Covid-19: A Saúde é um Direito ou um Dever?
O que a grave situação pandémica revela hoje em Portugal é uma enorme carência de conhecimento e uma importante desadequação de comportamentos da nossa população, em relação à ameaça viral. As causas são muitas e variadas.
As principais causas das doenças humanas mais prevalentes dependem hoje mais dos comportamentos individuais dos cidadãos do que de qualquer outra condicionante conhecida. Como sabemos, isto é verdadeiro sobretudo para a generalidade das doenças crónicas não transmissíveis, mas também para várias doenças infectocontagiosas, nomeadamente de origem viral.
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As principais causas das doenças humanas mais prevalentes dependem hoje mais dos comportamentos individuais dos cidadãos do que de qualquer outra condicionante conhecida. Como sabemos, isto é verdadeiro sobretudo para a generalidade das doenças crónicas não transmissíveis, mas também para várias doenças infectocontagiosas, nomeadamente de origem viral.
A promoção da Saúde e a prevenção da doença são necessidades sociais, económicas, sanitárias e políticas crescentes, considerando as naturais limitações da medicina curativa e os seus avultados e progressivos custos.
A Educação para a Saúde é o mais importante veículo para a promoção da saúde global das populações. Na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Educação para a Saúde inclui todas as ações e eventos concebidos e realizados com o objetivo de melhorar a literacia em saúde e de desenvolver as aptidões que habilitem os cidadãos para a prática de um conjunto de atitudes que conduzem à Saúde da comunidade em geral e de cada um de nós em particular.
Ainda segundo a OMS, a Educação para a Saúde deve capacitar cada cidadão, desde a idade escolar, para cuidar da sua Saúde e da dos outros, sobretudo os mais frágeis e dependentes, tomando decisões e criando condições que conduzam à manutenção da Saúde e à prevenção das principais causas de doença e incapacidade durante as várias fases e circunstâncias da vida.
A covid-19 é um bom exemplo, dolorosamente prático, para avaliar estes princípios, considerando que do estado de saúde (leia-se, não infeção) de cada um de nós depende o estado de saúde de todos os que nos rodeiam e com quem convivemos.
O que a grave situação pandémica revela hoje em Portugal é uma enorme carência de conhecimento e uma importante desadequação de comportamentos da nossa população, em relação à ameaça viral. As causas são muitas e variadas, mas traduzem a forma pouco atenta e empenhada como, entre nós, a Educação para a Saúde foi encarada nas últimas décadas.
Com efeito, a população em geral, mesmo as suas camadas mais ‘instruídas’ e os seus estratos mais ‘responsáveis’, não tem demonstrado a devida sensibilidade e a destreza adequada para lidar com o carater contagioso da covid-19, explicando, assim, em boa medida, a falência das medidas preventivas de proteção individual e coletiva recomendadas pelas Autoridades.
Esta inaptidão é um déficite transversal devido à desatenção continuada que os responsáveis pelo Ensino – do pré-escolar ao universitário – e pela Saúde tiveram acerca da literacia em Saúde dos portugueses.
Para que a pessoa individual e a população como um todo tomem decisões corretas e conscientes em Saúde, estas têm de ser fundamentadas por conhecimentos seguros, orientadas por competências adequadas e inspiradas por um genuíno sentimento cívico.
A Saúde é um bem maior e tem de ser considerada um valor humano positivo pela comunidade. Temos, de uma vez por todas, de olhar a Saúde como um justo direito, que é, sobretudo, um sensível dever.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico