Escolas: regressámos a março de 2020
Esta inação governativa parece indicar que lá para os lados da 24 de julho nunca se pensou seriamente que tivéssemos de voltar a encerrar as escolas e, por conseguinte, tudo foi tratado à boa maneira portuguesa.
Não coloco em causa o encerramento das escolas, nem sequer a opção pela interrupção letiva, até porque a defendi. Considerando o cenário pandémico, o número de mortos a aumentar e o caos a chegar às urgências, encerrar foi a decisão inevitável.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Não coloco em causa o encerramento das escolas, nem sequer a opção pela interrupção letiva, até porque a defendi. Considerando o cenário pandémico, o número de mortos a aumentar e o caos a chegar às urgências, encerrar foi a decisão inevitável.
Não terá sido uma decisão fácil, as pressões eram muitas, umas a favor, outras contra. O Governo decidiu, está decidido. Tivemos 15 dias de interrupção letiva e com isso o Governo ganhou 15 dias para reorganizar a entrega dos kits informáticos para assim fazer avançar o ensino remoto.
Na realidade, é para a maioria bastante claro que o Governo falhou na implementação do projeto da Escola Digital. Como percebemos todos, não bastou “mandar” para cima do projeto 400 milhões de euros aquando da sua apresentação. A modus operandi não é novo, anuncia-se o projeto, informa-se em maiúsculas o valor da operação e a magia acontece. Só que não!
Passaram-se mais de oito meses desde a promessa de António Costa onde garantia que em setembro todos os alunos teriam o seu computador para poderem, sempre que fosse necessário, transitar para o ensino remoto. Mas a realidade está muito longe da promessa. Soubemos que no final do 1.º período foram, apressadamente, entregues os primeiros kits tecnológicos, mas também sabemos que essa quantidade é manifestamente inferior às necessidades que apontam para mais de 360.000 alunos com apoios da Ação Social Escolar.
Esta é a principal causa para que não se tenha transitado para o Ensino à Distância (E@D). Mas não é a única. Se é verdade que as escolas na sua grande maioria tinham os planos de E@D delineados e prontos a serem colocados em prática, também é verdade que, juntando à carência de kits por parte dos alunos, só em janeiro terminou a fase de diagnóstico das competências digitais. Ou seja, o Governo está com um atraso neste processo de pelo menos um período escolar, cerca de três meses.
Estaremos todos nós a ser demasiado exigentes com o Executivo? A pergunta é até legítima. Mas creio que possamos responder, sem hesitação, que não. Não passou nem um, nem dois, nem três meses, passou quase um ano. Esta inação governativa parece indicar que lá para os lados da 24 de julho nunca se pensou seriamente que tivéssemos de voltar a encerrar as escolas e, por conseguinte, tudo foi tratado à boa maneira portuguesa.
Além disso, como acabou por acontecer em alguns municípios, a compra e respetiva entrega de equipamentos deveria ter sido conferida ao poder local, agilizando assim o processo, descentralizando e desburocratizando-o, mesmo que as verbas dedicadas viessem do poder central para evitar as tão badaladas desigualdades.
Esta situação traz-nos aqui, hoje, a poucos dias de recomeçar o E@D e quando já corre o “boato” nos corredores dos Agrupamentos Escolares de que os kits não vão chegar a tempo, mas que deveremos ainda assim regressar a 8 de fevereiro. Como? Exatamente como o fizemos em março de 2020. Agravando as desigualdades.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico