Laboratórios dizem ter capacidade para aumentar testes
Laboratórios ouvidos pelo PÚBLICO saúdam o esforço para a realização de mais testes, mas sublinham que para que a estratégia resulte é preciso reforçar as equipas de rastreio de contactos.
O Governo quer aumentar o número diário de testes realizados para identificação de casos de covid-19 e os laboratórios estão prontos para o maior volume de testagem, mas avisam que é preciso agilizar os processos de rastreio de contactos para que a estratégia dê resultados.
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O Governo quer aumentar o número diário de testes realizados para identificação de casos de covid-19 e os laboratórios estão prontos para o maior volume de testagem, mas avisam que é preciso agilizar os processos de rastreio de contactos para que a estratégia dê resultados.
Numa nota enviada à comunicação social esta quarta-feira, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) já anunciou que os testes laboratoriais vão ser alargados a todos os contactos de infectados, quer de alto, quer de baixo risco, uma medida que por si já vai permitir agilizar o processo de rastreio e de detecção de novos casos.
Só testar não é suficiente para garantir um combate eficaz contra o vírus: é bom testar mais, mas é preciso garantir que esse aumento é bem aproveitado. O “segredo” de uma resposta bem-sucedida ao vírus terá de passar pela agilização dos processos, a começar pela rapidez dos rastreios, na opinião dos representantes dos laboratórios ouvidos pelo PÚBLICO.
“Só um track & tracing rápido e uma testagem rápida dos casos é que evita a propagação das cadeias de transmissão”, diz o director executivo da Unilabs Portugal, Luís Menezes, uma ideia também apoiada pelo médico Germano de Sousa, fundador da rede de laboratórios com o seu nome.
“Mais do que fazer [testes em] massa, é importante que se consiga atempadamente chegar às pessoas que são positivas e verificar qual o contexto”, disse ao PÚBLICO. Para isso, é preciso reforçar a saúde pública, em que os profissionais de saúde se encontram “assoberbadíssimos”. “Os rastreios nada podem fazer se não houver capacidade [de testagem]. Mas capacidade sem rastreios de nada serve, também.”
O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Francisco George, relembra a importância da máxima “testar, identificar, isolar, tratar e contactar” e sublinha que as medidas anunciadas esta quarta-feira por Marta Temido e pela DGS “têm toda a razão de ser”, acrescentando que a CVP tem ao dispor 34 postos fixos de testagem e 27 equipas móveis, números “flexíveis” que podem aumentar caso assim seja necessário.
Capacidade nacional na casa dos 100 mil testes diários
Marta Temido assumiu esta quarta-feira que a taxa de positividade no país está nos 14%, um valor ainda alto e que baixa quando há menos casos, mas também quando se testa mais para quebrar mais depressa cadeias de transmissão. A capacidade de testagem de Portugal tem vindo a aumentar consistentemente desde o início da pandemia, assim como a necessidade de fazer testes.
Germano de Sousa reconhece a importância de ter uma boa capacidade de testagem. Actualmente, os seus laboratórios têm capacidade instalada para “chegar facilmente aos 12 mil testes por dia”, um pouco acima dos cerca de 10.400 que receberam nos dias de maior afluência, nos últimos dias de Janeiro.
Esta testagem deve ser focada nos PCR (testes moleculares), no entender do médico, devido à “sensibilidade bastante menor” dos testes rápidos. A serem utilizados, interessa que o sejam em situações em que se possa “repeti-los todos os dias”. Luís Menezes também sublinha a maior sensibilidade dos testes PCR, mas defende uma estratégia “dual” com a aplicação de testes PCR e antigénio de forma complementar – tal como prevê a nova norma da DGS.
“Os testes rápidos são uma arma do arsenal de testagem que deve ser usada. Mas num arsenal, tal como na guerra, cada arma deve ser usada com um propósito. Ou seja: os testes rápidos podem e devem ser usados em escolas, em empresas, em situações em que tenhamos populações bastante fixas e em que se pense fazer o rastreio com alguma periodicidade, por exemplo de 15 em 15 dias”, explicou, referindo que esse “ataque lateral com os testes de antigénio” é importante para dar apoio a um futuro desconfinamento que se quer “seguro” para evitar um “recrudescimento da pandemia” e dar “maiores certezas” à retoma da economia.
Luís Menezes estima que Portugal consiga ter capacidade para fazer entre 100 a 120 mil testes por dia. A Unilabs-Portugal tem capacidade para cerca de 15 mil testes PCR, mas não chegou ainda a utilizá-la, nem nos dias mais críticos de Janeiro. Como chega o país à centena de milhar?
“No pico, foram feitos cerca de 75 mil testes, foi o dia em que foram feitos mais, e nem todos os laboratórios do país estavam a trabalhar nesse dia. Nesse dia fizemos 10.500 testes. A minha lógica foi: se os laboratórios todos do país conseguirem fazer mais 50% de testes, vamos para um número entre os 100 e 120 mil”, calcula.
Germano de Sousa acredita que o país chega “facilmente” aos 80 mil testes “ou mais” por dia, entendendo que é “natural” que se chegue aos 90 mil “se todos os laboratórios acompanharem” a capacidade que os seus têm para aumentar a operação de um dia para o outro. O volume de pedidos começou a cair em Fevereiro para um número à volta dos seis mil testes diários.