Este pai começou a formar pequenos cidadãos em Évora
Fernando Moital fundou a Comunidade das Escolas de Santa Clara e Horta das Figueiras para abordar a cidadania e participação junto das crianças. Agora, quer construir uma “traquitana” para levar o jornal escolar, premiado pelo PÚBLICO, a miúdos e graúdos.
Tal como as crianças com quem trabalha, Fernando Moital parece ter bichos-carpinteiros. Irrequieto por natureza, foi educado com uma boa dose de autonomia e responsabilidade. “Sempre achei que era possível aos mais pequenos fazer imensas coisas numa sociedade que defende o oposto”, recorda em conversa telefónica com o PÚBLICO. Com formação nas áreas de agronomia e ensino, despertou muito cedo para as questões relacionadas com ambiente, cidadania e participação. Mas só quando o filho, João, entrou na escola primária, sentiu a “necessidade de estar mais presente” e “fazer coisas” no sentido de promover o debate e reflexão sobre estas problemáticas junto da população escolar.
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Tal como as crianças com quem trabalha, Fernando Moital parece ter bichos-carpinteiros. Irrequieto por natureza, foi educado com uma boa dose de autonomia e responsabilidade. “Sempre achei que era possível aos mais pequenos fazer imensas coisas numa sociedade que defende o oposto”, recorda em conversa telefónica com o PÚBLICO. Com formação nas áreas de agronomia e ensino, despertou muito cedo para as questões relacionadas com ambiente, cidadania e participação. Mas só quando o filho, João, entrou na escola primária, sentiu a “necessidade de estar mais presente” e “fazer coisas” no sentido de promover o debate e reflexão sobre estas problemáticas junto da população escolar.
Sem querer enveredar pelo “caminho burocrático” inerente à criação de uma associação, idealizou um grupo “mais volátil e informal”, a que chamou, inicialmente, Comunidade da Escola da Horta das Figueiras – a Escola Básica de Santa Clara juntar-se-ia ao nome e ao grupo mais tarde, com a entrada do seu filho no segundo ciclo –, que chamasse pais, alunos e professores a participar. Porém, quando Fernando abordou a escola para realizar uma projecção de cinema, “um meio óptimo para unir pessoas e promover a discussão”, recebeu uma resposta hesitante e inflexível, que evocava a falta de recursos humanos e materiais para concretizar a actividade. A ideia morreu ali, no mesmo lugar onde começou a sua luta para levar educação e cidadania aos mais novos.
"A participação também se ensina"
O ponto de viragem deu-se quando Fernando Moital, utilizador diário de bicicleta e acérrimo defensor da mobilidade suave, resolveu colocar um estacionador de bicicletas dentro da escola, inserida no perímetro de um bairro social, “depois de terem sido vandalizadas duas ou três vezes as que se deixavam cá fora”. “Demorou bastante, mas a junta [da União de Freguesias Horta das Figueiras e Malagueira] finalmente colocou ali um estacionador” em 2018, cedido pela loja de bicicletas do bairro D’BIKE. Passados alguns meses, “foi vandalizado de novo”. Fernando não baixou os braços e arranjou outro estacionador, preparado para fazer um de raíz, com paletes, se fosse preciso. “Disse à professora, ‘Se não for possível aqui dentro, fazemos na rotunda em frente’”, relata. A partir daí, ganhou a confiança da escola e abertura para fazer diversas actividades nos anos seguintes.
“Vivemos numa sociedade em que é mais fácil, por precaução, dizer que não a tudo, mas é preciso abrir brechas”, adverte o dinamizador do grupo. Foi o que fez, por exemplo, com o projecto “Semeando Democracia”, uma simulação do processo eleitoral com as crianças, que teve como pretexto as eleições europeias e, depois, as legislativas em 2019. “A participação também se ensina, e fazê-lo com crianças é meio caminho andado para termos adultos participantes”, observa Fernando Moital.
No seu entender, “quanto mais cedo se começa este diálogo, melhor”. Primeiro, porque “o tempo passa a voar e rapidamente eles podem votar ou ser eleitos”, depois as experiências que teve com crianças e jovens tornaram claro que a mobilidade, por exemplo, tem de ser abordada urgentemente. “Até aos 14 anos, o sonho deles era ir de bicicleta para a escola, a partir dos 15 já era andar de mota. Já estavam perdidos para esta causa”, brinca.
A “traquitana” e o jornal móvel
Este trabalho, apesar de “exigente” torna-se crucial para aumentar a participação, muitas vezes impedida por diversos factores como o sistema que faz das escolas um “fichódromo” e desconsidera a relação com a comunidade, falta de tempo ou contexto socioeconómico.
O mais recente projecto do grupo foi um jornal escolar que começou no ano passado para combater o marasmo do confinamento. Depois de alguns números virtuais, o Horta das Notícias chegou ao papel em Julho, com apoio da Câmara Municipal de Évora e, em Setembro, lançou-se ao Concurso Nacional de Jornais Escolares do PÚBLICO, de onde saiu vencedor no seu escalão. Agora, o prémio no valor de dois mil euros vai ser usado no projecto “Fazer é melhor que ver”, que visa construir um aparelho móvel para fazer um jornal verdadeiramente participativo. “A ideia é criar um painel que vá ao exterior da escola onde os pais possam lê-lo e contribuir para ele”.
Nas últimas semanas, Fernando Moital tem reunido com 12 crianças entre 10 e 13 anos, um serralheiro e dois designers, via Zoom, para discutir os critérios e características da “traquitana” que servirá de suporte à publicação. Já foram apresentados dez projectos, dos quais serão pré-seleccionados três, que serão depois submetidos ao concurso O Poder do Design, da Universidade do Porto, que procura “ideias de design impactantes, mas que, em simultâneo, sejam simples e capazes de restabelecer o convívio interpessoal seguro”.