Alojamento local recua em Lisboa pela primeira vez
Recuo no número de unidades registadas em Lisboa foi caso único a nível nacional, mas no distrito do Porto o mercado quase estagnou, com uma subida líquida de 0,9%. Já Bragança, Guarda e Portalegre destacaram-se nos crescimentos.
No ano passado, marcado pelos efeitos da pandemia de covid-19, houve pela primeira vez um recuo, apesar de ligeiro, do número de unidades de alojamento local (AL) registadas no distrito de Lisboa. De acordo com os dados da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), entre novas aberturas e cancelamento de registos, registou-se um saldo líquido negativo de 0,5%, o que corresponde a 130 unidades.
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No ano passado, marcado pelos efeitos da pandemia de covid-19, houve pela primeira vez um recuo, apesar de ligeiro, do número de unidades de alojamento local (AL) registadas no distrito de Lisboa. De acordo com os dados da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), entre novas aberturas e cancelamento de registos, registou-se um saldo líquido negativo de 0,5%, o que corresponde a 130 unidades.
Esta redução, de acordo com os dados da ALEP, concentrou-se no concelho de Lisboa, com menos 114 unidades (fechando o ano, segundo os dados oficiais, com 19.358 unidades). Em 2019, já com o mercado a abrandar nesta região após uma forte subida que gerou contestação e esteve ligada à criação de zonas de contenção, o crescimento liquido no distrito tinha sido de 2373 registos.
Ao todo, foram cancelados 597 registos, mas o presidente da ALEP, Eduardo Miranda, refere que houve muito mais unidades a ausentarem-se deste negócio e a entrar no mercado habitacional, uma vez que houve menos 1825 anúncios de casas ligados ao AL em Lisboa do que em 2019. “A mais-valia e o receio de perder o registo [de AL] definitivamente faz com que muitos registos não sejam cancelados apesar do imóvel já estar dedicado a outro uso, como arredamento ou habitação da família”, refere a análise desta associação, intitulada Alojamento local em tempos de pandemia: balanço e perspectivas.
O recuo registado em Lisboa foi caso único a nível nacional, mas no distrito do Porto o mercado quase estagnou, com um crescimento líquido de 0,9%. Isto corresponde, de acordo com a ALEP, a uma subida de 100 unidades, “praticamente tudo fora da cidade do Porto”, já que no concelho houve um saldo positivo de apenas sete unidades”.
Juntos, os dois concelhos correspondem a perto de 30% do mercado a nível nacional, composto por 94.850 AL (mais 6860 face a 2019).
Subidas no interior
Em sentido contrário à tendência de Lisboa e do Porto estiveram distritos como Bragança, com uma subida de 29,6% face ao número de revistos de 2019, o que corresponde a um aumento líquido de 81 AL, seguindo-se Guarda (mais 22,3%, ou 75 AL) e Portalegre (19,6%, ou 64 AL).
“Apesar de serem número absolutos pequenos, o que é normal num ano de crise profunda, não deixa de ser relevante Bragança ficar ao nível do Porto e Aveiro e superar Lisboa”, refere Eduardo Miranda, acrescentando que “Bragança, Guarda e Portalegre foram os únicos distritos onde o crescimento absoluto do número de registos foi superior em 2020 quando comparado com 2019”.
Este é um dos efeitos da pandemia, conforme referiu ao PÚBLICO Eduardo Miranda, com maior procura de turistas por moradias em espaços mais isolados, e em locais onde havia falta de oferta. Nota-se, diz, uma nova tendência que este responsável espera que seja “gradual e sustentada”.
A mesma análise é feita à migração de unidades de turismo para o mercado de habitação no caso de Lisboa e também do Porto, com o presidente da ALEP a defender que, embora o processo de mudança seja natural e com tendência para crescer em tempos de crise, o AL “não é a salvação para o arrendamento”. Até porque, diz, que grande parte da oferta é composta por T0 e T1 de pequena dimensão, pouco compatíveis, aponta, com opções de família.
Depois, defende, se houvesse uma transição em massa isso iria “matar o turismo”, com impactos em sectores como a restauração e o comércio. A maior parte do AL, recorda, ainda está fora das estatísticas oficiais (o INE só contabiliza as unidades com mais de dez camas), mas este é um segmento que pesa “quase 40% das dormidas”. Por isso mesmo, diz, vai ser “fundamental no período inicial da retoma, que será gradual, até no período do Verão”.
Sector pede reforço dos apoios
Aqui, e com quebras de facturação superiores a 70% (que sobem para mais de 80% nos centros urbanos), a ALEP defende a criação de alternativas de apoio às microempresas e empresários em nome individual, acrescentando que “o reforço da linha de apoio do Turismo de Portugal pode ser a chave para a sobrevivência do sector”.
Esta linha, lançada logo em Março do ano passado e que já vai na sua terceira versão, com uma dotação de 100 milhões de euros (dos quais 10 milhões são para as pequenas empresas), tem por destino as microempresas do turismo. De acordo com os dados do Turismo de Portugal, foram aprovadas 9725 candidaturas, o que equivale a 84,4 milhões de euros. Deste valor, já foram pagos 73 milhões, dos quais 16,8 milhões foram direccionados para negócios de alojamento.
Um outro efeito da pandemia, diz a ALEP, foi o de demonstrar que há “um novo apetite por estadias de média duração” em AL, num “misto entre turismo e habitação”, nomeadamente junto de profissionais “em processo de mudança temporária”. Nesses casos, o cálculo da factura é feito ao mês, e não por cada dia.