Mais de 400 idosos de Lisboa vacinados com sobras de Oeiras

O Agrupamento de Centros de Saúde Lisboa Ocidental e Oeiras teve de pedir ajuda aos presidentes das juntas de freguesia de Belém, Ajuda, Alcântara e Campo de Ourique, para não deixar estragar pelo menos 465 vacinas.

Foto
Nuno Ferreira Santos

Foram pelo menos 465 as pessoas com mais de 80 anos, das juntas de freguesia de Belém, Ajuda, Alcântara e Campo de Ourique, em Lisboa, que receberam, na sexta-feira, a primeira dose da vacina contra a covid-19.  

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Foram pelo menos 465 as pessoas com mais de 80 anos, das juntas de freguesia de Belém, Ajuda, Alcântara e Campo de Ourique, em Lisboa, que receberam, na sexta-feira, a primeira dose da vacina contra a covid-19.  

A vacinação de pessoas com mais de 80 anos foi incluída na primeira fase do plano e arrancou este mês, e tem sido feita de forma faseada. Mas segundo os presidentes das quatro juntas de freguesia, esta vacinação em particular teve de ser feita em tempo-recorde porque se tratava de sobras. Ou seja, vacinas que deviam ter sido aplicadas, nomeadamente num lar em Oeiras, mas que, devido a um surto de covid-19, já não foi possível administrar aos utentes.

David Amado, presidente da Junta de Freguesia de Alcântara explicou ao PÚBLICO que foi contactado pelo presidente do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Lisboa Ocidental e Oeiras, Rafic Nordin, já na noite de quinta-feira, a solicitar ajuda, para o dia seguinte, para poder utilizar as vacinas antes de esgotar o prazo de conservação, uma vez que a população destas juntas pertence a este ACES.

“Conseguimos vacinar 190 munícipes da nossa junta de freguesia”, afirmou, sublinhando que não foi uma tarefa fácil. “Fui contactado na noite de quinta-feira e depois os serviços sociais da junta estiveram toda a manhã a fazer contactos”, explicou, sustando que foi também necessário organizar transporte para as pessoas. “Mas acabou por correr bem”, disse.

Já o presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, Jorge Marques, conseguiu arregimentar 175 pessoas. “Temos uma relação muito próxima com a população e tentamos juntar as pessoas que cumpriam os critérios que eram pedidos: ter mais de 80 anos”, sublinhou.

Também os presidentes das juntas de Campo de Ourique e de Belém, Pedro Costa e Ribeiro Rosa, respectivamente, confirmaram ao PÚBLICO que reuniram pessoas para receberem estas vacinas. Cada um conseguiu 50.

Ambos descreveram a tarefa como algo que foi difícil de levar a cabo, devido ao pouco tempo que tiveram para fazer os contactos e para organizar os transportes, mas que depois a organização funcionou e não houve problemas.

A vacinação das mais de 400 pessoas decorreu num pavilhão da Ajuda, na tarde de sexta-feira, e foi feita por profissionais do ACES Lisboa Ocidental e Oeiras.

Depois da polémica sobre o uso indevido destas doses em pessoas que não pertenciam a grupos prioritários, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) incluiu a obrigatoriedade de existência de uma lista de pessoas a convocar para a vacina contra a covid-19 no caso de sobrarem doses, sublinhando que deve ser sempre respeitada a ordem das prioridades.

O PÚBLICO tentou contactar o presidente do ACES de Lisboa Ocidental e Oeiras para perceber porque sobraram tantas vacinas e também para perceber a lógica que precedeu ao critério de vacinação de pessoas das quatro juntas, ou seja, qual o lugar que ocupavam na lista suplente, mas ainda não obteve resposta.

Entretanto, o grupo municipal do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa anunciou neste sábado que vai requerer a constituição de um grupo de trabalho para acompanhamento do processo de vacinação na cidade.

“Perante os recentes casos de abuso na toma de vacina, que partiram de altos responsáveis da CML e várias estruturas municipais, com especial relevo para a Polícia Municipal e o Regimento de Sapadores Bombeiros, torna-se urgente a efectiva fiscalização por parte da AML”, lê-se numa nota enviada à comunicação social.

Ao PÚBLICO, Luís Newton, presidente do PSD de Lisboa, explicou que “está bem claro que há um desnorte no seguimento das orientações, com idosos e grupos prioritários a aguardarem a protecção que lhes poderá ser conferida por um bem tão escasso, como as actuais vacinas, e que, por isso, não se pode tolerar que o seu desvio, a pretexto de sobras, se verifique de novo”.