BPI “reservou” 151 milhões para impactos futuros da pandemia
Banco afasta “situação de alarme” criada com o fim das moratórias de crédito, mas defende medidas de longo prazo para sectores mais afectados.
O BPI registou no exercício de 2020 um lucro consolidado de 104,8 milhões de euros, bem longe dos 327,9 milhões de euros obtidos em 2019, como a actividade em Portugal a “encolher” para 84,3 milhões de euros (face a 231 milhões de euros em 2019). Para a diminuição de 68% dos resultados líquidos, divulgados esta quinta-feira, contribuiu “a constituição de 151 milhões de euros de imparidades de crédito líquidas, incluindo imparidades não alocadas de 97 milhões de euros, para prevenir impactos futuros da pandemia”.
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O BPI registou no exercício de 2020 um lucro consolidado de 104,8 milhões de euros, bem longe dos 327,9 milhões de euros obtidos em 2019, como a actividade em Portugal a “encolher” para 84,3 milhões de euros (face a 231 milhões de euros em 2019). Para a diminuição de 68% dos resultados líquidos, divulgados esta quinta-feira, contribuiu “a constituição de 151 milhões de euros de imparidades de crédito líquidas, incluindo imparidades não alocadas de 97 milhões de euros, para prevenir impactos futuros da pandemia”.
Em conferência de imprensa, João Oliveira e Costa, presidente executivo do BPI, referiu que “grande parte das imparidades foram feitas por prudência”, e procurou desdramatizar o impacto fim das moratórias de crédito no banco e no sistema financeiro em geral.
“É prematuro” dizer-se que “haverá uma situação de alarme” com o fim da suspensão dos pagamentos dos empréstimos (capital e juros ou apenas uma das componentes), admitiu o presidente do banco que faz parte do grupo espanhol Caixabank.
Mas reconhece, do lado das empresas, que a situação dos empréstimos objecto de moratória não é toda igual. “Acredito que haverá muitas dificuldades em alguns sectores”, referiu, defendendo, por isso, que novos apoios sejam direccionados para os sectores mais afectados.
Para João Oliveira e Costa, as novas soluções de apoio à recuperação da economia “devem ser de longo prazo e não de curto”, e elenca como sectores a necessitar de maior atenção os ligados ao turismo, à restauração, ao automóvel, aos transportes, à economia social e à cultura.
No final de 2020, BPI tinha 97,5 mil contratos abrangidos pelas moratórias concedidas no âmbito da pandemia de covid-19, correspondentes a 5620 milhões de euros, a esmagadora maioria incluídas na chamada moratória legal ou pública.
Do total de moratórias, que o banco diz acompanhar “muito de perto”, 98,2% estavam em situação regular. Em valor, 2495 milhões de euros dizem respeito a crédito à habitação, 333 milhões a crédito pessoal e financiamento automóvel, e 2792 milhões de euros de crédito a empresas.
O presidente executivo do BPI, destacou “o forte dinamismo na actividade comercial do BPI, num contexto adverso e de dimensão inédita”, e garantiu que “o banco está preparado para enfrentar 2021”, que diz ter começado “de forma inesperada”, referindo-se ao impacto da pandemia.
Para além da “robustez do seu balanço”, lembrou que o BPI pode contar com “a dimensão muito significativa do seu accionista, o Caixabank”.
Entre os principais indicadores da actividade no último ano, o banco destaca o aumento dos depósitos em 3000 milhões de euros, (mais 13%), o aumento do crédito em 1,3 mil milhões, dos quais um crescimento de 20% no crédito hipotecário, para 1741 milhões de euros. A carteira de crédito a empresas subiu 5,9% face a 2019 para 10.072 milhões de euros.
João Oliveira e Costa destacou ainda a solidez do balanço da instituição, destacando, entre outros indicadores, a melhoria no rácio de Non-performing Exposures (NPE, critérios da EBA), ou crédito não produtivo/incumprimento, que melhorou de 2,5% em Dezembro de 2019 para 1,7% (-0,8 pontos percentuais) no final de 2020. “O BPI mantém o melhor rácio NPE do sector financeiro em Portugal, reflectindo a elevada qualidade dos activos do banco”, lê-se no comunicado de apresentação de resultados, que dá ainda conta que “a cobertura de NPE por imparidades e colaterais sobe para 140%”. O rácio de Non Performing Loans (NPL, de acordo com critérios da EBA) desceu um ponto percentual, para 2,1% no ano.
“Os proveitos core evidenciaram uma elevada resiliência, num enquadramento económico fortemente adverso, com o produto bancário comercial a manter-se estável (-0.3%) face a 2019”, refere a instituição, acrescentado que a margem financeira aumentou 3,2%, para 450,1 milhões de euros.
Já as comissões líquidas diminuíram 5% em termos homólogos, para 244,9 milhões de euros.
A instituição destaca ainda que “cumpriu por margem significativa os rácios mínimos exigidos pelo Banco Central Europeu (BCE) para 2020: rácio CET1 de 14.1%, rácio Tier 1 de 15.6% e rácio de capital total de 17.3%. O rácio de leverage situa-se em 7.3%”.
Menos trabalhadores e balcões
O banco terminou o ano com menos 218 trabalhadores e 55 agências, num processo que o CEO apresentou como natural, “sem nenhum programa por detrás definido”. A instituição fechou o ano com 4622 trabalhadores, e com 422 agências, das quais 360 balcões (menos 46 que em 2019), e 27 centros premier (menos nove que em 2019), mantendo um balcão móvel e 34 centros de empresa e institucionais.
Pedro Oliveira e Costa adiantou que o banco “tem mantido uma disponibilidade para o diálogo com os colaboradores que pretendem que a sua vida profissional tenha outro rumo”.