Quando o perfeccionismo se torna um problema
Vivemos numa sociedade sentimentalista, que se envolve intensamente com o que faz e que, de repente, já não se sabe situar no espaço porque teve problemas no trabalho e não os consegue esquecer.
Desde sempre que ouvimos falar do perfeccionismo enquanto qualidade, mas consegues perceber quando isto se torna um problema? O perfeccionista é aquele que atenta nos pormenores, que “põe quanto é no mínimo que faz”, como diria Ricardo Reis. Contudo, isto levado aos extremos pode ir criando uma sensação de que nada está bem. As tarefas são revistas imensas vezes sob a pressão de se querer atingir a excelência, existe um enorme medo do feedback e, quando as terminamos, há uma sensação de satisfação temporária e várias interrogações. O medo de errar torna uma actividade prazerosa num momento de stress e ansiedade.
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Desde sempre que ouvimos falar do perfeccionismo enquanto qualidade, mas consegues perceber quando isto se torna um problema? O perfeccionista é aquele que atenta nos pormenores, que “põe quanto é no mínimo que faz”, como diria Ricardo Reis. Contudo, isto levado aos extremos pode ir criando uma sensação de que nada está bem. As tarefas são revistas imensas vezes sob a pressão de se querer atingir a excelência, existe um enorme medo do feedback e, quando as terminamos, há uma sensação de satisfação temporária e várias interrogações. O medo de errar torna uma actividade prazerosa num momento de stress e ansiedade.
Este traço de personalidade tende a alargar-se à vida social. O perfeccionista não consegue sequer imaginar-se a trabalhar com alguém que não esteja à altura do cargo que desempenha, nem tampouco relacionar-se, no campo da sua vida pessoal, com alguém que não atinja os seus ideais. Estas pessoas são, portanto, não só exigentes consigo mesmas como também com os outros.
É preciso perceber quando se deve parar, ser conhecedor dos seus limites e estar aberto a críticas. No panorama estudantil, damos conta de estudantes a competirem entre si, mais concretamente a nível de notas. Os mais novos pressionados pelos pais, ainda que se tenham vindo a desenvolver mais rapidamente com o passar das gerações, e os mais velhos já bem cientes da actual exigência. Acredito que seja difícil manter o equilíbrio quando o mundo corre a um ritmo difícil de acompanhar, seja a nível tecnológico ou informativo, no entanto cobrarmo-nos demasiado só nos leva à exaustão e à estagnação. Vivemos numa sociedade sentimentalista, que se envolve intensamente com o que faz e que, de repente, já não se sabe situar no espaço porque teve problemas no trabalho e não os consegue esquecer.
Para se combater este tipo de comportamentos disfuncionais, há que, primeiro que tudo, e como tudo na vida, aceitar que este não é o rumo certo a tomar e estar disposto à mudança, por mais assustador que pareça. A evolução é um processo gradual, não imediato, e envolve estar exposto a outras perspectivas, por isso passar a ouvir o outro e não tomar a nossa verdade como verdade absoluta é muito importante. Não misturar os espaços em que nos dispomos ao longo do dia é outro ponto a reter, porque os momentos para nós, ou para a nossa família, nunca serão momentos em que se poderia estar a trabalhar e também existem momentos produtivos provenientes destes diálogos. Depois, podemos e devemos abdicar da verificação excessiva do trabalho em curso, tomando decisões mais eficazes.
Por fim, e não deixando de respeitar a hierarquia existente nos vários sectores, entender que todos somos humanos, que errar é algo natural e os que estão no topo também erram por vezes. O que importa aqui é entender onde se errou e desenvolver estratégias para que não se torne a repetir o mesmo erro. Diria que a inteligência se resume a isso — aprender com os erros.