Esquerda nacionalista vence as eleições legislativas no Kosovo
Partido de Albin Kurti conseguiu uma votação histórica, mas deve precisar de encontrar um parceiro de coligação para formar governo. Normalização das relações com a Sérvia não é uma prioridade para o Vetevendosje, que entusiasmou o eleitorado jovem com a promessa de acabar com a corrupção e de criar emprego.
O partido Vetevendosje, nacionalista de esquerda, conseguiu uma vitória esmagadora nas eleições legislativas de domingo no Kosovo com 48% dos votos, impondo uma pesada derrota ao partido do Governo, a Liga Democrática do Kosovo (LDK), que ficou em terceiro lugar com 13%, atrás do Partido Democrático do Kosovo (PDK) que se ficou pelos 17%.
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O partido Vetevendosje, nacionalista de esquerda, conseguiu uma vitória esmagadora nas eleições legislativas de domingo no Kosovo com 48% dos votos, impondo uma pesada derrota ao partido do Governo, a Liga Democrática do Kosovo (LDK), que ficou em terceiro lugar com 13%, atrás do Partido Democrático do Kosovo (PDK) que se ficou pelos 17%.
Os resultados finais ainda estão a ser apurados, mas, com 98% dos votos contados, o Vetevendosje (cujo nome se traduz por autodeterminação) não deverá conseguir alcançar os 61 deputados no Parlamento kosovar, o número mágico que permitira ao partido ter uma maioria absoluta, necessitando, por isso, de encontrar um parceiro para formar governo.
Num discurso dirigido aos seus apoiantes, que saíram às ruas do país para celebrar a vitória apesar das temperaturas negativas, o líder do Vetevendosje, Albin Kurti, que conseguiu mobilizar o eleitorado jovem graças ao seu discurso anticorrupção e de defesa do emprego jovem, congratulou-se com um “acontecimento sem precedentes na história do Kosovo”.
“Um novo dia começa amanhã [segunda-feira]. Esta grande vitória é uma oportunidade para começarmos a mudança que queremos”, disse Kurti, realçando que o seu partido tem “muito trabalho pela frente, porque o país enfrenta múltiplas crises”.
Além da pandemia de covid-19, que veio agravar a crise económica e social no país que declarou a sua independência em 2008, o Kosovo enfrenta um grave problema de desemprego, que afecta principalmente os jovens, grupo em que o desemprego atinge os 55%.
Albin Kurti, um antigo líder estudantil que se destacou na década de 1990 na luta pela independência do Kosovo, na altura uma província sérvia, foi primeiro-ministro durante 51 dias em 2020, mas acabou por sair do cargo após o seu parceiro de coligação, a LDK, ter apresentado uma moção de censura que levaria ao poder o primeiro-ministro incumbente Avdullah Hoti.
O Governo da LDK, no entanto, também aguentou pouco tempo no poder. Hoti foi eleito por uma escassa maioria de um voto, sendo que um dos deputados que o elegeu tinha sido condenado por fraude, o que levou o Tribunal Constitucional a ilegalizar a votação.
Nas eleições antecipadas deste domingo, confirmou-se a ascensão do Vetevendosje, que praticamente duplica a percentagem de votos das legislativas de Outubro de 2019, quando conseguiu 25,5%. Já a LDK continua em queda, caindo praticamente para metade dos 24,8% que conseguiu nas últimas eleições.
Enquanto aguarda a contagem final dos votos, Albin Kurti, que contou com o apoio da Presidente Vjosa Osmania durante a campanha, faz contas para conseguir uma maioria no Parlamento kosovar e os deputados das minorias podem ser uma a chave para formar governo.
Dos 120 lugares no Parlamento, 20 (incluindo dez para a minoria sérvia) estão destinados às minorias do país, sendo que os dez lugares além da minoria sérvia podem chegar para o Vetevendosje conseguir alcançar os 61 votos no Parlamento.
Outra solução pode passar por uma coligação com a Aliança para o Futuro do Kosovo (AAK), do ex-primeiro-ministro Ramush Haradinaj, que conseguiu 7% dos votos. A LDK e o PDK, disse Albin Kurti, estão excluídos da equação.
O líder do Vetevendosje, defensor de uma união com a Albânia, também garantiu que a normalização das relações diplomáticas com a Sérvia não será uma das prioridades.
A Sérvia não reconhece a independência do Kosovo, alegando a necessidade de proteger os direitos da minoria sérvia. A União Europeia e os Estados Unidos têm tentado que Pristina e Belgrado cheguem a um acordo, sendo que a normalização das relações com a Sérvia é encarada como uma condição essencial para o Kosovo poder entrar em organismos internacionais, nomeadamente as Nações Unidas, a NATO ou a União Europeia.