Bruxelas prevê PIB português a crescer 4,1%, mas alerta para riscos “significativos”
A Comissão Europeia acredita que a retoma arrancará na Primavera e poderá consolidar-se no Verão, com a recuperação do turismo. Admite, porém, “incertezas” relacionadas com a pandemia.
A Comissão Europeia estima que a economia portuguesa cresça 4,1% este ano e acelere muito ligeiramente para os 4,3% em 2022, quando o produto interno bruto deverá regressar ao nível anterior à pandemia. Há três meses, as previsões apontavam para um crescimento de 5,4% em 2021.
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A Comissão Europeia estima que a economia portuguesa cresça 4,1% este ano e acelere muito ligeiramente para os 4,3% em 2022, quando o produto interno bruto deverá regressar ao nível anterior à pandemia. Há três meses, as previsões apontavam para um crescimento de 5,4% em 2021.
A projecção põe o crescimento de Portugal acima da média de 3,8% da zona euro e de 3,7% da União Europeia, tanto para 2021 como para 2022. “Prevê-se que o PIB aumente em todos os países. É a famosa luz ao fundo do túnel”, declarou o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni.
Porém, a recuperação da economia nacional não começará a sentir-se antes da Primavera e, se a situação sanitária o permitir, a consolidar-se nos meses do Verão, à custa da retoma do sector do turismo, estima Bruxelas.
No primeiro trimestre de 2021, a trajectória da economia portuguesa continua a ser descendente. “Com a introdução de um novo confinamento mais rigoroso em meados de Janeiro, o PIB voltará a cai no primeiro trimestre de 2021”, antevê a Comissão Europeia. A quebra já se tinha feito notar no último trimestre de 2020, quando a economia se contraiu 0,4%.
De acordo com as contas de Bruxelas, no ano passado, o PIB nacional sofreu um rombo de 7,6%: depois de uma queda abrupta de 17% no primeiro semestre, registou-se uma recuperação de 13,3% nos três meses do Verão, mas a tendência inverteu-se, na sequência do aumento significativo das novas infecções de coronavírus, que justificou o aperto das medidas restritivas.
O retrato é semelhante nos restantes países da zona euro e da UE, que, depois de um Verão de forte actividade económica, voltaram a contrair-se no último trimestre de 2020, com a segunda vaga da pandemia.
“Tendo em conta as medidas restritivas ainda em vigor, espera-se que as economias da zona euro e da UE continuem a contrair-se no primeiro trimestre de 2021.” Em toda a Europa, espera-se que a situação comece a melhorar na Primavera, com o crescimento a voltar a acelerar no Verão, “à medida que a campanha de vacinação progrida e as medidas de contenção sejam gradualmente levantadas”.
Nas suas previsões económicas de Inverno, publicadas esta quinta-feira, a Comissão Europeia considera que os riscos para a recuperação económica portuguesa permanecem “significativos” e que a melhoria da situação está dependente do comportamento do turismo estrangeiro. Nesse capítulo, abundam as “incertezas relacionadas com a evolução da pandemia”.
Segundo Paolo Gentiloni, estas estimativas terão de ser revistas, se entretanto emergirem novas variantes do coronavírus que venham a revelar-se tão ou mais contagiosas do que aquelas que se propagaram desde o final de 2020.
Um outro risco para a recuperação, e que Bruxelas não consegue avaliar nesta altura, tem que ver com o impacto real da crise provocado pela pandemia. “É possível que as cicatrizes económicas e sociais sejam mais profundas do que pensamos”, reconheceu o comissário, mostrando-se também preocupado com uma eventual acentuação das divergências entre os Estados-membros. “Arriscamos perder todos os ganhos dos últimos anos”, observou.
Contudo, no contexto de incerteza também pode haver surpresas positivas, assinalou Gentiloni. Esse será o caso se a vacinação da população europeia contra a covid-19 ganhar um novo ritmo e a imunidade de grupo ocorrer mais depressa do que o esperado. Ou se “o aumento da procura se provar mais forte” do que as projecções da Comissão.
Dentro do “positivo” está também o acordo de parceria económica que a União Europeia assinou com o Reino Unido em Dezembro, e que permitiu evitar o pior cenário de “hard Brexit”, com a aplicação das regras da Organização Mundial de Comércio em termos de quotas e tarifas. Ainda assim, Bruxelas prevê uma perda de 0,5% no PIB da União Europeia, e de 2,2% do PIB do Reino Unido, até 2022 — uma perspectiva menos negativa face à previsão do Outono, feita ainda sem garantias de acordo entre os dois blocos comerciais.
Por outro lado, como sublinhou o comissário, o principal factor que vai contribuir para alterar o cenário macroeconómico, que é o fundo de recuperação da crise Próxima Geração UE, de 750 mil milhões euros, só foi parcialmente tido em conta no actual exercício de projecções.
Quando os Estados-membros começarem a receber os pagamentos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, e os programas nacionais começarem a produzir resultados, o efeito previsto é de um crescimento de 2% do PIB da União Europeia, anunciou Paolo Gentiloni, acrescentando que esse valor será superior nos países com menor PIB per capita.
O comissário disse que o executivo comunitário decidirá, “nas próximas semanas”, se a cláusula de derrogação que suspendeu a disciplina orçamental do Pacto de Estabilidade e Crescimento vai manter-se activa para lá deste ano. “As nossas dificuldades económicas não vai acabar no dia 31 de Dezembro de 2021”, considerou Gentiloni, que prometeu que a decisão será comunicada a tempo dos Estados membros poderem preparar os seus planos orçamentais de 2022.