Receptor envolvido na regulação do apetite também controla a memória
Investigação centra-se na hormona grelina e no seu receptor nas células.
Um estudo internacional revela que o receptor da grelina, uma hormona reguladora do apetite, é muito importante na interligação dos sinais biológicos de fome, saciedade e memória, anunciou esta quarta-feira a Universidade de Coimbra (UC), que lidera a investigação.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Um estudo internacional revela que o receptor da grelina, uma hormona reguladora do apetite, é muito importante na interligação dos sinais biológicos de fome, saciedade e memória, anunciou esta quarta-feira a Universidade de Coimbra (UC), que lidera a investigação.
Já publicado na revista Science Signaling, o estudo é liderado por Ana Luísa Carvalho, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), e por Luís Ribeiro, do CNC, refere a nota da UC.
A equipa integra também investigadores do CNC - Mário Carvalho e Tatiana Catarino, que são autores principais do estudo -, do Centro de Biologia Molecular “Severo-Ochoa” e Universidade Autónoma de Madrid (Espanha) e do Instituto Interdisciplinar para a Neurociência da Universidade de Bordéus (França).
Com o objectivo de compreender em que medida as hormonas com uma função no metabolismo regulam a função sináptica (que assegura a comunicação entre neurónios essencial à formação de memórias), este estudo consistiu em investigar “se, na ausência da hormona estimuladora, a actividade constitutiva (basal) do receptor da grelina é relevante para a formação de memórias, e se tem impacto nos mecanismos moleculares envolvidos nessa formação”, indica Ana Luísa Carvalho.
Sabendo-se que este receptor poderia ter alguma actividade na ausência da hormona, “a designada actividade constitutiva, que é regulada, por exemplo, pelo nível de saciedade do indivíduo”, a investigação “centrou-se em observar essa actividade em neurónios, o que nunca tinha sido realizado até agora, e em perceber a sua relevância para os mecanismos moleculares de formação de memórias”, simplifica a investigadora, citada pela UC.
Combinando metodologias in vitro e in vivo, onde se incluem estudos de comportamento animal, de imagiologia celular e bioquímicos, os cientistas descobriram que “a actividade constitutiva do receptor da grelina em neurónios do hipocampo é significativa, e que contribui para a regulação tónica do tráfego celular de receptores do glutamato do tipo AMPA e para os mecanismos de plasticidade sináptica, e que suporta a formação de memórias”, adianta a coordenadora do estudo.
“Nas experiências realizadas, quando a actividade constitutiva do receptor da grelina foi bloqueada observaram-se alterações na memória dos animais”, salienta Ana Luísa Carvalho.
Esta investigação “identifica a actividade basal de um receptor membranar (cujos níveis e actividade são dependentes do estado interno do indivíduo) como reguladora da formação de memórias”.
O receptor em causa - o receptor da grelina - “tem os seus níveis e actividade basal regulados pelo estado de saciedade do indivíduo”. “E nós verificámos que essa actividade é importante na capacidade de formar novas memórias e nos mecanismos subjacentes”, acrescenta a docente da FCTUC e investigadora do CNC.
“Fármacos que bloqueiam a actividade constitutiva do receptor são considerados possibilidades terapêuticas em algumas doenças metabólicas, por exemplo, mas é importante ter em conta que poderão ter efeitos secundários ao nível da memória”, esclarece.
O estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional através do programa BrainHealth 2020.