Covid-19: provedor da Santa Casa de Angra do Heroísmo afasta vacinação indevida
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo (SCMAH), diz a vice-provedora da Misericórdia dos Açores, foi o único membro da direcção vacinado antes do tempo. A vice-provedora, Lucília Fagundes, anunciou que decidiu suspender funções.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo (SCMAH), nos Açores, afirmou este sábado que, da mesa da instituição, apenas a vice-provedora foi vacinada contra a covid-19 e por existirem sobras.
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O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo (SCMAH), nos Açores, afirmou este sábado que, da mesa da instituição, apenas a vice-provedora foi vacinada contra a covid-19 e por existirem sobras.
“Após a constatação da existência de doses sobrantes em risco de se perderem pós-conclusão da vacinação dos utentes e profissionais, foram, no curto espaço de tempo de vida útil das vacinas, tentados, em último recurso, diversos contactos previamente à inoculação da senhora vice-provedora, responsável pelos recursos humanos da instituição, não tendo esta sido a primeira a ser vacinada com essas doses, nem tão pouco a mesma o solicitou ou sugeriu”, avançou, este sábado, em conferência de imprensa, o provedor da SCMAH, António Bento Barcelos.
O esclarecimento surgiu depois de a TVI ter divulgado que vários membros da direcção da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, nos Açores, tinham sido indevidamente vacinados contra a covid-19 ainda no final de Dezembro. A estação de televisão divulgou listas para vacinação contra a covid-19 em que eram incluídos os nomes de quatro mesários da instituição, incluindo o provedor, e uma declaração de consentimento assinada pela vice-provedora. Os documentos davam a entender que os registos de vacinação de membros da direcção tinham sido posteriormente omitidos das listas de pessoas vacinadas naquela instituição.
Segundo Bento Barcelos, a equipa técnica da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo entendeu que os mesários em causa tinham critérios para integrar a segunda fase da vacinação, que ocorreu no dia 3 de Fevereiro, mas os visados rejeitaram ser vacinados, por isso, os nomes foram excluídos nas versões seguintes da lista inicial, que, frisou, era apenas um “documento de trabalho”.
"Nós não fomos vacinados"
“Nós não fomos vacinados”, sublinhou, acrescentando que não existem declarações de consentimento informado assinadas pelos quatro mesários visados.
O provedor disse que a segunda versão da lista, enviada à Unidade de Saúde da Ilha Terceira (USIT), ainda incluía o nome de um dos mesários, mas por lapso, tendo sido corrigido na terceira versão.
“Não corresponde à verdade que tenha havido qualquer intenção de prestação de falsas informações ou de ocultação de dados perante a Autoridade de Saúde e a Unidade de Saúde da Ilha Terceira, repudiando-se, veementemente, a afirmação de que a SCMAH tivesse procurado ocultar casos de vacinação indevida”, afirmou.
Quanto ao nome da vice-provedora, não consta da lista divulgada, por esta ter sido vacinada na primeira fase, no dia 31 de Dezembro de 2020, mas integra a lista pós-vacinação enviada à Unidade de Saúde de Ilha no dia 6 de Janeiro, segundo Bento Barcelos.
O provedor acrescentou que só no dia 2 de Fevereiro tomou conhecimento dos critérios emanados pela Direcção Regional da Saúde, em que é dito que “por maioria de razões, e numa primeira análise, os provedores e membros das mesas das santas casas e funções análogas não deverão ser abrangidos” na vacinação contra a covid-19.
Bento Barcelos salientou, por outro lado, que “a SCMAH procedeu à vacinação de todos os seus utentes e profissionais” da unidade de cuidados continuados integrados e da estrutura residencial para pessoas idosas.
O provedor reiterou que a mesa da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo está “disponível para prestar toda a informação e esclarecimentos necessários às entidades competentes”, acrescentando que solicitou ao Governo Regional que “determine a intervenção da Inspecção Regional da Saúde para o apuramento de todos os factos”.
Vice-provedora suspende funções
A vice-provedora, Lucília Fagundes, que entretanto foi nomeada directora regional para a Promoção da Igualdade e Inclusão Social, disse que foi informada no próprio dia 31 de Dezembro que tinham sobrado “duas doses da vacina”, porque “dois dos colaboradores desistiram de ser vacinados”, e que essas doses “se inutilizariam caso não fossem administradas no espaço de 15 minutos”.
“Como responsável pelos recursos humanos da instituição, cargo que desempenho em regime de voluntariado, e, consequentemente, sendo a mesária que mantém contactos directos regulares com os funcionários, utentes e as suas famílias, e porque também os trabalhadores administrativos da instituição, que têm exactamente o mesmo contacto que mantenho com os utentes e colaboradores, foram vacinados na sequência das orientações emanadas da USIT, concordei, tendo em conta o contexto especial da instituição, em ser vacinada”, revelou, na mesma conferência de imprensa.
Lucília Fagundes frisou que o processo foi acompanhado pelos enfermeiros da Unidade de Saúde da Ilha Terceira, acrescentando que foi vacinada “um mês antes” de ter sido convidada a ocupar o cargo de directora regional no actual executivo açoriano.
A vice-provedora decidiu suspender funções “até à conclusão da investigação dos factos” e anunciou uma acção judicial.
“Tendo em conta a gravidade das acusações que se são imputadas, vou entregar o caso ao meu advogado para apuramento das responsabilidades em sede judicial”, apontou.
A vice-provedora decidiu, no entanto, suspender funções “até à conclusão da investigação dos factos” e anunciou uma acção judicial.
“Tendo em conta a gravidade das acusações que se são imputadas, vou entregar o caso ao meu advogado para apuramento das responsabilidades em sede judicial”, apontou.