Do Tinder à Bumble: quem é Whitney Wolfe Herd, que se tornou multimilionária aos 31 anos?
No mundo das start-ups, onde o sucesso de uma mulher ainda é raro, Whitney Wolfe Herd, fundadora da Bumble, elevou o seu nome para o topo da lista. E com uma aplicação vocacionada para o público feminino, em que muitos não acreditaram. Para trás, ficou uma época “desconcertante e triste” no Tinder, marcado por um processo de assédio sexual.
Por estes dias, o nome Whitney Wolfe Herd está em todo o lado. Percebe-se. Em 2014, criou a aplicação Bumble, um serviço criado “por mulheres, para mulheres”, onde estas dão o primeiro passo para iniciar conversações, tanto no amor, como nos negócios. Agora, em 2021, com apenas 31 anos, tornou-se multimilionária.
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Por estes dias, o nome Whitney Wolfe Herd está em todo o lado. Percebe-se. Em 2014, criou a aplicação Bumble, um serviço criado “por mulheres, para mulheres”, onde estas dão o primeiro passo para iniciar conversações, tanto no amor, como nos negócios. Agora, em 2021, com apenas 31 anos, tornou-se multimilionária.
Na quinta-feira, 11 de Fevereiro, a Bumble estreou-se em bolsa e as acções chegaram aos 76 dólares (cerca de 63 euros), um montante bastante acima dos 43 dólares com que a empresa fechou a oferta pública de subscrição. Segundo a Forbes, Wolfe Herd terá visto a sua participação de 12% da empresa passar a valer 1,6 mil milhões de dólares (cerca de 1,3 mil milhões de euros). E não só se tornou na mais jovem multimilionária self made, como também a mulher mais jovem a tornar uma empresa pública nos EUA.
“Para qualquer pessoa que passe por um contratempo, ponto baixo ou um período difícil. A qualquer pessoa que se sinta desprovida de poder nas suas relações — ou que tenha tido a coragem de dar o primeiro passo em direcção a relações mais saudáveis. O dia de hoje é para si”, escreveu a jovem no Instagram, em jeito de conclusão. “Este é o dia em que eu recupero a minha própria narrativa”, disse, ao Business Insider.
Para Herd tudo começa em 2012, quando a jovem natural do Utah se tornou co-fundadora da aplicação rival da Bumble – o Tinder. Dois anos depois, em 2014, decide deixar a empresa, depois de apresentar uma acção judicial contra o Tinder, alegando “assédio sexual atroz e discriminação sexual”, refere a Vogue. O processo alegava um padrão comportamental “ameaçador e abusivo” do seu ex-namorado e ex-chefe Justin Mateen. A empresa negou qualquer acto ilícito, e o caso foi posteriormente resolvido fora do tribunal.
Uma vez questionada acerca do assunto, em entrevista ao The Guardian, Herd revelou que a reacção online ao processo que apresentou contra o Tinder marcou uma época “desconcertante e triste.” “Estás a ler sobre ti própria, mas sentes que estás a ler sobre um estranho horrível”, revelou.
Depois de deixar o cargo de co-fundadora e vice-presidente de marketing na, agora, aplicação rival de encontros, começou a procurar novas oportunidades e os comentários abusivos que tinha recebido online desencadearam uma ideia. “Fez-me pensar no que foi dito na Internet, e como os comentários gratuitos nestas plataformas, que são construídas para permitir que as pessoas se expressem, podem ter uma implicação negativa”, contou ao jornal britânico.
A empreendedora pensou como seria para os adolescentes actuais, numa realidade muito dependente da socialização em torno da Internet, receber comentários tão agressivos. “Seria aterrador”, concluiu. “O que eu vi como solução imediata era esta rede social exclusivamente feminina que estava lá para as mulheres, para se construírem umas às outras.” Muitas pessoas, diz, disseram-lhe que “nunca iria funcionar, que é contra a natureza, as mulheres não dão o primeiro passo, é contra-intuitivo para tudo”. Wolfe argumentou que foi precisamente por essa razão que a Bumble “funcionou.”
Para a Forbes, o regresso de Herd demarcou, dessa forma, “uma estratégia espantosa.” Uma das grandes histórias de sucesso empresarial da era digital, uma vez que a Bumble rapidamente conseguiu um espaço lucrativo concentrando-se num público-alvo específico: as mulheres.
“Esta é uma enorme vitória”, disse Allyson Kapin, sócia da empresa de investimento W Fund e fundadora da rede Women Who Tech, à Bloomberg. “Whitney viu uma oportunidade que não estava a ser explorada para as mulheres e, com o seu conhecimento, conseguiu chegar a esta mina de ouro, não só para ela e para a sua equipa, mas também para os seus investidores.”
Wolfe Herd contou com o apoio do multimilionário russo Andrey Andreev, fundador do site de encontros online Badoo, para fundar a Bumble. Andreev confessou à Forbes ter-se apaixonado imediatamente “pela paixão e energia” de Herd, acrescentando que se sentiu “muito confortável” ao passar-lhe o testemunho. Actualmente, as aplicações Bumble e Badoo operam em 150 países com 42 milhões de utilizadores mensais activos.
Contando com 70 empregados, dos quais aproximadamente 85% são mulheres, que chefiam inclusivamente todos os cargos de topo, a empresa, que segue mantras como “You're a Queen Bee”, “Be the CEO Your Parents Always Wanted You to Marry” e “Make the First Move”, tem demonstrado um punho firme em relação a comentários sexistas, chegando mesmo a banir um utilizador depois de este ter enviado uma série de mensagens sugerindo que uma mulher estava apenas interessada no seu dinheiro. Publicou, inclusivamente, uma carta aberta ao utilizador no seu blogue: “Vamos continuar a construir um mundo que faz com que rapazes de mente pequena e misóginos como vocês estejam desactualizados”, refere.
Mas isso não significa que desconsidere o sexo oposto - afinal, a sua app não funciona sem homens e considera Andrey Andreev o seu mentor. Ao Guardian, a CEO resumiu confessou um estado de alma: “Estou tão cansada desta noção de que as mulheres só precisam de apoiar as mulheres, porque não podemos todos apoiar-nos uns aos outros?”.
Texto editado por Amanda Ribeiro