimensão parlamentar da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), Kristalina Georgieva admitiu que a sua “maior preocupação” para 2021 é que “o ‘Grande Confinamento’ de 2020 se transforme numa ‘Grande Divergência’ em 2021”.

“A divergência é mais profunda no mundo em desenvolvimento, onde metade dos países que, normalmente, costumava acelerar os níveis de rendimentos, para os níveis dos seus pares mais ricos, está agora a ficar para trás. Mas é um risco também para a UE”, disse a responsável búlgara no discurso realizado a partir de Washington, por videoconferência.

Apesar de o FMI estar a prever uma recuperação económica mundial de 5,5% e de 4,2% para a União Europeia, “o caminho para a recuperação é altamente incerto e, mais importante, desequilibrado”, afirmou Kristalina Georgieva.

“É incerto por causa da actual corrida entre o vírus e as vacinas. Desequilibrado por causa da diferença das posições de partida, estruturas económicas e capacidade de responder  – causando um crescimento de desigualdades tanto entre como dentro dos países”, afirmou a economista responsável pelo FMI.

A directora-geral salientou que, por exemplo, “os tradicionais destinos turísticos experimentaram contracções muito mais agudas – mais de 9% em Espanha, Grécia e Itália – comparando com uma contracção média de 6,4% na UE”.

Além disso, o FMI aponta para que no final de 2022 “o rendimento per capita dos mercados emergentes da Europa Central e da Europa de Leste estará 3,8% abaixo das projecções pré-crise, comparado com uma queda de 1,3% das economias avançadas da UE – um impacto negativo quase três vezes maior, que abrandará o ritmo de convergência”, assinalou Georgieva.

Dentro dos países, a directora-geral do FMI também observa “aumentos de divergência”, com “as regiões com PIB [Produto Interno Bruto] mais baixo a entrarem na crise com menor produtividade, maiores sectores de grande contacto, e menos empregos que permitem o trabalho remoto”, com impacto em milhões de pessoas, “com as mulheres e os jovens a sofrerem mais, especialmente aqueles com menores rendimentos e poupanças”.

Assim, a responsável da instituição sediada em Washington elencou três questões fundamentais que os decisores políticos enfrentam: a crise de saúde, a crise económica e mudanças estruturais para a digitalização e ecologia.

“Até derrotarmos a pandemia em todo o lado, arriscamos novas mutações que ameaçam o nosso progresso”, disse Kristalina Georgieva sobre a saúde, pelo que “aumentar a produção e a distribuição de vacinas é crítico”.

Sobre a crise económica, a responsável  – que já tinha saudado no discurso a resposta das instituições europeias, em particular do Banco Central Europeu (BCE) – disse que o apoio a famílias e empresas deve continuar “até à pandemia estar derrotada”.

“Uma retirada gradual deve seguir-se, e não preceder, uma saída duradoura da crise de saúde”, algo que “interessa internamente” aos países mas também “em termos de contágios”, já que uma retirada antes do tempo “poderia exacerbar a divergência entre países”.

Sobre a digitalização e ecologia, Georgieva afirmou que é necessário “um ‘empurrão’ coordenado de investimento em infra-estruturas ‘verdes'”, com o FMI a apontar para um aumento anual do PIB mundial de 0,7% durante 15 anos.

A responsável sugeriu ainda a taxação das emissões de dióxido de carbono, a melhoria ao “acesso a internet de alta velocidade nas zonas rurais e subdesenvolvidas”, o investimento na educação e formação profissional, e ainda abordou a conclusão da união bancária e de mercados de capitais na UE e a taxação das empresas “adequada à era digital”, para cortar desigualdades.