Já chegaram as primeiras vacinas à Faixa de Gaza
Israel aprovou a passagem das primeiras doses que vão servir para vacinar mil pessoas. Na segunda-feira, as vacinas não passaram por falta de autorização, dizem responsáveis palestinianos.
A Faixa de Gaza recebeu esta quarta-feira as primeiras vacinas contra a covid-19, um lote de duas mil vacinas Sputnik V de um total de 10 mil doses enviadas por Moscovo para Ramallah, na Cisjordânia.
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A Faixa de Gaza recebeu esta quarta-feira as primeiras vacinas contra a covid-19, um lote de duas mil vacinas Sputnik V de um total de 10 mil doses enviadas por Moscovo para Ramallah, na Cisjordânia.
As vacinas vão ser dadas a doentes crónicos com mais riscos de desenvolver complicações caso sejam infectados pelo vírus que provoca a covid-19, como pessoas com transplantes e a fazer hemodiálise. As pessoas a trabalhar nos hospitais “não vão ser vacinadas agora, porque não há vacinas suficientes”, disse Majdi Dhair, do Ministério da Saúde, à Reuters.
Na Faixa de Gaza, onde vivem dois milhões de pessoas com raras possibilidades de saída do pequeno território, registaram-se mais de 53 mil casos de infecção e 538 mortes de covid-19, entre os 169.485 casos de infecção no conjunto da Palestina e 1942 mortes também em todo o território com um total de pouco mais de cinco milhões de habitantes.
Responsáveis palestinianos denunciaram um atraso na autorização de entrada das vacinas para a Faixa de Gaza, dizendo que uma entrega programada para segunda-feira não se realizou porque as autoridades israelitas não permitiram a passagem das vacinas. O pedido, acrescentaram, fora feito logo a 4 de Fevereiro, quando chegaram as primeiras doses a Ramallah.
Em Israel, houve propostas para que só houvesse autorização de passagem das vacinas para Gaza se em troca o Hamas, que governa o território, libertasse dois civis israelitas que se acredita estarem em cativeiro em seu poder, e ainda os restos mortais de dois soldados mortos na guerra no território em 2014.
O território está sujeito a enormes restrições, incluindo de produção de energia eléctrica. O número de horas diárias de electricidade tem vindo a variar entre apenas quatro e oito horas de por dia, o que traz também problemas ao sistema de saneamento, deixando a água do mar poluída e levando a que haja menos água potável.
Israel, que leva a cabo a campanha de imunização contra a covid-19 mais rápida do mundo, está sob pressão de organizações de defesa de direitos humanos para vacinar os palestinianos que vivem nos territórios ocupados, precisamente porque é a potência ocupante e o governo palestiniano é limitado. Organizações sublinham que Israel está a vacinar os habitantes dos colonatos judaicos na Cisjordânia e não os quase três milhões de palestinianos desse território.
Os palestinianos, pelo seu lado, hesitaram em fazer o pedido. Com o falhanço do processo de paz os dirigentes têm apostado em ter reconhecimento da Palestina como Estado pelas instituições internacionais (na ONU têm um estatuto de observador como o Vaticano). Ghassan Khatib, professor de ciência política na Universidade de Birzeit, disse ao New York Times que os palestinianos não queriam parecer que estavam a contradizer-se, tentando obter vacinas por si próprios enquanto ao mesmo tempo cediam a responsabilidade a Israel.
Em Dezembro, a Autoridade Palestiniana pediu a Israel 10 mil doses, disse ao diário norte-americano o responsável palestiniano pela ligação com Israel por causa das vacinas Hussein al-Sheikh. Israel prometeu 5000 doses, das quais foram até agora enviadas 2000 vacinas da Moderna, que foram usadas para vacinar profissionais de saúde.
A semana passada, o porta-voz Nabil Abu Rudeiha disse que embora a lei internacional exija que Israel dê vacinas aos palestinianos, estes estavam a tentar “todas as vias para encontrar qualquer vacina que fosse possível, fosse inglesa, russa ou chinesa”.
Tanto a Autoridade Palestiniana como o Hamas participam na Covax, a aliança que junta países de poucos e médios recursos com países ricos, que compram vacinas para si e pagam parte dos países mais pobres, que as recebem gratuitamente ou a preços reduzidos. Paralelamente, ambas as entidades palestinianas estão a negociar com a Rússia e China para comprar mais vacinas.
As primeiras doses da Covax deverão chegar ainda este mês.