Covid-19: Governo diz que vacinas não podem chegar a todos em simultâneo. Bombeiros e polícia contra alterações na prioridade
“Não existe qualquer alteração ao estabelecido”, assegura task force para a vacinação contra a covid. Prioridades mantém-se, mas 90% das vacinas disponíveis destinam-se a doentes crónicos e pessoas com mais de 80 anos e 10% para os sectores da saúde e serviços essenciais do Estado.
A task force para a vacinação contra a covid garantiu, esta sexta-feira, que “não existe qualquer alteração ao estabelecido no plano em vigor”. Em comunicado, lembrou que para esta fase estabeleceram dois grupos prioritários “em função” dos objectivos de “salvar vidas” e “conferir resiliência à resposta do Estado”. Ou seja, as prioridades mantêm-se, mas 90% das vacinas disponíveis destinam-se a doentes crónicos e pessoas com mais de 80 anos e 10% para os sectores da saúde e serviços essenciais do Estado.
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A task force para a vacinação contra a covid garantiu, esta sexta-feira, que “não existe qualquer alteração ao estabelecido no plano em vigor”. Em comunicado, lembrou que para esta fase estabeleceram dois grupos prioritários “em função” dos objectivos de “salvar vidas” e “conferir resiliência à resposta do Estado”. Ou seja, as prioridades mantêm-se, mas 90% das vacinas disponíveis destinam-se a doentes crónicos e pessoas com mais de 80 anos e 10% para os sectores da saúde e serviços essenciais do Estado.
No caso de “salvar vidas”, o objectivo cumpre-se dando prioridade aos “cidadãos mais vulneráveis em contexto de pandemia, com idade superior a 50 anos e morbilidades associadas e com idade superior a 80 anos. Quanto ao “conferir resiliência à resposta do Estado”, faz-se “começando pelo sector da saúde e progressivamente alargando a outros sectores críticos e essenciais (nomeadamente Forças Armadas, Forças de Segurança e Bombeiros)”.
“Atentas as actuais limitações conhecidas na disponibilidade global de vacinas, a administração das mesmas a estes dois grupos tem sido efectuada à razão de 90% das vacinas disponíveis para cidadãos do primeiro grupo ('salvar vidas') e 10% para o segundo grupo ('resiliência do Estado em período de pandemia')”, lê-se ainda na nota da task force.
O comunicado surge após uma notícia do jornal Expresso. Segundo a publicação, que cita declarações do novo coordenador da task force, Henrique Gouveia e Melo, a escassez de vacinas levou à alteração do plano inicial da vacinação, retardando a vacinação às Forças Armadas e forças de segurança, bombeiros, elementos de órgãos de soberania, como tribunais e o Parlamento, e mesmo médicos que não estejam na linha da frente. Henrique Gouveia e Melo adiantou ao jornal que 90% das vacinas disponíveis destinam-se agora a “salvar vidas” e apenas 10% a “ir reforçando a resiliência do Estado em período de pandemia”.
O secretário de Estado Adjunto e da Saúde disse, esta sexta-feira, que o processo de vacinação contra a covid-19 não pode chegar a todos ao mesmo tempo e que existem prioridades que devem ser consistentes. “O plano de vacinação deve ser reajustável e redefinido em função da própria evolução epidemiológica e do nosso conhecimento e aprendizagem”, referiu António Lacerda Sales, depois de questionado sobre alterações ao plano.
À margem da cerimónia de entrega de viaturas da Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra a seis municípios, Lacerda Sales afirmou que a grande prioridade “é defender as faixas mais vulneráveis, que são as mais idosas e a partir dos 50 anos com comorbilidades”. No entanto, “isso não significa que serviços essenciais [forças de segurança e bombeiros] não sejam também vacinados e muitos já o foram nesta fase”.
“É preciso perceber que este processo de vacinação não pode acorrer a todos ao mesmo tempo e que ocorre em linhagens paralelas, em que ao mesmo tempo que vacinamos pessoas com mais de 80 anos e de 50 anos com comorbilidades e serviços essenciais, pois ainda continuamos a vacinar profissionais de saúde”, sublinhou.
O secretário de Estado Adjunto e da Saúde frisou que a vacinação “vai-se fazendo em linhagens paralelas e, portanto, não há ultrapassagens de ninguém à frente de ninguém”. “O que há são prioridades que devem ser consistentes, e situações que devem ser redefinidas em função das aprendizagens que vamos fazendo ao longo deste tempo e é isso que estamos a fazer”, reiterou.
