Novo bispo de Pemba sem “medo” de denunciar ataques em Cabo Delgado

Papa transfere para diocese brasileira D. Luiz Lisboa, que era desde 2017 “a voz” das vítimas da guerra de grupos islamistas no Norte de Moçambique.

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Dom Luiz Lisboa chegou a Moçambique em 2001 e era bispo de Pemba desde 2013 RICARDO FRANCO/LUSA

Dom Luiz Lisboa, bispo de Pemba desde 2013, destacou-se pelo esforço para denunciar internacionalmente a guerra em Cabo Delgado, no Norte do país, ao mesmo tempo que tentava minimizar o impacto do conflito com a ajuda aos refugiados. Estas denúncias valeram-lhe duras críticas, que voltam a ser lembradas, agora que foi transferido da província moçambicana para a diocese brasileira de Cachoeiro, no Estado do Espírito Santo. O novo bispo destacado para Pemba, António Juliasse Sandramo, elogia o antecessor e diz-se pronto para continuar o seu trabalho.

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Dom Luiz Lisboa, bispo de Pemba desde 2013, destacou-se pelo esforço para denunciar internacionalmente a guerra em Cabo Delgado, no Norte do país, ao mesmo tempo que tentava minimizar o impacto do conflito com a ajuda aos refugiados. Estas denúncias valeram-lhe duras críticas, que voltam a ser lembradas, agora que foi transferido da província moçambicana para a diocese brasileira de Cachoeiro, no Estado do Espírito Santo. O novo bispo destacado para Pemba, António Juliasse Sandramo, elogia o antecessor e diz-se pronto para continuar o seu trabalho.

Numa entrevista à rádio em português da emissora internacional alemã Deutsche Welle, Dom António Juliasse diz que a sua prioridade será “avançar mais no campo humanitário”, ajudar os refugiados, que “continuam a chegar” e “consolidar os acampamentos”.

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António Juliasse Sandramo, novo bispo de Pemba DR

O novo bispo de Pemba, capital de Cabo Delgado, sublinha que a Conferência Episcopal de Moçambique, “em tempos de certos mal-entendidos, ficou claramente ao lado de Dom Luiz, e encorajou sempre que ele fosse a voz daquele povo”. E questionado sobre se teme que “em algum momento as pessoas também o possam interpretar mal se eventualmente tiver de levantar a voz”, responde: “Não, não tenho medo nenhum. Se tivesse medo, não seria bispo”.

António Juliasse assegura que também não teme o desafio de substituir “uma das vozes mais sonoras sobre os ataques” de grupos jihadistas que desde 2017 provocaram a morte de pelo menos 2400 pessoas e levaram mais de 500 mil a abandonar as suas casas. Lembrando que “os bispos de Moçambique tomaram [sempre] uma posição colegial em relação ao que acontece em Pemba”, afirma que era natural que a voz mais ouvida fosse a de D. Luiz, tendo em conta o seu cargo. “Ele era o pastor do seu povo, dominava a realidade, tinha de dar a sua voz.”

O nomeado pelo Papa Francisco, que era até agora bispo auxiliar da diocese de Maputo, diz que precisa de estar no terreno para poder “tirar uma radiografia para a intervenção”. Para já, o que lhe parece urgente é “ver como ajudar as pessoas em sofrimento, sobretudo para que o povo que está naquelas situações encontre novamente caminhos de esperança e acredite na possibilidade de melhorar as suas vidas e tomar um novo rumo, caminhando em frente”. “Se calhar, serei também uma ‘mão’ ou ‘pedra’ nessa perspectiva”, afirma.

Luiz Lisboa regressa ao Brasil para ocupar um lugar que estava vazio desde 2018. Alvo de críticas da área do partido da Frelimo, o ano passado chegou a ser acusado por próximos do Governo de apoio ao insurrectos, com alguns a defenderem a sua expulsão do país. Ouvido por duas comissões do Parlamento Europeu sobre a situação em Cabo Delgado, em Dezembro esteve com o Papa no Vaticano para discutir a situação na zona e o papel da Igreja junto dos refugiados.