CDS-PP em zoom out
Prevaleça Adolfo Mesquita Nunes ou resista Francisco Rodrigues dos Santos, isso ainda será pouco para salvar o CDS-PP.
“O criminoso é sempre o coitadinho”; “as forças de segurança, em vez de serem apoiadas, são desautorizadas”; “já não somos um país de brandos costumes, por isso não podemos ser um país de leis brandas”; o RSI é um “financiamento à preguiça”; “anda-se de arma e RSI na mão”; “os ciganos do rendimento mínimo garantido”; “é óbvio que há uma relação entre imigração descontrolada e aumento de fenómenos de criminalidade”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“O criminoso é sempre o coitadinho”; “as forças de segurança, em vez de serem apoiadas, são desautorizadas”; “já não somos um país de brandos costumes, por isso não podemos ser um país de leis brandas”; o RSI é um “financiamento à preguiça”; “anda-se de arma e RSI na mão”; “os ciganos do rendimento mínimo garantido”; “é óbvio que há uma relação entre imigração descontrolada e aumento de fenómenos de criminalidade”.
As frases transcritas fazem lembrar um partido jovem da nossa democracia que tem andado no centro da discussão política, mas a verdade é que foram proferidas pelo líder de um dos partidos fundadores desta democracia, o CDS-PP. Paulo Portas não é certamente André Ventura, mas muito do eleitorado que hoje é receptivo às mensagens do Chega encontrou no partido da segurança, do mundo rural, dos pensionistas contra o RSI, das quotas para a emigração a sua casa.
Que Paulo Portas tenha feito isso, sem nunca atingir um radicalismo que o excluísse do arco do poder, fala da mestria do político, mas também de como os tempos eram outros. Portas não tinha concorrentes para o seu produto político destinado a nichos de eleitores que não encontravam resposta nos partidos ao centro nem à esquerda. Como mostram os últimos resultados das legislativas e as sondagens reafirmam, a chegada da Iniciativa Liberal e do Chega alteraram tudo.
Roubadas as bandeiras aos centristas, em tempos em que o radicalismo rende mais do que o habilidoso jogo de cintura de Portas, o CDS-PP tem nas autárquicas a sua última e remota possibilidade de resistência a partidos que têm ainda uma frágil implantação territorial. O acordo com o PSD é uma peça importante para essa estratégia e Francisco Rodrigues dos Santos, a meio de um mandato passado até agora praticamente em pandemia, sem ter presença no Parlamento, não pode deixar de estar de olhos postos nessa possibilidade.
A interminável reunião deste sábado, numa plataforma de teleconferências, mostra ao país um partido que soube criar bons quadros políticos, que tem no seu interior quem continue a lutar pela sua sobrevivência, mas que de momento só fala entre si. Venha a prevalecer Adolfo Mesquita Nunes ou a resistir Francisco Rodrigues dos Santos, isso ainda será muito pouco para salvar um partido que parece lentamente estar a desaparecer no horizonte.