No grupo dos doentes a partir dos 50 anos, quais serão os primeiros a vacinar? Médicos aguardam orientações
Ainda há muitas questões por esclarecer, sublinham os presidentes das associações que representam os médicos de família e as Unidades de Saúde Familiar.
Os médicos de família ainda estão à espera das listas definitivas dos utentes com 50 ou mais anos e pelo menos uma das quatro patologias associadas a maior risco de mortalidade e morbilidade em caso de infecção pelo novo coronavírus, além das dos idosos com 80 ou mais anos, e aguardam orientações sobre quais, dentro destes grupos prioritários, deverão ser os primeiros a vacinar nesta primeira fase.
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Os médicos de família ainda estão à espera das listas definitivas dos utentes com 50 ou mais anos e pelo menos uma das quatro patologias associadas a maior risco de mortalidade e morbilidade em caso de infecção pelo novo coronavírus, além das dos idosos com 80 ou mais anos, e aguardam orientações sobre quais, dentro destes grupos prioritários, deverão ser os primeiros a vacinar nesta primeira fase.
As listagens iniciais dos utentes com doenças mais graves já foram validadas em alguns centros de saúde, mas o universo a vacinar é muito grande – são cerca de 400 mil pessoas a partir dos 50 anos com doenças a nível nacional, segundo as estimativas do grupo de trabalho (task force) responsável pelo plano nacional. Os médicos ainda não sabem como irão priorizar os utentes dentro deste grupo prioritário, explicam o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto, e o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, Diogo Urjais.
“Ainda não há orientações. Há a sugestão de que se comece pelos mais velhos [no conjunto dos doentes]. Mas quais são os mais graves [dentro da lista das quatro patologias]? Os que sofrem de insuficiência cardíaca, e dentro desta há quatro graus, ou as pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica?”, pergunta Nuno Jacinto.
Além disso, os utentes a partir dos 50 anos com patologias graves são mais do que os que estão registados a nível nacional – e as listas iniciais foram elaboradas pela Administração Central do Sistema de Saúde e os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde. “Na minha lista de 1800 utentes foram identificados cerca de 100 com patologias mas eu descobri mais 20 a 25 “, exemplifica o médico.
”Também vão ter que nos explicar muito bem como vai ser feita a convocatória das pessoas. O procedimento de eleição será o SMS mas também está previsto, em alternativa, o envio de carta. Ainda há aqui muitas pontas soltas”, sublinha Nuno Jacinto.
Os médicos e enfermeiros dos centros de saúde e das unidades de saúde familiar também desconhecem ainda quais são os locais onde vai ter lugar a vacinação. Nuno Jacinto sabe apenas que, em Évora, onde trabalha, deverá feita nos centros de saúde, até porque o número de pessoas a imunizar é relativamente reduzido, cerca de 70 mil, e os centros de saúde são todos construídos de raiz, não estão instalados em prédios antigos, ao contrário do que acontece nas grandes cidades. “Os espaços vão variar de local para local. Nos grandes centros urbanos fará sentido haver sítios dedicados, ao contrário dos locais mais rurais”, pondera.
Para o ex-presidente da APMGF, Rui Nogueira, ao ritmo a que estão a chegar as doses da vacina da Pfizer – 78 mil por semana – não vai ser possível arrancar com a imunização em massa destes dois grupos prioritários de imediato. Quando a vacina da AstraZeneca chegar (o que está previsto para 9 deste mês), “aí o panorama muda completamente".
Outra questão que ainda suscita dúvidas é a da forma como as pessoas que são seguidas nos centros de saúde vão ser chamadas. “Foi criado um módulo especial do programa de prescrição electrónica, mas alguns hospitais e clínicas privadas têm sistemas informáticos diferentes. Quando emitirem as declarações, estas vão chegar onde e como vão ser integradas no sistema? Ainda há questões a esclarecer”, enfatiza Nuno Jacinto.
“Ainda há muitas incertezas”, corrobora Diogo Urjais. “Por enquanto, não existem vacinas em grande número, apesar de todo o ruído à volta do processo”, lembra o enfermeiro, que trabalha na USF D. Dinis, em Leiria, que foi escolhida para o projecto-piloto que vai avançar na região Centro. “O processo vai ser moroso”, avisa.
Diogo Urjais frisa igualmente que ainda é preciso terminar a vacinação dos residentes e funcionários dos lares e dos profissionais de saúde. Por enquanto, em Évora, os profissionais dos centros de saúde vão estar também ainda ocupados esta semana com a administração das segundas doses das vacinas nos lares de idosos, e a profissionais de saúde e bombeiros. E a mensagem a passar é, dizem ambos: “Não contacte o centro de saúde, espere o nosso contacto”.