Solidariedade: a derradeira prova da pandemia
Se é verdade que todos precisam de suporte, já que nenhum de nós está a salvo nesta situação de risco e incerteza, também é igualmente verdade que podemos, passo a passo, amenizar o sofrimento e a incerteza. Uma homenagem aos muitos profissionais de saúde.
Com grande frequência vemos (na vida real ou na digital) narrativas de vítimas directas e indirectas da pandemia: (ex-)pacientes, técnicos de saúde, professores, estudantes, pais, aposentados, funcionários com reduções de vencimento ou desempregados. Famílias inteiras que lutam para sobreviver e fazer luto de outros tantos que não o puderam, infelizmente.
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Com grande frequência vemos (na vida real ou na digital) narrativas de vítimas directas e indirectas da pandemia: (ex-)pacientes, técnicos de saúde, professores, estudantes, pais, aposentados, funcionários com reduções de vencimento ou desempregados. Famílias inteiras que lutam para sobreviver e fazer luto de outros tantos que não o puderam, infelizmente.
Todos pessoas como eu, como tu, que estão além do aceitável no imediato para se ser resiliente: a lutar para terem presente e futuro, mesmo quando até pensar é precário. Isto deveria ser suficiente para reflectirmos com mais cautela em nós e no mundo. Mesmo assim, não.
Há muita falta de noção pessoal/social, quer-se sempre escapar às restrições.
Bem sei que, mesmo sendo necessário, é cansativo e desgastante ver os infográficos, conselhos, medidas sanitárias, bem como alertas constantes para a necessidade de se apoiar vários sectores e franjas sociodemográficas. Contudo, é urgente porque há mais contágios e a regra quase naturalizada que reina em muitas cabeças de “se não é aqui, não há problema”.
No entanto, a verdade é que há problema, tal como somos parte e solução do mesmo. Se é verdade que todos precisam de suporte, já que nenhum de nós está a salvo nesta situação de risco e incerteza, também é igualmente verdade que podemos, passo a passo, amenizar o sofrimento e o risco onde e com quem podemos. A resposta pode estar na solidariedade.
A solidariedade pode ser mais macro-sistémica: pensar no mundo, partilhar o que nos é possível, passar do grito de ajuda para um sorriso de alívio, unindo interesses e objectivos. Todos queremos passar esta situação de forma rápida e menos danosa. Então, pensa: ter a sensação de viver “o normal” pré-confinamento, onde cada um faz o que quer, só seria boa ideia se isso não violasse o espaço das outras pessoas que também vivem no mesmo mundo.
Ainda, a solidariedade deve sempre ser intergeracional: cada geração tem de prestar o suporte possível a outras – da família ou não. Temos, mais do que nunca, relatos da importância de se acompanhar os idosos e, mesmo digitalmente, nunca os abandonar à solidão. As pessoas na meia idade podem, eventualmente, conseguir ajudar no ponto de equilíbrio entre a comunicação com os mais idosos, mas também participar na educação dos mais jovens. Ao pessoal mais jovem cabe a tarefa de aguentar a sede de futuro em quatro paredes, mas também de ajudar a reduzir o grito de desespero dos pais e família que estão a gerir o caos entre finanças e agenda.
Em todos os casos (e mais que se lembrem), temos de pensar solidariamente: ser solidário é pensares em ti, na sociedade em que participas e, indo mais além, na sociedade que ficará para o futuro.
Portanto, se o grande gosto da tua vida (ou dos que te rodeiam) é correr a casa de familiares e amigos às escondidas ou dar um “passeio higiénico” com pessoas de fora do agregado, fixa isto: basta uma pessoa estar em rodopio para trazer um vírus letal. Cuida e educa.
Em homenagem aos muitos profissionais de saúde.