Uma delirante odisseia russa

Uma sátira em jeito de profecia distópica. Uma fábula em que o futuro surge mergulhado num passado atávico.

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Sorokin pede um leitor activo, pois não deixa nada à vista, nem no texto nem nas entrelinhas, a não ser um inventivo delírio Elke Wetzig

Lêem-se as primeiras páginas de A Tempestade, de Vladimir Sorokin (n. 1955), e percebe-se de imediato o estilo da grande literatura russa do século XIX: as cuidadas descrições das paisagens frias e nevadas, os bosques, os rios gelados, os interiores escuros das casas rurais, os objectos da época, os pesados trabalhos agrícolas, os diálogos entre personagens que pertencem a duas classes sociais opostas. “A isba estava ligeiramente mais aquecida, mais iluminada e menos atravancada do que o vestíbulo: toros ardiam num enorme fogão de cerâmica russo, um saleiro de madeira era o único objecto em cima da mesa, um pão redondo repousava debaixo de um pano de louça, um ícone solitário ocupava todo um canto escuro e um relógio de pêndulo estava suspenso sozinho na parede.”

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Lêem-se as primeiras páginas de A Tempestade, de Vladimir Sorokin (n. 1955), e percebe-se de imediato o estilo da grande literatura russa do século XIX: as cuidadas descrições das paisagens frias e nevadas, os bosques, os rios gelados, os interiores escuros das casas rurais, os objectos da época, os pesados trabalhos agrícolas, os diálogos entre personagens que pertencem a duas classes sociais opostas. “A isba estava ligeiramente mais aquecida, mais iluminada e menos atravancada do que o vestíbulo: toros ardiam num enorme fogão de cerâmica russo, um saleiro de madeira era o único objecto em cima da mesa, um pão redondo repousava debaixo de um pano de louça, um ícone solitário ocupava todo um canto escuro e um relógio de pêndulo estava suspenso sozinho na parede.”