Segundo o Ministério da Administração Interna (MAI), já receberam a primeira dose da vacina contra a covid mais de 18 mil bombeiros e elementos das forças de segurança. Em comunicado, o ministério liderado por Eduardo Cabrita refere que dos 15 mil bombeiros seleccionados para esta fase, e cuja inoculação começou no dia 11, “foram já vacinados 11.061”. “A ordem de vacinação destes bombeiros foi definida pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil com base em critérios operacionais e abrange o universo de voluntários, sapadores e municipais”, esclareceu.
Quanto aos elementos das forças de segurança - 10 mil da Guarda Nacional Republicana (GNR) e 10 mil da Polícia de Segurança Pública (PSP) –, a vacinação teve início no dia 13 e vai prolongar-se por quatro semanas. “Até ao final do dia de ontem [quinta-feira], já tinham sido vacinados 3418 elementos da GNR e 3638 elementos da PSP”, disse o MAI, acrescentando que o planeamento “foi elaborado de forma articulada entre a GNR e a PSP” e coordenado pelo próprio ministério.
“A ordem dos elementos a vacinar foi definida pela GNR e pela PSP, com base em critérios operacionais – priorizando militares e agentes na linha da frente e mais expostos aos riscos do Coronavírus – e também critérios de saúde – com prioridade a elementos que sofrem das comorbilidades/patologias listadas pela Direcção Geral de Saúde”, disse ainda.
Bombeiros dizem que não há mudanças
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, disse esta sexta-feira estar “surpreendido” por não ter sido avisado de que a vacinação destes profissionais deixou de liderar as prioridades do plano e exigiu esclarecimentos. Após contacto com o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, o dirigente dos bombeiros revelou que, afinal, não existirá qualquer alteração à vacinação dos bombeiros.
“Contactei o coordenador da task force que garantiu, e eu acredito na palavra dele, que não há qualquer alteração em relação aos 15 mil bombeiros previstos para a vacinação nesta primeira fase”, disse à Lusa Jaime Marte Soares.
Segundo o presidente da LBP, nesta primeira fase está prevista a vacinação de 15 mil bombeiros, 50% do efectivo global, tendo sido até ao momento vacinados cerca de 12 mil. Sobre a vacinação do restante efectivo, Jaime Marta Soares afirmou que, a partir da próxima semana, terá início a discussão sobre a forma como vai ser feita essa segunda fase. O presidente da LBP disse ter ficado “surpreendido” e “preocupado” com a notícia sobre a vacinação, da qual teve conhecimento através da comunicação social.
“Admitimos que possa haver falta de vacinas, mas já não admitimos a falta de sentido ético e de lealdade de trato que merecem os bombeiros portugueses para que se alguma alteração houver, se está a ser feito algum reajustamento devíamos ter sido atempadamente avisados e respeitosamente tratados à dimensão do sentido ético que usamos com todos”, disse Marta Soares.
“Vamos ter de admitir que se não há vacinas em Portugal, não há milagres que as façam aumentar. Claro que é uma insuficiência de planeamento e de logística que não fica bem a Portugal, mas admitimos que possa haver falhas no processo, na quantidade de vacinas necessária. Agora já não aceito em circunstância alguma é que não haja uma palavra a quem de direito e, neste caso, legítimo representante dos bombeiros de que esta situação poderia acontecer”, sublinhou.
Jaime Marta Soares lembrou os meses que os bombeiros tiveram de esperar para serem vacinados. “Todos nós sabemos que não chegam doentes aos hospitais (...) se não forem transportados pelos bombeiros. Todos sabemos que 95% do transporte do INEM é realizado pelos bombeiros. É uma missão de alto risco, que nós fomos cumprindo e sempre estivemos na primeira linha para chegar a todos os pontos do país”, disse.
SINAPOL repudia alterações
O Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) mostrou também “repúdio” e “desagrado” face a mudanças ao plano de vacinação. “Perante isto, o SINAPOL irá ponderar seriamente apresentar competente providência cautelar, no sentido de suspender a decisão arbitrária, e sem sentido, agora tomada de afastar os profissionais da PSP do grupo de profissionais prioritários”, escreve o sindicato em comunicado.
A nota termina com o SINAPOL a mostrar-se expectante com uma tomada de posição pública da Direcção Nacional da PSP.
A vacinação contra a covid-19 em Portugal começou em 27 de Dezembro, abrangendo primeiro profissionais de saúde envolvidos na resposta a esta doença, e estendendo-se depois a profissionais e residentes em lares de idosos e unidades de cuidados continuados.
A primeira fase do plano de vacinação inclui também profissionais das Forças Armadas, forças de segurança e serviços considerados críticos. O programa de vacinação dos bombeiros arrancou em 11 de Fevereiro ano Centro de Saúde da Damaia, na Amadora, no distrito de Lisboa.