A tropical, “fueguina” e glaciar Argentina

Das cataratas do Iguaçu ao parque da Terra do Fogo, rumo à Patagónia. Mário Menezes deixou-se encantar pela natureza argentina.

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Dos 50 países que visitei, a Argentina foi onde a natureza mais me encantou.

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Dos 50 países que visitei, a Argentina foi onde a natureza mais me encantou.

De Buenos Aires segui para Puerto Iguazú. Cidade fronteiriça onde confluem Argentina, Brasil e Paraguai, a 20km do Parque Nacional [Iguaçu, em português], das famosas cataratas que separam a Argentina do Brasil. Várias quedas de água, onde sobressai a Garganta do Diabo, com 150 metros de largura e 80 de altura. Como eu compreendo a esposa de Roosevelt quando ali esteve e exclamou “poor Niagara”...

Cenários imortalizados pelo filme A Missãoque tão bem relata como espanhóis e portugueses dividiram entre si aquele território, expulsando os índios guarani e os missionários jesuítas lá instalados.  

Pela selva, percorrendo quilómetros de passadiços e trilhos, vendo ao perto quatis, macacos, tucanos, borboletas, aranhas e serpentes. O calor e a humidade são elevadíssimos, o suor encharca a roupa e as tempestades tropicais são frequentes. E neste cenário paradisíaco me despedi do “Verãozão”, para viajar 4000km até ao “Fim do Mundo”.

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Ushuaia, capital da ilha da Terra do Fogo, com mais de 50.000 habitantes, é a cidade mais austral do planeta. Em cada dia vivem-se as quatro estações do ano. A temperatura não sobe dos 16º C. Aguaceiros alternam com céu limpo e nevoeiro. O vento frio é permanente. À noite a temperatura não chega a 5º C e às 22h ainda é dia. As casas são coloridas e estão permanentemente com o aquecimento central, a gás, ligado. Por ser cercada de montanhas a norte, onde, no hemisfério sul, a incidência solar é maior, é sombria.

Dado o isolamento geográfico, cresceu à custa de uma colónia penal de onde fugir era impensável. Uma “Alcatraz” para onde eram enviados os piores criminosos. Ali viviam ao frio, em condições desumanas e obrigados a trabalhar na floresta, cortando e acartando troncos de árvores para aquecimento. Hoje é núcleo museológico, algumas celas permanecem como dantes e até é possível participar como prisioneiros numa experiência interactiva, onde os carcereiros se encarregam de nos dar as “boas-vindas”. Eles para ganhar a vida, também estavam isolados e longe da família…

O comboio onde os prisioneiros eram transportados para o trabalho, hoje por 30€ transporta turistas, percorrendo os 7km que restam dessa linha, o “Tren del Fin del Mundo” com destino ao interior do Parque Nacional da Terra do Fogo. Lá dentro, caminhando por longos trilhos, deparamo-nos com paisagens surpreendentes, de rios, lagos e montanhas cuja neve no alto nunca derrete.

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Os pinguins na Ilha Martillo

Navegando pelo Canal Beagle, a fronteira Marítima com o Chile, por diversas ilhas que são habitat natural de pássaros, lobos-marinhos, cormorões e pinguins, podemos observar ao perto o Farol Les Eclaireurs, e, ao longe, na ilha chilena de Navarino, Puerto Williams, o local habitado mais a sul do planeta. O desembarque na estância de Haberton e o regresso de autocarro por estradas desérticas não alcatroadas, cercadas de montanhas, rios e lagos, é a melhor forma de acabar o dia no Fim do Mundo.

A Patagónia foi a última paragem. Um voo de uma hora até El Calafate, cidade no meio do deserto, a 80km do Parque Nacional dos Glaciares, onde fica o famoso Perito Moreno. O nome homenageia Francisco Pascasio Moreno, cientista, um herói nacional, cujos estudos ajudaram a definir as fronteiras chilena e argentina pela via da paz.

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Glaciar Perito Moreno

Observando tamanha beleza, podemos imaginar a grandeza deste senhor! De área igual à cidade de Buenos Aires, é possível observar ao perto, desde os passadiços do Parque Nacional ou dos barcos que percorrem o lago Argentino, os seus 5Km de comprimento por 60m de altura. Uma estrutura natural, de cor branca e alguns tons de azul, que está em permanente mutação, com desprendimentos constantes que se podem ver e escutar, num cenário digno da Idade do Gelo.

No prato, o cordeiro é rei. O calafate, um arbusto. Quem provar as suas bagas pretas, um dia voltará! E com um gelado de calafate, de partida para o Chile, me despedi da Argentina.

Deslocações aéreas; preços praticados em restaurantes e atracções turísticas; tours para aceder e explorar parques nacionais, cuja entrada é paga; cruzeiros, transfers turísticos e táxis como únicas opções de viajar de vários aeroportos para as cidades; e ainda os tradicionais espectáculos de tango colocam a Argentina longe de ser um país barato, mas para mim foi um sonho que valeu cada peso gasto! 

Mário Menezes (texto e fotos)
autor de alguns textos em Amantes de Viagens