Confinamento só deverá acabar depois da Páscoa
Partidos criticam o Governo por ter adiado medidas e pedem mais apoios.
O confinamento para travar as contaminações por covid-19 poderá terminar apenas após a Páscoa. Na reunião de especialistas no Infarmed, esta terça-feira, o primeiro-ministro, António Costa, reconheceu aos participantes que o confinamento nunca acabaria antes de meados de Março, mas previu que acabe apenas no final desse mês, soube o PÚBLICO.
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O confinamento para travar as contaminações por covid-19 poderá terminar apenas após a Páscoa. Na reunião de especialistas no Infarmed, esta terça-feira, o primeiro-ministro, António Costa, reconheceu aos participantes que o confinamento nunca acabaria antes de meados de Março, mas previu que acabe apenas no final desse mês, soube o PÚBLICO.
Como o domingo de Páscoa é a 4 de Abril, está em cima da mesa do Governo a possibilidade de o confinamento se manter nesse período festivo, de modo a evitar que se repita o aumento exponencial de contaminações que ocorreu no período do Natal.
Recorde-se que o mais recente fecho das escolas, a 22 de Janeiro, entrou em vigor ainda antes do início do actual estado de emergência, que se prolonga até 14 de Fevereiro e que será renovado pelo Presidente da República, nesta quinta-feira. Assim, é a partir do fim de Janeiro que devem ser contados os dois meses de confinamento que foram aconselhados na reunião do Infarmed por Baltazar Nunes, especialista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, ao afirmar: “Precisamos de manter estas medidas de confinamento por um período de dois meses para trazer o número de camas ocupadas em cuidados intensivos abaixo das 200 e a incidência acumuladas a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes.”
A confirmar-se que não há levantamento de restrições antes da Páscoa e tomando como critério a abertura das escolas ou dos espaços de restauração, tudo aponta para que o actual período de confinamento geral (de, em princípio, 73 dias) seja mais longo do que o de 2020, já que, então, 63 dias depois daquele 16 de Março em que se fecharam escolas e em que os restaurantes ficaram a só poder servir para fora, o país reabriu as salas de aula para os alunos do 11.º e 12.º anos e os espaços de restauração voltaram a ter gente à mesa (18 de Maio), ainda que com novas regras. E as universidades e algum comércio até já tinham reaberto uma semana antes, como prometido pelo primeiro-ministro naquela conferência de imprensa de 30 de Abril, em que avisou que não teria “vergonha nem rebuço em dar um passo atrás”, se o desconfinamento corresse mal.
Agora, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, a necessidade de prolongar o confinamento até ao início de Abril estava já a ser ponderada pelo Governo antes desta reunião, mas o executivo aguardava ouvir o parecer dos especialistas para tomar uma decisão. Daí que o primeiro-ministro tenha assumido essa posição logo na reunião.
“Esmagar a curva”
Membros do Governo já tinham reconhecido ao PÚBLICO a necessidade de um confinamento logo que permita baixar os números. Um responsável governamental sublinhou que “não basta ultrapassar o pico, é necessário esmagar a curva”. Outro elemento do executivo salientou que não pode ser levantado o confinamento a curto prazo numa situação de contaminações “em planalto”.
A principal preocupação é a situação nos hospitais, que “continua gravíssima e vai continuar”, afirmou um responsável governativo, que reconheceu que essa pressão “ainda vai demorar três a quatro semanas, no mínimo”, a aliviar. Outro factor relevante na análise que foi feita ao PÚBLICO por membros do Governo é a média de novos casos nos últimos 14 dias por cem mil habitantes. Esta média, em Portugal, está acima dos 1200 casos, enquanto na Europa é de 402.
Publicamente, o primeiro-ministro apenas fez uma declaração vaga sobre o assunto através da sua conta pessoal do Twitter, ao comentar a reunião em que participara de manhã: “Os elevados níveis da pandemia requerem o prolongamento do actual nível de confinamento.”
No final da reunião do Infarmed, mais explícita foi a ministra da Saúde, Marta Temido, que referiu a intervenção de Baltazar Nunes, para defender um confinamento de dois meses desde o seu início: “Previsivelmente, precisaremos desse período temporal para conseguirmos trazer para baixo o número de doentes em cuidados intensivos para cerca de 200 doentes. É esse o horizonte temporal que os peritos apontaram”, afirmou Marta Temido.
A ministra da Saúde frisou o facto de em Portugal haver ainda “um elevado número de novos casos por dia” que tem de ser contrariado e alertou para a necessidade de estabilizar “os resultados alcançados”, já que “nada está adquirido”, neste momento, e um levantamento precipitado do confinamento poderá levar a uma subida exponencial de contaminações.
Partidos criticam
Em reacção à reunião, o partido mais crítico foi o PCP, que se opõe ao prolongamento do confinamento. Jorge Pires, da comissão política do PCP, considerou “inaceitável” que se mantenha o confinamento durante tanto tempo, alegando que isso “despreza todas as consequências que tem no plano económico, social e de saúde em geral”. E defendeu a contratação de “milhares de profissionais de saúde como está previsto no Orçamento do Estado”, bem como “a protecção social a todos os que perderam remunerações” e o pagamento a 100% do salário aos pais que ficam sem trabalhar por causa do fecho das escolas.
Todos os outros partidos concordaram com o prolongamento do confinamento, mas apenas o PS não criticou o Governo. “A redução que se está a verificar significa que o confinamento tem produzido os resultados que se esperavam. Mas, obviamente, face à delicada e exigente situação que a frente hospitalar ainda atravessa”, é “necessário manter a resiliência das medidas”, salientou o deputado Pedro Cegonho.
O deputado e dirigente do PSD Maló de Abreu considerou que, “por não se ter agido a tempo, ou se ter sido frouxo como foi este Governo”, o confinamento terá “efeitos graves na economia portuguesa”. Igualmente o CDS, em comunicado enviado à Lusa, considerou que os dados “apresentados revelam que o confinamento decretado em finais de Janeiro se deveu a uma reacção tardia e laxista por parte do Governo”.
Moisés Ferreira, deputado do BE, pediu mais medidas de apoio às famílias que têm dificuldades de suportar as despesas de aumento da energia. E insistiu em que seja paga a totalidade dos salários aos pais que têm de ficar com os filhos em casa, devido ao encerramento das escolas. O apoio aos pais foi também defendido por André Silva, do PAN, que pediu mais apoio à restauração e criação de infra-estruturas adequadas para os motoristas de transportes internacionais de bens essenciais. Mariana Silva, deputada do PEV, anunciou que o partido irá manter o voto contra o estado de emergência e pediu um planeamento “adequado” para que a população não relaxe, quando acabar o confinamento.
O deputado João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, defendeu que devem ser retomadas a venda de livros e a prática de desportos individuais, assim como as aulas presenciais, ainda que faseadamente. E André Ventura, do Chega, considerou que “o Governo falhou” tanto na testagem como na estratégia de vacinação. com Álvaro Vieira, Leonete Botelho e Liliana Borges