Covid-19: vacinas são menos eficazes contra a variante da África do Sul, mas parecem prevenir casos graves
Resposta de vacinas no mercado e em ensaios clínicas face à variante 501Y.V2 é menos eficaz, mas os estudos mostram que continuam a evitar manifestações mais graves da covid-19. Diminuição da eficácia estará ligada a casos leves ou moderados e à redução do período de imunidade.
À medida que a vacinação se desenrola pelo mundo e novas vacinas progridem nos ensaios clínicos para reforçar o arsenal de combate à pandemia do novo coronavírus, as fileiras do SARS-CoV-2 são reforçadas por várias mutações que podem alterar um pouco a configuração da batalha. A preocupação dos cientistas está agora focada na variante 501Y.V2 (ou linhagem B.1.351), descoberta inicialmente na África do Sul: estudos feitos à resposta das vacinas mostram que a sua eficácia para proteger desta estirpe é menor.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
À medida que a vacinação se desenrola pelo mundo e novas vacinas progridem nos ensaios clínicos para reforçar o arsenal de combate à pandemia do novo coronavírus, as fileiras do SARS-CoV-2 são reforçadas por várias mutações que podem alterar um pouco a configuração da batalha. A preocupação dos cientistas está agora focada na variante 501Y.V2 (ou linhagem B.1.351), descoberta inicialmente na África do Sul: estudos feitos à resposta das vacinas mostram que a sua eficácia para proteger desta estirpe é menor.
Os dados mais recentes dizem respeito à desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. Um estudo divulgado este sábado, 6 de Fevereiro, pelo jornal britânico Financial Times, feito em parceria pelas universidades Witwatersrand (conhecida por Wits), na África do Sul, e de Oxford, no Reino Unido, mostrou que a vacina tinha uma eficácia reduzida contra a variante sul-africana.
“Os primeiros dados [do ensaio] mostram uma eficácia limitada contra doenças leves [causadas pelo vírus SARS-CoV-2], principalmente devido à variante sul-africana B.1.351”, disse a porta-voz da AstraZeneca em resposta ao Financial Times, acrescentando que não foi possível “verificar devidamente o efeito contra doenças graves e hospitalizações, dado que os sujeitos eram predominantemente jovens adultos saudáveis”.
Com base em outros estudos, a farmacêutica britânica acredita que a vacina é eficaz contra esses casos mais graves, uma vez que a actividade neutralizadora dos anticorpos “é equivalente à de outras vacinas contra a covid-19 que demonstraram ser eficazes contra casos de doença mais graves”. Refere, no entanto, que essa eficácia ainda não foi confirmada.
Solução pode passar por doses de vacina preparada contra a variante
As vacinas têm demonstrado conseguir responder de forma eficaz à variante do Reino Unido, mas não evitar manifestações leves ou moderadas no caso da estirpe sul-africana. Isto deve-se à diferença nas mutações da 501Y.V2, que tem oito mutações definidoras da linhagem na proteína da espícula, responsável pela entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas, incluindo ao nível da ligação com o receptor das células e que podem “ter um importante significado funcional”, dizia há dias ao PÚBLICO a virologista Marta Giovanetti, virologista italiana do laboratório de referência de flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
Dos milhares de mutações que o vírus já sofreu, as identificadas no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil têm preocupado mais a comunidade científica. Mas se no Reino Unido a preocupação estava na maior transmissibilidade, nas outras duas as atenções também se viram para a mutação E484K, suspeita de poder contribuir para que o vírus escape às respostas imunitárias de algumas pessoas.
A Pfizer-BioNTech realizou testes de laboratório in vitro com resultados que indicam que a neutralização de um vírus com as mutações encontradas na estirpe sul-africana foi “ligeiramente inferior” comparada com a neutralização de outros vírus. O resultado levou as empresas a afirmar que acreditam que as pequenas diferenças não devem levar a uma “redução significativa da eficácia da vacina", garantindo que vão continuar a avaliar as mutações e que estão preparadas para responder caso uma variante do SARS-CoV-2 escape à imunidade da vacina – algo que, para já, não se verificou.
Quanto à vacina da Moderna, os primeiros estudos mostram que, apesar de proteger contra o vírus, há uma diminuição da capacidade de neutralização do vírus, o que “pode sugerir um risco potencial do desvanecimento mais precoce da imunidade” em relação a esta variante, de acordo com um comunicado da empresa, devido à eficácia seis vezes menor dos anticorpos. A farmacêutica afirma, ainda assim, que os valores verificados são suficientes para protegerem do vírus, segundo refere o New York Times. Por precaução, a Moderna já começou também a desenvolver uma vacina que pode ser utilizada para reforçar a resposta a esta variante, acreditando que, quando pronta, permita prolongar um ano o período de imunidade.
A vacina da Sinopharm, em utilização na China e em outros países como os Emirados Árabes Unidos ou o Egipto, também foi testada contra esta variante. Segundo o Instituto de Produtos Biológicos de Pequim (que desenvolveu a vacina), a resposta a esta variante teve apenas “uma ligeira redução” da eficácia, o que permitiu concluir que a estirpe sul-africana “não escapa à imunidade induzida” por esta vacina, que utiliza vírus SARS-CoV-2 inactivados para treinarem as células do sistema imunitário a atacar o vírus no seu estado natural. O estudo não foi ainda publicado em qualquer revista científica.
Vacinas em ensaios clínicos também têm eficácia reduzida
Tanto a Johnson & Johnson como a Novavax, ainda na terceira fase de ensaios clínicos, confirmaram que as suas vacinas são menos eficazes contra esta variante nos ensaios clínicos realizados na África do Sul. No caso da primeira, foi conseguida uma eficácia de 57% nos testes, inferior aos 72% dos ensaios clínicos em solo norte-americano e aos 66% na América Latina. Já a Novavax teve uma descida da eficácia de 89,3% contra a maior parte das outras variantes para um pouco menos de 50% nos testes na África do Sul, tendo sido justificada a descida com o facto de a 501Y.V2 ser responsável por mais de 90% dos casos do país. O estudo incluiu 240 pessoas seropositivas – e quando estas são excluídas da análise, a eficácia da vacina sobe para 60,1%.
A boa notícia é que a resposta imunitária possibilitada por ambas as vacinas manteve uma eficácia muito alta na prevenção de casos graves e de prevenção de hospitalização: a eficácia foi de 85% em todas as regiões no caso da Johnson & Johnson e nos ensaios da Novavax nenhum dos vacinados que ficou infectado teve uma manifestação grave da doença. A Novavax anunciou que já está a desenvolver uma nova versão da vacina elaborada para combater esta variante.