Ministério da Saúde prepara plano para recuperar cirurgias oncológicas que ficaram por fazer
No final de Dezembro estavam inscritos para uma cirurgia oncológica mais de 5000 doentes. No combate à pandemia, o número de rastreadores mais do que duplicou e inquéritos epidemiológicos pendentes em Lisboa e Vale do Tejo desceram para cerca de 4000.
O Ministério da Saúde está a preparar um plano de retoma da actividade cirúrgica na área oncológica para recuperar as cirurgias que não se realizaram na sequência da suspensão da actividade não urgente e prioritária. No final de Dezembro estavam inscritos para uma cirurgia oncológica mais de 5000 doentes.
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O Ministério da Saúde está a preparar um plano de retoma da actividade cirúrgica na área oncológica para recuperar as cirurgias que não se realizaram na sequência da suspensão da actividade não urgente e prioritária. No final de Dezembro estavam inscritos para uma cirurgia oncológica mais de 5000 doentes.
Apesar de os três Institutos Portugueses do Oncologia (IPO) não terem sido abrangidos pelo despacho, mas “antecipando a importância de ter um plano de recuperação de actividade nesta área”, o Ministério da Saúde promoveu uma reunião de trabalho entre o Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, a Administração Central do Sistema de Saúde e os três IPO para delinear um plano para minimizar os efeitos da suspensão sobre a cirurgia oncológica.
Segundo Marta Temido, ouvida esta quarta-feira na comissão parlamentar de saúde, estavam inscritos em Dezembro em lista de espera mais de 5000 doentes, dos quais 30% nos IPO. “As regiões de Lisboa e Vale do Tejo bem como a do Algarve eram aquelas que tinham mais situações de inscritos para além dos tempos máximos de resposta garantidos.” A responsável referiu que houve uma articulação entre os hospitais gerais e os IPO “para resolução das situações clínicas oncológicas mais inadiáveis”, mas lembrou que estas unidades também têm listas de espera próprias. Para resolver a situação, o Programa Nacional para as Doenças Oncológicas está a elaborar “estratégias imediatas para abordar a cirurgia oncológica”.
“Desde logo, a manutenção da realização de cirurgia oncológica até ao nível 3 dos planos de contingência hospitalares, sempre que haja condições para a separação de circuitos, a protecção da capacidade cirúrgica de especial complexidade técnica – cirurgia hepática e pancreática, sarcomas ósseos, neurocirurgia, onco-oftalmologia -, a definição de unidades hospitalares com camas de cuidados intensivos dedicadas e reservadas para os pós-operatórios desta área. O programa “pretende ainda que possam funcionar clusters regionais de hospitais com actividade nesta área de forma a ajudar nesta resposta, que precisamos de acelerar nos próximos meses”, disse Marta Temido.
Quanto à actividade assistencial nos hospitais, o SNS realizou menos 1,2 milhões de consultas hospitalares e menos 126 mil cirurgias em 2020 comparando com a actividade realizada no ano anterior. Já nos centros de saúde realizaram-se mais cerca de um milhão de consultas, mas à custa do crescimento das consultas não presenciais.
Mortes a mais mesmo fora dos picos
A ministra foi novamente questionada sobre o excesso de mortalidade e explicou que o tema está a ser estudado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa). Os cálculos efectuados até 3 de Janeiro detectaram a existência de quatro períodos críticos no último ano: o primeiro e o último associados às ondas pandémicas e os outros dois associados a temperaturas elevadas.
“Houve um primeiro período de 23 de Março a 12 de Abril, com um excesso de 1057 óbitos. Um segundo período de 25 a 31 de Maio, com 363 óbitos em excesso. Um terceiro de 6 de Julho a 2 de Agosto com 2199 óbitos em excesso e um quarto período que se prolonga desde 26 de Outubro e que ainda estava a decorrer quando esta análise foi feita a 3 de Janeiro de 2021, com um excesso que era estimado em 4429 óbitos”, explicou.
Mas “mesmo nos períodos sem excesso de mortalidade há um acréscimo em relação à média de anos anteriores”. “Este é um índice que o Insa está a analisar com mais detalhe, porque corresponde a um padrão não esperado de aumento sistemático da média diária de óbitos, que se considera que possa estar relacionado directa ou indirectamente com a pandemia, porque é o único evento conhecido que poderemos neste momento imaginar como estando associado a este facto. Mas temos de fazer uma avaliação mais cuidadosa”, disse a ministra.
Mais rastreadores e camas de intensivos
Segundo Marta Temido, o número de rastreadores mais que duplicou, já que “em 13 de Dezembro o número de profissionais, equivalente a tempo integral, a realizar inquéritos epidemiológicos era de 427 e em 4 de Fevereiro ultrapassavam os 1100”. Um reforço conseguido “quer através da mobilização de funcionários da administração central e local, estudantes e de elementos das forças de segurança e forças armadas”.
Este reforço e a introdução de “novas metodologias que facilitaram a realização de contactos para isolamento feitos nas primeiras 24 horas, a infectados, coabitantes e contactos de alto risco”, acrescentou o secretário de Estado e Adjunto da Saúde António Lacerda Sales, levou a “uma evolução extraordinária” na realização de inquéritos epidemiológicos. “Nomeadamente em Lisboa e Vale do Tejo, onde tínhamos os maiores atrasos. Foi possível reduzir, em duas semanas, de 56 mil para 4000 os inquéritos pendente”, disse.
Houve também reforço na capacidade de cuidados intensivos, tendo os hospitais do SNS reportado a existência de 1411 camas nesta área. Contudo, salientou a ministra, muitas não são definitivas e é nestas que serão de resposta permanente que é preciso continuar a investir. Apesar da pressão nos hospitais ainda se manter alta, o boletim da Direcção-Geral da Saúde desta quarta-feira revelou uma nova diminuição dos doentes com covid internados: menos 241 pessoas em enfermaria (num total de 5829 hospitalizações) e menos 274 pessoas em unidades de cuidados intensivos (são agora 853). Portugal registou ainda mais 161 mortes e 4387 novos casos de infecção.
Já sobre o apoio dado por outros sectores ao SNS, Marta Temido adiantou que existem “981 camas acordadas, mas nestas camas estão incluídas as das Forças Armadas, sector social e privado”. “Sendo as camas contratualizadas com o privado e o sector social cerca de 745.”
No que respeita à vacinação, a ministra assegurou que todas as pessoas que fazem parte desta primeira fase serão chamadas para a vacinação, seja através de SMS, telefone ou de carta. E que a partir de sexta-feira estará disponível um simulador que permitirá, a quem assim o desejar, ver se estão inscritos nesta fase. O ritmo, lembrou, está dependente da entrega de vacinas e estas estão dependentes da capacidade de produção da indústria.