Portugueses “não respeitaram as restrições” no Natal e Ano Novo, diz ministro

Em entrevista ao New York Times, Pedro Siza Vieira afirma que as próximas semanas “vão ser difíceis”.

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ANTÓNIO COTRIM/LUSA

O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, disse ao jornal norte-americano New York Times que o aumento do número de infecções no último mês está relacionado com o facto de “muitas pessoas” terem visitado os seus familiares durante o período das festas, “ignorando as restrições”, e que as próximas semanas “vão ser difíceis”.

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O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, disse ao jornal norte-americano New York Times que o aumento do número de infecções no último mês está relacionado com o facto de “muitas pessoas” terem visitado os seus familiares durante o período das festas, “ignorando as restrições”, e que as próximas semanas “vão ser difíceis”.

Numa entrevista feita pelo telefone, o jornal cita o ministro da Economia a dizer que os dados sobre a “mobilidade no país mostram que as pessoas não respeitaram as restrições” na quadra natalícia. “Muitos” terão percorrido o país, ignorando as regras que proibiam as viagens domésticas, escreve o diário. 

Na entrevista, que versa sobre a pressão nos hospitais portugueses, não fica imediatamente claro a que restrições se refere Siza Vieira. As deslocações entre concelhos no período de Natal estavam permitidas (entre os dias 23 a 26 de Dezembro), precisamente para possibilitar as viagens durante o Natal. Nas noites de 24 e 25 de Dezembro esteve permitida a circulação na via pública até às 2h da madrugada. Não foi quantificado um limite aos ajuntamentos dentro de portas — ao contrário do que aconteceu noutros países —, com António Costa a apelar ao bom senso dos portugueses e a lembrar que o risco é maior quanto maior for o número de pessoas sentadas à mesma mesa. 

Foi no Ano Novo que as deslocações estiveram proibidas: não foi permitido mudar de concelho de 31 de Dezembro a 4 de Janeiro. Também não foram permitidos os ajuntamentos com mais de seis pessoas na via pública, para evitar os festejos. 

Contactado pela Renascença, o gabinete do ministério da Economia assegurou que o objectivo das declarações não era imputar a culpa aos portugueses. A referência ao “período das festas” terá sido uma interpretação do jornalista do New York Times, acrescenta.

Costa assumiu erro

António Costa assumiu, a 19 de Janeiro, que o relaxamento das restrições pelo Natal foi um erro: “Nas circunstâncias em que estamos hoje, nunca nenhum de nós teria defendido aquelas medidas. Foram tomadas em função das circunstâncias e dos dados que tínhamos”, disse, no debate parlamentar. “Se acha que resolve o problema do país dizer a culpa é minha, ofereço-me desde já esse sacrifício. É assim que eu vivo com a minha consciência e assumindo plena responsabilidade pelas circunstâncias em que o país está hoje”.

Dias depois, voltou a assumir a responsabilidade pelo aumento de casos subsequente: "Se tivéssemos conhecimento do quadro da variante inglesa, teríamos definido regras mais apertadas no Natal. Na altura não tínhamos esse conhecimento. Toda a gente concordava com as regras do Natal, tínhamos empresários da restauração à porta da Assembleia da República”, afirmou, durante uma entrevista no programa Circulatura do Quadrado, na TVI 24.

Noutra peça, assinada pelo mesmo jornalista do New York Times, Pedro Siza Vieira afirma que as próximas semanas “vão ser difíceis”: “Estamos a usar toda a capacidade do país”, referindo-se, novamente, à resposta médica.

“Não temos evidência de que a variante brasileira esteja significativamente activa em Portugal, mas temos provas de que a variante britânica explica mais de metade dos novos casos, particularmente na área de Lisboa [e Vale do Tejo]”, cita o mesmo jornal.

“Agora temos ajuda internacional a chegar para tentar salvar tantas vidas quanto possível”, disse o ministro, referindo-se aos médicos alemães que chegaram na quarta-feira. “Mas chegará a altura de avaliar o que correu mal.”

O ministro da Economia foi um dos membros do executivo que ficou infectado com o novo coronavírus, depois de ter estado em contacto com o ministro das Finanças, que também esteve infectado.