Líder do CDS apela a paz interna, Mesquita Nunes desiste de forçar congresso

Moção de confiança à direcção foi aprovada com margem curta. Francisco Rodrigues dos Santos pede mobilização para as autárquicas

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Francisco Rodrigues dos Santos disse saber ler as críticas mas quer pôr fim às querelas internas LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A pergunta ecoa no CDS: Que capital político conseguiram granjear os críticos da direcção – e com que prazo – depois de Francisco Rodrigues dos Santos passar o teste da moção de confiança por uma margem pouco folgada? Adolfo Mesquita Nunes refreia os ânimos dos que o apoiaram no desafio ao congresso antecipado: respeita os resultados do conselho nacional e promete empenhar-se nas eleições autárquicas. É também para essas eleições que o líder do CDS apela à mobilização dos militantes. Recusando uma “vitória poucochinho”, Francisco Rodrigues pede, sobretudo, paz interna.

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A pergunta ecoa no CDS: Que capital político conseguiram granjear os críticos da direcção – e com que prazo – depois de Francisco Rodrigues dos Santos passar o teste da moção de confiança por uma margem pouco folgada? Adolfo Mesquita Nunes refreia os ânimos dos que o apoiaram no desafio ao congresso antecipado: respeita os resultados do conselho nacional e promete empenhar-se nas eleições autárquicas. É também para essas eleições que o líder do CDS apela à mobilização dos militantes. Recusando uma “vitória poucochinho”, Francisco Rodrigues pede, sobretudo, paz interna.

Na madrugada deste domingo, ao fim de 16 horas de um conselho nacional intenso, a moção de confiança à comissão política nacional do CDS foi aprovada por 144 (54,4%) votos a favor, 113 contra e oito abstenções num universo de 265 votantes. A margem de 31 votos é vista como uma derrota com sabor a vitória pelos críticos mas tem um gosto especial para os apoiantes da direcção: realizou-se por escrutínio secreto.

Logo depois de anunciados os resultados do conselho nacional, que decorreu por videoconferência, Adolfo Mesquita Nunes reforçou os seus argumentos que sustentaram o pedido de congresso antecipado e disputa de liderança. “Fiz aquilo que a consciência me ditava: alertar o partido para uma crise de sobrevivência”, escreveu no Facebook. O ex-vice-presidente do CDS assumiu respeitar o resultado e apontou o seu rumo: “Agora há eleições autárquicas e nelas estarei empenhado na minha terra [Covilhã]”.

Ficou o recado para os que pretendiam forçar um congresso antecipado reunindo quatro mil assinaturas. Esgotou-se a janela temporal para a realização de um congresso extraordinário tendo em conta o calendário das eleições autárquicas. Logo a seguir volta a abrir-se espaço para a reunião magna. E o assumido candidato à liderança, se houvesse congresso já, volta a apresentar-se? Só a avaliação do estado do partido nessa altura permitirá tomar uma decisão. Essa tem sido a argumentação de Mesquita Nunes: só será candidato à liderança se o partido for salvável.

João Almeida, outro dos defensores do congresso antecipado (uma tese aliás sustentada pelos cinco deputados do CDS), escusou-se a fazer interpretações sobre os resultados da moção e assumiu que estará concentrado noutras causas. “Estou focado no trabalho do Parlamento e nas autárquicas. Estou disponível para ser candidato como fui em anteriores eleições”, disse ao PÚBLICO. O deputado costuma concorrer a órgãos municipais em São João da Madeira (Aveiro), a sua terra natal. Nesta reunião do conselho nacional, as eleições autárquicas serviram como arma de arremesso entre os defensores do congresso antecipado e os da direcção.

Com o objectivo de “manter as seis câmaras” e aumentar o número de mandatos, Francisco Rodrigues dos Santos pediu a mobilização dos militantes para as autárquicas em coligação ou listas próprias. Numa intervenção no final do conselho nacional, o líder do CDS disse que saberá “ler os contributos e as críticas” que foi ouvindo, comprometeu-se com um encontro com Mesquita Nunes e deixou um apelo: “Quero pedir-vos que o nosso partido possa beneficiar, finalmente, de um clima de paz interna sem querelas”. É o desejo de um ponto final, depois de um conselho nacional tenso mesmo já nos momentos finais quando a percepção era já a da vitória da direcção. A porta-voz, Cecília Anacoreta Correia, pediu “mandato reforçado” aos conselheiros nacionais e atacou directamente Adolfo Mesquita Nunes ao dizer que quem “executou uma linha política e perdeu 13 deputados não é um salvador da pátria”. 

Ao longo da noite, outras vozes da direcção vieram tentar contrariar a tese do congresso defendida, entretanto, pelo actual e antigos líderes parlamentares (Telmo Correia e Nuno Magalhães), e pelo ex-deputado Hélder Amaral. Fernando de Almeida, vice-presidente da distrital de Aveiro, fez uma intervenção dura, acusando os apoiantes de Adolfo Mesquita Nunes de “gravitarem à volta do partido” e se acharem “donos” do CDS.

Depois de a deputada Cecília Meireles dizer que “o partido está em risco”, Fernando de Almeida voltou a sugerir que a parlamentar abdicasse do cargo para permitir a entrada do líder do CDS: “Se o partido está em risco, dê lugar a Francisco Rodrigues dos Santos”.

O pedido para “rolarem cabeças” e a realização de um congresso extraordinário antecipado é uma “irresponsabilidade” em ano de eleições locais, atirou o coordenador autárquico nacional. Fernando Barbosa, que também lidera a distrital do Porto, adiantou que as deslocações nesse âmbito estão a ser feitas “do seu bolso”.

Mais uma vez, a situação financeira do CDS foi exposta como uma das fragilidades a ter em conta. O secretário-geral, Francisco Tavares, traçou um retrato da herança deixada pela anterior direcção: o passivo de 1,2 milhões de euros, ameaças de execução, carros na oficina sem pneus, dívidas a fornecedores e aos CTT, que impedia o simples envio de cartas. Um partido “totalmente desfraldado”, nas suas palavras. Agora, o CDS tem de obter financiamento para a campanha autárquica.