Já fecharam 300 ginásios em Portugal. Segundo confinamento foi um “balde de água fria”

Espaços dedicados ao exercício físico tiveram uma quebra de 50% na facturação em 2020. O P3 falou com profissionais da área que tiveram de fechar o negócio temporariamente.

Fotogaleria

As portas fechadas, o espaço vazio e a falta do barulho da barra a bater nos ferros, entre outros sons característicos de um ginásio em actividade, fazem adivinhar um clube que teve de fechar portas por tempo ainda indeterminado. O 4U Studio, em Vila Nova de Gaia, abriu ao público em Novembro de 2020, em plena pandemia de covid-19, e a realidade, ali, mudou com pouco mais de dois meses de trabalho. Os personal trainers (PT) Marco Duarte e Cristiano Marinho, sócios-gerentes do espaço, receberam a notícia de um segundo confinamento em Portugal como “um balde de água fria”. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As portas fechadas, o espaço vazio e a falta do barulho da barra a bater nos ferros, entre outros sons característicos de um ginásio em actividade, fazem adivinhar um clube que teve de fechar portas por tempo ainda indeterminado. O 4U Studio, em Vila Nova de Gaia, abriu ao público em Novembro de 2020, em plena pandemia de covid-19, e a realidade, ali, mudou com pouco mais de dois meses de trabalho. Os personal trainers (PT) Marco Duarte e Cristiano Marinho, sócios-gerentes do espaço, receberam a notícia de um segundo confinamento em Portugal como “um balde de água fria”. 

A 15 de Janeiro, os ginásios, recintos e pavilhões desportivos voltaram a fechar-se, fazendo cumprir uma das medidas extraordinárias de combate à pandemia de covid-19. Segundo o presidente da Associação de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP), José Carlos Reis, já encerraram desde o início da pandemia cerca de 300 clubes, quase um terço dos espaços dedicados ao fitness em Portugal. 

A AGAP nota ainda a quebra de 50% da facturação na área do fitness em 2020 e a perda de cerca de cinco mil postos de trabalho, passando-se de 17 mil empregos directos no final de 2019 para perto de 12 mil. Assim, ter uma boa almofada financeira, recorrer aos apoios do Estado ou reforçar o acompanhamento online são algumas das soluções de que os PT se têm valido para contornar a quebra de rendimentos. 

Foto
Acompanhamento online tem sido uma opção de treino dos PT Nelson Garrido

Quem tem poupanças acaba por usá-las

Cristiano Marinho não acredita que a economia portuguesa possa aguentar este segundo confinamento. No caso concreto do fitness, os profissionais da área estiveram muito tempo parados, com os seus postos de trabalho sem funcionar e, por isso, “a situação torna-se mais complicada para quem não tem economias”, diz ao P3. 

“Cai a nossa qualidade de vida, além de termos de recorrer às nossas economias”, completa Marco Duarte. “No primeiro confinamento, estávamos ainda a trabalhar numa grande cadeia de ginásios e por isso tivemos alguns apoios”, conta o sócio-gerente do 4U Studio. Ajudas que neste segundo confinamento ainda não chegaram. 

Para José Carlos Reis, da AGAP, a conjuntura em que os dois PT se encontram é apenas um exemplo entre muitas outras “situações extremamente graves e preocupantes”. “É este tipo de negócio de auto-emprego que sai mais afectado nestas crises. Há empresas que investiram, criando emprego no início de 2020, e que não têm tido apoios”, explica. 

Apesar de poderem acompanhar os alunos via online, o rendimento é notoriamente mais baixo. Por exemplo, Cristiano e Marco cobram metade do valor comparativamente aos treinos presenciais. Os preços variam consoante o tempo de cada sessão e do número de sessões de treino por mês, sendo no 4U Studio possível encontrar mensalidades a partir de 50 euros. 

Foto
Ginásios estão fechados ao público desde 15 de Janeiro. Nelson Garrido

“Não têm direito a qualquer apoio do Estado”

“São espaços novos e, por isso, não há forma de comparar a facturação com a de 2019 porque nem existiam ainda”, diz José Carlos Reis. Por essa razão, “não têm direito a qualquer apoio do Estado”. É uma situação que a AGAP tem procurado denunciar junto do Governo.

Colegas de profissão e também amigos, Marco e Cristiano concordam que este segundo confinamento veio, “mais uma vez, adiar um sonho e também o retorno do investimento” que fizeram para que o 4U Studio pudesse abrir portas.

Sendo uma tendência que tem vindo a crescer a nível internacional e que só agora está a chegar a Portugal, ter um estúdio de PT era já uma aspiração antiga de ambos. “Já andávamos a ponderar abrir um estúdio nosso e o primeiro confinamento deu para pensarmos, muito, naquilo que realmente queríamos enquanto profissionais”, recorda Marco Duarte. “Todo o profissional da área quer ter um espaço próprio, é o topo da carreira”, completa Cristiano Marinho. 

Os PT mantêm agora a esperança de que seja possível reabrir o 4U Studio ainda em Março deste ano. “Quando tudo isto passar, gostaríamos de ter mais dois PT a trabalhar connosco. Somos ambiciosos e, ao fim de um ano ou dois, já queremos abrir outro [estúdio]”, confessam, entre risos. 

José Carlos Reis não é, contudo, tão optimista, apesar de ressalvar que os ginásios deveriam reabrir “numa primeira fase de desconfinamento e ao mesmo tempo que as escolas”, não acredita que isso seja possível antes da Páscoa, em Abril. Ambos os profissionais lembram ainda o papel importante que a prática de exercício físico desempenha na saúde humana (também mental), no reforço do sistema imunitário e na prevenção de doenças.