Mariana van Zeller estreia programa sobre mercados negros no National Geographic
A jornalista de investigação é a primeira portuguesa a ter uma série em nome próprio no canal. Estreia-se a 13 de Fevereiro. A segunda temporada já está a ser filmada e terá dez episódios.
A jornalista de investigação Mariana van Zeller é a primeira portuguesa a ter um programa em nome próprio no National Geographic, com uma nova série que explora os mercados negros globais. Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller estreia-se em Portugal a 13 de Fevereiro.
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A jornalista de investigação Mariana van Zeller é a primeira portuguesa a ter um programa em nome próprio no National Geographic, com uma nova série que explora os mercados negros globais. Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller estreia-se em Portugal a 13 de Fevereiro.
“É uma aventura gigante num mundo completamente desconhecido, mas que tem um impacto enorme nas nossas vidas diárias”, diz à Lusa a jornalista radicada em Los Angeles.
A primeira temporada de Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller tem oito episódios e mostra uma viagem ao submundo de vários mercados negros, desde o tráfico de opiáceos e esteróides a proxenetas e esquemas fraudulentos. “Metade da economia global são mercados ilegais e informais”, diz a jornalista. “Quer dizer que metade da população global trabalha nestes mercados cinzentos ou negros, daí a importância de uma série como esta, porque sabemos muito pouco sobre eles.”
Mariana van Zeller, que filmou com uma equipa de seis a sete pessoas, explicou que há um treino constante sobre segurança e preparação para enfrentar situações voláteis no terreno. “O importante quando chegamos a estas situações, em que estamos a lidar com golpistas na Jamaica ou o cartel de Sinaloa, é mostrarmos sempre que estamos ali sem julgamento, com empatia e que tratamos todas as pessoas com o mesmo respeito e confiança”, afirma. “Ao tratarmos as pessoas dessa maneira, eles tratam-nos assim também.”
Segundo a óptica da jornalista, os criminosos que se dispõem a contar as suas histórias fazem-no por um misto de razões, que vai desde uma questão de ego ao sentimento de impunidade e à necessidade humana de serem compreendidos. “Mesmo viajando aos extremos da nossa sociedade, conseguimos encontrar pessoas que são relacionáveis. Essa é a mensagem principal que quero passar com esta série”, explica.
A jornalista de investigação frisa que, mesmo nas pessoas mais estigmatizadas da sociedade, há “mais semelhanças do que diferenças” com o resto da população. “É muito mais fácil julgarmos e acharmos que não temos nada em comum”, afirma. “É mais difícil, mas chegamos muito mais à verdade, se pusermos o trabalho e o tempo de descobrirmos realmente o que leva uma pessoa a uma vida de crime.”
As histórias dos indivíduos retratados mostram como os contextos sociais são determinantes. “É a falta de oportunidade, é a desigualdade, é a pobreza”, nota van Zeller, apontando para a falta de oportunidades com que se depararam muitos dos protagonistas da série. A jornalista lembra a história de um jovem peruano que, aos 16 anos, enveredou pela profissão de mochilero, transportando cocaína pela selva peruana em condições muito perigosas. Vindo de uma família pobre, o seu objectivo era juntar dinheiro para poder estudar na universidade e tornar-se dentista. “Só ao compreendermos a raiz dos problemas vamos conseguir mudar os mercados negros globais e ter algum impacto no mundo”, frisa.
Mariana van Zeller diz também que uma faceta surpreendente deste submundo é que muitas operações decorrem às claras, sem que sejam levantadas suspeitas. “Às vezes a melhor maneira de operar é fazer as coisas à vista de todos. Nós vimos isso a acontecer.”
Apesar da pandemia, a equipa está já a filmar a segunda temporada, que deverá ter dez episódios. A jornalista refere que a crise sanitária adicionou desafios a uma tarefa que já era complicada e que os efeitos da pandemia são visíveis no terreno, com um grande aumento dos mercados negros. “Sempre que há uma crise económica e as pessoas perdem os empregos, têm de encontrar uma maneira de fazer dinheiro e sobreviver”, salienta. Para muitas pessoas, as únicas oportunidades que surgem envolvem uma vida de crime. “Tem havido uma explosão enorme do mercado de tráfico de armas, de sexo, de drogas. Percebemos que é mais relevante e importante do que nunca fazer uma série como esta”.
Um dos episódios da próxima temporada debruçar-se-á sobre o tráfico de ódio e ideologias, que nos Estados Unidos se agudizou ao longo dos últimos anos. “Estivemos com pessoas que dois meses depois invadiram o Capitólio”, diz à Lusa a jornalista.
A equipa também passou algum tempo com os Proud Boys, classificados pelo FBI como um grupo extremista, e chegou a ser atacada num dos seus eventos por estar a filmar e ser confundida com um meio de comunicação. “Nós, como jornalistas... É um dos momentos mais difíceis da História”, considera van Zeller. “É mais importante do que nunca este trabalho que fazemos da procura da verdade”.
Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller é acompanhada pelo podcast Trafficked, onde os utilizadores poderão ouvir entrevistas com ex-traficantes.