Têxteis sustentáveis portugueses na maior feira europeia, mas só no digital
Tanto Carlos Serra, da Troficolor, como Elsa Parente, da RDD, não acreditam que a Première Vision tenha o mesmo impacto de anos anteriores, já que “o têxtil é um produto altamente sensorial”.
Já é sabido que os têxteis portugueses são conhecidos por todo o mundo pela sua qualidade e inovação. Até esta sexta-feira, 19 de Fevereiro, acontece mais edição da Première Vision Paris — a maior feira têxtil europeia. São 26 empresas a apresentar o que de melhor se faz na indústria têxtil portuguesa, num encontro exclusivamente digital. Carlos Serra, da Troficolor, e Elsa Parente, da RDD, acreditam que a edição deste ano do certame não terá o mesmo impacto, já que “o toque dos tecidos” e o “contacto com os clientes” é fulcral.
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Já é sabido que os têxteis portugueses são conhecidos por todo o mundo pela sua qualidade e inovação. Até esta sexta-feira, 19 de Fevereiro, acontece mais edição da Première Vision Paris — a maior feira têxtil europeia. São 26 empresas a apresentar o que de melhor se faz na indústria têxtil portuguesa, num encontro exclusivamente digital. Carlos Serra, da Troficolor, e Elsa Parente, da RDD, acreditam que a edição deste ano do certame não terá o mesmo impacto, já que “o toque dos tecidos” e o “contacto com os clientes” é fulcral.
A Troficolor e a RDD são duas das empresas que compõem o showcase sustentável iTechStyle Green Circle, com exemplos de artigos sustentáveis produzidos em Portugal, promovido pelo CITEVE e pela Associação Seletiva Moda. Na galeria virtual vão ser apresentados materiais baseados em fibras recicladas e recicláveis ou fibras orgânicas, naturais e renováveis, tingidas sem recurso a químicos.
As fibras tingidas sem recurso a químicos são precisamente uma das inovações que a Troficolor tem apostado nos últimos anos. A empresa, sediada em Lousado, Famalicão, é especializada em gangas — um têxtil, por natureza, pouco sustentável. Para reduzir o impacto ambiental deste tipo de tecido, usam um algodão orgânico, “criado sem recurso a químicos”, explica Carlos Serra, além de recorrerem também a algodão e poliéster reciclados.
O processo produtivo destes tecidos denim também tem vindo a sofrer alterações ao longo dos anos, de forma a ser “mais amigo do ambiente”, esclarece o director-geral da Troficolor — nomeadamente na “redução significativa do consumo de água utilizada, através da eliminação de algumas fases de lavagem, bem como da utilização de máquinas com uma relação de banhos mais curta”.
O processo de tingir a ganga também foi alterado de forma a ser mais sustentável, nomeadamente evitando o recurso a agentes químicos, com corantes naturais de origem vegetal e mineral, à base de argila. Estes têxteis são, ainda, ready to wear, continua Carlos Serra, ou seja, não há necessidade de processos de lavagem adicionais após a peça estar confeccionada.
Algodão reciclado e orgânico
A sustentabilidade é também um dos pilares da RDD, cujos têxteis foram destacados pela Première Vision, como tendência para a estação, “quer pela sua qualidade estética e sensorial, quer pela sua qualidade ecológica”, assinala Elsa Parente, CEO da empresa sediada em São Martinho de Vila Frescainha, Barcelos.
Para a próxima estação a grande aposta é um novo modelo de negócio circular, a gama Valérius 360, que se foca em algodões reciclados e orgânicos, além da incorporação de novas fibras naturais, como o cânhamo, a soja e o lyocell bamboo. As novas tecnologias são incorporadas nas malhas em fios space-dyed, com padrões inspirados em paisagens desfocadas, malhas em tonalidades de brancos, malhas translúcidas — tudo pensado “para looks casuais e sem género”, propõe Elsa Parente.
O conceito de circularidade é aplicado em todos os materiais da RDD. A dirigente explica que calculam o LCA (avaliação do ciclo de vida) dos “principais produtos e processos”, de forma “a medir a pegada de carbono, pegada hídrica e consumo de energia”. Além da circularidade, a reciclagem têxtil Valerius 360, através de reciclagem mecânica, é outra das estratégias para combater o desperdício. Durante o corte e confecção, os têxteis que vão restando são transformados em fio e posteriormente usados em malhas.
Mas nem tudo o que envolve fazer tecidos sustentáveis é um mar de rosas, contrapõe a empresária da RDD. “Apesar de os clientes e consumidores já estarem mais sensibilizados para comprar menos e de uma maneira mais responsável”, o preço continua a constituir um desafio. O próprio processo de desenvolver “produtos de moda”, que acompanhem as tendências, mas cumpram os requisitos de sustentabilidade, também não é fácil, reconhece Elsa Parente.
“O têxtil é um produto altamente sensorial”
Para empresas com a Troficolor e a RDD, a presença em feiras internacionais é fundamental para dar visibilidade e expandir comercialmente. Ainda que a Internet tenha aproximado e estreitado relações comerciais, as feiras continuam a ser passagem obrigatória para grande parte das marcas internacionais.
São essas que representam grande parte dos clientes da indústria têxtil portuguesa. A Troficolor exporta maioritariamente para clientes europeus de França, Itália, Inglaterra, Espanha, Bélgica, mas também para o Japão e Estados Unidos. Já a RDD tem os seus principais clientes no Reino Unido, Itália, Suécia e Alemanha.
Tanto Carlos Serra como Elsa Parente não acreditam que a Première Vision tenha o mesmo impacto de anos anteriores. “O têxtil é um produto altamente sensorial e não há fotografia ou vídeo que possa transmitir o toque de um material têxtil”, defende a CEO da RDD. Esse toque nos tecidos é fundamental “para os clientes projectarem a sua criatividade”, assinala, por sua vez, Carlos Serra. O director-geral da Troficolor acredita que o contacto pessoal com os clientes é crucial nas relações comerciais e facilita a confiança.
A nova realidade é um desafio para a indústria têxtil, mas representa, por outro lado, também uma oportunidade para desenvolver novas valências, conclui Carlos Serra, como “a criatividade e originalidade necessárias para uma boa apresentação do produto”.
A indústria portuguesa faz-se representar em peso na edição deste ano da Première Vision, com uma vasta comitiva de empresas: Sampaio & Filhos – Têxteis, Acatel, Adalberto Estampados, Albano Morgado, Burel Factory, Crispim Abreu, Familitex, Filasa, Fitecom, JFA, Joaps – Malhas, La Estampa, Lemar, LMA, Luís Azevedo & Filhos, Lurdes Sampaio, NGS Malhas, RDD, Siena, Somelos Tecidos, Texser - Textil de Serzedelo, Tintex Textiles, TMG Textiles, Trimalhas, Troficolor Denim Makers e Vilartex.