António Lobo Xavier: Provar hoje o que era impensável há uma década
Advogado, comentador político, conselheiro de Estado e produtor de vinho numa propriedade da família que recuperou em Penafiel, António Lobo Xavier* elege os Verdes que o inspiraram.
Sou produtor de Vinho Verde desde 2000. Comprei uma propriedade que era da família e recuperei as vinhas. Tive o cuidado de contratar um enólogo com experiência, sabedoria e gosto. Procurava um vinho evoluído, onde se percebe que há técnica, que mantém a frescura e os aromas, com densidade e estrutura para acompanhar uma refeição ou certo tipo de queijos. Chegámos lá quando fizemos o primeiro Casa da Gazalha Grande Escolha, em 2016. O último vinho meu que bebi foi precisamente um Grande Escolha 2016 e acho que está num ponto absolutamente impensável há uma década.
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Sou produtor de Vinho Verde desde 2000. Comprei uma propriedade que era da família e recuperei as vinhas. Tive o cuidado de contratar um enólogo com experiência, sabedoria e gosto. Procurava um vinho evoluído, onde se percebe que há técnica, que mantém a frescura e os aromas, com densidade e estrutura para acompanhar uma refeição ou certo tipo de queijos. Chegámos lá quando fizemos o primeiro Casa da Gazalha Grande Escolha, em 2016. O último vinho meu que bebi foi precisamente um Grande Escolha 2016 e acho que está num ponto absolutamente impensável há uma década.
Produzo também verde tinto, tenho uma pequena vinha de vinhão. Os consumidores compram-mo praticamente todo na vindima. Gosto muito de verde tinto, mas procurei fazer um que fosse fruta, com uma acidez e uma frescura boa. Obviamente denso, carregado, a casta é assim, mas sem aquela fermentação descontrolada e aquele sabor herbáceo.
Quando comecei, gostava do vinho de quinta, tenho de confessar, mesmo com as suas imperfeições, a sua rusticidade. Mas depois o meu gosto começou a evoluir. A minha primeira referência foi quando provei o Quinta do Ameal Loureiro, ainda feito pelo Pedro Araújo. Tinha uma elegância e um equilíbrio… percebi que era aquela a evolução e a sofisticação de que gostaria para mim.
Eu tinha a ideia de que o Vinho Verde era um produto do ano. Confesso que, por ignorância, cheguei a dizer que devia ser obrigatório uma garrafa ter indicação de “consumir de preferência antes de”. Até que, de férias na Galiza, em 2012 ou 2013, me deram um alvarinho de 2005. Eu ri-me daquilo, da ideia de ter vinhos daquela idade com castas parecidas com as nossas. Provei e era fantástico. Desde então, tenho bebido Vinhos Verdes com uma certa idade que, quando são bem feitos, com álcool e uma estrutura que lhes permite evoluir, são vinhos fantásticos. Para mim, os dois marcos actuais do Vinho Verde são o Soalheiro e as experiências do Anselmo Mendes. Gosto muito de beber o Soalheiro Granit do ano, é para mim uma marca. Do Anselmo Mendes gosto de beber os vinhos mais antigos, ultimamente mais o Parcela Única. Se eu puder aproximar-me desses vinhos, é uma glória.
* Depoimento recolhido por João Mestre
Este artigo foi publicado no n.º 1 da revista Singular. Download disponível aqui.