Vacina da AstraZeneca recomendada para menores de 65 anos por uma questão de “prudência”

Comissão Técnica de Vacinação contra covid-19 justifica inclusão das pessoas a partir dos 80 anos na primeira fase com o agravamento da incidência nestas faixas etárias no final de Dezembro.

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Daniel Rocha

A experiência do Reino Unido, onde a vacina do consórcio AstraZeneca-Oxford está a ser administrada “em larga escala”, indica que esta até “parece mais segura do que as outras” e que a capacidade de produzir anticorpos “é semelhante à das outras vacinas e estende-se a todas as faixas etárias”, afirmou José Gonçalo Marques, coordenador-adjunto da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19, durante uma audição, esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar de Saúde.

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A experiência do Reino Unido, onde a vacina do consórcio AstraZeneca-Oxford está a ser administrada “em larga escala”, indica que esta até “parece mais segura do que as outras” e que a capacidade de produzir anticorpos “é semelhante à das outras vacinas e estende-se a todas as faixas etárias”, afirmou José Gonçalo Marques, coordenador-adjunto da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19, durante uma audição, esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar de Saúde.

O problema desta vacina, que motivou a recomendação no sentido de ser administrada preferencialmente às pessoas até aos 65 anos, é “que não houve um número de casos suficiente na faixa etária acima dos 65 anos” incluído nos primeiros ensaios clínicos de fase 3, mas esse trabalho está a ser feito agora, explicou o pediatra. Esta comissão é um órgão consultivo da Direcção-Geral da Saúde (DGS). 

“Os dados que temos de segurança [desta vacina] são excelentes. E no único país, o Reino Unido, que administra a vacina da AstraZeneca em larga escala sem restrição de grupo etário, não houve ainda nenhum alerta de segurança, antes pelo contrário, parece mais segura do que as outras”, frisou José Gonçalo Marques. Como se justifica, então, a recomendação da DGS? O coordenador da comissão técnica, Valter Fonseca, alegou que se tratou de “uma atitude de prudência por ausência de dados à data”.

Foi o PSD que requereu a audição por querer esclarecer por que motivo é que as pessoas a partir dos 65 anos não foram incluídas na primeira fase da vacinação, ao contrário do que aconteceu noutros países, enquanto se optou por priorizar as pessoas com 50 ou mais anos com comorbilidades de maior risco associadas à covid-19.

Os critérios de priorização foram definidos tendo em conta o facto de perto de 99% das pessoas com covid-19 que morreram terem pelo menos uma comorbilidade e, dentro deste grupo, 46% tinham doenças cardíacas e 42%, doenças renais, explicou Luís Graça, imunologista que também integra a comissão técnica. Além disso, cerca de 30% dos óbitos acontecem em faixas etárias abaixo dos 80 anos, especificou.

Outro factor que pesou nesta opção foi a reduzida percentagem de doentes a partir dos 80 anos internados nas unidades de cuidados intensivos, que ronda actualmente “os 5%”, quando no grupo das pessoas a partir dos 50 anos e comorbilidades ascende a “cerca de 40%”, acrescentou.

Em Janeiro, porém, as pessoas mais idosas, a partir dos 80 anos, acabaram por ser incluídas na primeira fase da operação de imunização. “Sempre dissemos que o plano era dinâmico. A situação epidemiológica era uma no início de Dezembro. No final de Dezembro agravou-se, houve um aumento muito significativo da incidência” nos maiores de 80 anos, justificou Valter Fonseca.

De qualquer forma, notou, 70% das pessoas residentes em lares de idosos (que foram das primeiras a ser vacinadas) têm mais de 80 anos. Tendo em conta a escassez de doses, foi necessário avaliar “as várias estratégias possíveis de maximização do benefício”, resumiu.