“Who are we, Americans?”, pergunta(-nos) Ken Burns
Numa entrevista para a TV brasileira a propósito da série Jazz (2001), Ken Burns, documentarista americano que tem auscultado os mitos fundadores do seu país (e exemplo de como é possível ser-se simultaneamente patriota e um desassombrado crítico do país que se ama, algo a roçar o alienígena para uma claque bem-pensante dos nossos dias), é questionado sobre as críticas menos boas recebidas: que prestaria excessiva atenção ao swing em detrimento da cena avant-garde e free; que se foca em determinadas figuras em vez de outras tão ou mais importantes (esquecem-se de que a “importância” se mede pelo método pressuposto na sua própria avaliação: subjectivamente), que o título da série deveria afinal ser algo como “Os primeiros 50 anos do jazz”, etc... A resposta de Burns é exemplar: as críticas são boas, entende-as, mas teve de fazer opções no âmbito de um trabalho mastodôntico. Se a série estreasse hoje, podemos imaginar as críticas que se esgadanhariam, um crivo que se centraria exclusivamente naquilo que estava “em falta” (ou, mais exactamente, nas, como agora se usa e abusa de dizer, “subjectividades” não atendidas) e nunca no que está presente. Replicado ad nauseam pelas redes sociais, esse tipo de apreciações, míope e ignorante, promoveria o que hoje é mato: o desvio do essencial, o pensamento crítico e analítico sobre arte (por exemplo, o modo como Burns vivifica fotografias antigas, filmando-as como se de verdadeira mise-en-scène se tratasse: travellings, panorâmicas, planos americanos, close) trocado pelo juízo sumário e respectiva condenação.
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Numa entrevista para a TV brasileira a propósito da série Jazz (2001), Ken Burns, documentarista americano que tem auscultado os mitos fundadores do seu país (e exemplo de como é possível ser-se simultaneamente patriota e um desassombrado crítico do país que se ama, algo a roçar o alienígena para uma claque bem-pensante dos nossos dias), é questionado sobre as críticas menos boas recebidas: que prestaria excessiva atenção ao swing em detrimento da cena avant-garde e free; que se foca em determinadas figuras em vez de outras tão ou mais importantes (esquecem-se de que a “importância” se mede pelo método pressuposto na sua própria avaliação: subjectivamente), que o título da série deveria afinal ser algo como “Os primeiros 50 anos do jazz”, etc... A resposta de Burns é exemplar: as críticas são boas, entende-as, mas teve de fazer opções no âmbito de um trabalho mastodôntico. Se a série estreasse hoje, podemos imaginar as críticas que se esgadanhariam, um crivo que se centraria exclusivamente naquilo que estava “em falta” (ou, mais exactamente, nas, como agora se usa e abusa de dizer, “subjectividades” não atendidas) e nunca no que está presente. Replicado ad nauseam pelas redes sociais, esse tipo de apreciações, míope e ignorante, promoveria o que hoje é mato: o desvio do essencial, o pensamento crítico e analítico sobre arte (por exemplo, o modo como Burns vivifica fotografias antigas, filmando-as como se de verdadeira mise-en-scène se tratasse: travellings, panorâmicas, planos americanos, close) trocado pelo juízo sumário e respectiva condenação.