Os sete casos da variante do Brasil em Portugal são da mesma cadeia de transmissão
Confinamento rígido travou crescimento exponencial da variante do Reino Unido, mas “quando desconfinarmos ela não vai desaparecer”, avisou investigador do Insa na reunião do Infarmed. Estima-se que agora represente 48% dos casos em Portugal.
Este domingo, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) anunciou que foram confirmados em Portugal sete casos associados à variante primeiramente identificada no Brasil, também conhecida como “variante de Manaus”, a 501Y.V3 (P.1). Na reunião no Infarmed desta segunda-feira, João Paulo Gomes, investigador do Insa, disse que estes são “casos recentes” e que estamos apenas perante uma introdução, ou seja, de “dois clusters familiares ligados entre si” numa mesma cadeia de transmissão. “Isto é uma boa notícia. Se fossem sete casos independentes poderíamos falar de sete cadeias activas diferentes.” Os casos identificados têm uma história de viagem recente ao Brasil.
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Este domingo, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) anunciou que foram confirmados em Portugal sete casos associados à variante primeiramente identificada no Brasil, também conhecida como “variante de Manaus”, a 501Y.V3 (P.1). Na reunião no Infarmed desta segunda-feira, João Paulo Gomes, investigador do Insa, disse que estes são “casos recentes” e que estamos apenas perante uma introdução, ou seja, de “dois clusters familiares ligados entre si” numa mesma cadeia de transmissão. “Isto é uma boa notícia. Se fossem sete casos independentes poderíamos falar de sete cadeias activas diferentes.” Os casos identificados têm uma história de viagem recente ao Brasil.
Estes foram os primeiros casos identificados em Portugal, através da sequenciação genómica, e tinham sido sinalizados como suspeitos pelos laboratórios UniLabs e Synlab. Os casos foram reportados às autoridades de saúde.
“Os casos identificados em Portugal associados à variante genética do Brasil têm história de viagem recente ao Brasil”, de acordo com a resposta da Direcção-Geral da Saúde enviada ao PÚBLICO esta terça-feira. Foram identificados a 10 de Fevereiro, após a chegada a Portugal, “atempadamente isolados, e os contactos rastreados e colocados em isolamento profiláctico pelas autoridades de saúde de nível regional e local, no âmbito das suas competências de vigilância epidemiológica”.
Quanto à variante inicialmente identificada no Reino Unido (a linhagem B.1.1.7), é possível saber a sua prevalência através de uma colaboração que o Insa tem com o Unilabs. Através de um teste de diagnóstico específico, é possível determinar a falha na detecção de um certo gene e perceber se se está perante essa variante. Tendo em conta a casuística deste laboratório no número de testes totais em Portugal, estima-se que desde 1 de Dezembro houve no país cerca 150 mil casos de covid-19 causados pela variante do Reino Unido, indicou João Paulo Gomes.
Se agora se calcula que esta variante represente 48% dos casos no país, na terceira semana do ano, fez-se uma projecção para se perceber qual seria a sua representação nas três semanas seguintes. “Nessa projecção, que terminava no outro domingo [14 de Fevereiro], esperávamos que 65% dos casos fossem causados por essa variante”, disse o investigador. “Tal não aconteceu graças ao confinamento rígido que estamos a viver. Houve um desvio na projecção.” Referiu ainda que esta semana – estando nos 48% - e “não tem mostrado uma tendência crescente”, mas que na segunda semana do ano era de cerca de 80% e na terceira de 85%. Já nas últimas duas semanas tem oscilado entre os 4 e os 10%.
“Seria expectável, diz a comunidade científica, que apesar das medidas de confinamento, uma variante mais transmissível deveria continuar a aumentar a sua proporção relativa quando comparada com as outras variantes”, lançou João Paulo Gomes. Afinal, com o confinamento, o distanciamento social e o uso de máscara, esperava-se que apenas se transmitisse o que “tem um elevado poder de transmissibilidade” (como é o caso da variante do Reino Unido). Mas o esperado – o crescimento exponencial – não se confirmou e observou-se um plateau.
O que terá então acontecido? “O que pode ter acontecido é que conseguimos bloquear todas as transmissões para além da transmissão primária”, indicou o investigador. “Bloqueando todos os processos de transmissão secundária, para além da transmissão inicial, uma variante mais transmissível terá perdido essa vantagem quando comparada com as outras.” Mesmo assim, salientou que isto apenas “é valido com um confinamento muito rígido como o que estamos a viver actualmente e que isso pode explicar o plateau em termos de evolução dessa variante”.
Mas deixou ainda um aviso: “Quando desconfinarmos, esta variante não vai desaparecer, continua a ser mais transmissível e não perde as suas características”, ressalvou. “É normal que possamos assistir a um novo crescimento exponencial desta variante.” Por isso, indicou que “há que estabelecer um desequilíbrio no processo de desconfinamento que vai permitir às variantes mais transmissíveis voltarem a ter o seu caminho exponencial e a imunidade de grupo tão desejada”.
Quanto à variante da África do Sul (a linhagem B.1.351), até ao momento só foram detectados quatro casos em Portugal.
Modificação de estratégia
João Paulo Gomes anunciou ainda que haverá uma modificação da estratégia na detecção de casos associados às variantes mais preocupantes, nomeadamente a da África do Sul, do Brasil, do Reino Unido ou outras que poderão vir a ter relevância clínica e epidemiológica nos próximos tempos. Pretende-se assim fazer um pré-rastreio para identificar os casos suspeitos dessas variantes. Assim, passará a existir um envio semanal de casos positivos dos laboratórios para o Insa. Depois, serão rastreados no instituto com testes de diagnóstico específicos para detectar mutações de interesse que apontem para casos suspeitos dessas variantes. Por fim, a confirmação far-se-á através da sequenciação genómica.
“Esse rastreio passará a ser semanal e não mensal e a sequenciação dos casos suspeitos passará [também] a ser semanal e não mensal, o que passará a ter uma acção em termos de saúde pública muito mais atempada”, explicou João Paulo Gomes. Espera-se que já esteja “perfeitamente” posta em prática em Março.