Rapper Bobi Wine tenta anular resultado das presidenciais do Uganda no Supremo Tribunal
Equipa jurídica do líder da oposição acusa o Presidente ugandês de ser um “agente de violência” e defende anulação das presidenciais devido a fraude eleitoral. Yoweri Museveni, na presidência desde 1986, foi reeleito em Janeiro para um sexto mandato.
O líder da oposição no Uganda, o rapper Bobi Wine, apresentou esta segunda-feira um processo no Supremo Tribunal a pedir a anulação das eleições presidenciais de Janeiro que deram a reeleição ao Presidente Yoweri Museveni, no poder há 35 anos.
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O líder da oposição no Uganda, o rapper Bobi Wine, apresentou esta segunda-feira um processo no Supremo Tribunal a pedir a anulação das eleições presidenciais de Janeiro que deram a reeleição ao Presidente Yoweri Museveni, no poder há 35 anos.
Museveni, de 76 anos, foi reeleito para um sexto mandato com 59% dos votos, enquanto Robert Kyagulanyi Ssentamu, mais conhecido pelo nome artístico de Bobi Wine, de 38 anos, ficou-se pelos 35%, mas a oposição considera que as eleições foram fraudulentas, denunciando ainda a violência contra opositores do regime durante a campanha eleitoral.
“O que queremos do tribunal é a anulação das eleições em que Museveni foi declarado vencedor. Não queremos que participe novamente em eleições no Uganda, porque é um agente de violência”, disse ao The Guardian Medard Sssegona, o advogado que está a dirigir o caso em nome de Bobi Wine e da Plataforma de Unidade Nacional (NUP), principal partido da oposição.
“Todas as eleições em que [Museveni] participou foram violentas. É um denominador comum da violência eleitoral neste país”, acusou.
Bobi Wine, um rapper que se tornou político para desafiar o Presidente que governa o Uganda desde 1986, diz que foi o vencedor das eleições e recusa reconhecer a vitória de Museveni, garantindo que houve fraude eleitoral.
De acordo com Bobi Wine e a sua equipa jurídica, que diz ter provas, o Presidente, a comissão eleitoral e o procurador-geral do Uganda são responsáveis por uma campanha que levou os militares a encherem urnas com votos em Museveni e afastar eleitores do rapper - sobretudo as camadas mais jovens da população - das assembleias de voto.
Antes das eleições, o líder da oposição foi detido várias vezes e a polícia proibiu muitos dos seus comícios, tendo chegado a reprimir com violência manifestações a favor do rapper – em Novembro do ano passado, pelo menos 54 pessoas morreram após uma carga policial.
Depois das eleições, Bobi Wine esteve vários dias preso em casa, com a polícia impedir entradas ou saídas na residência do líder da oposição. As autoridades acabaram por terminar o cerco na semana passada, após um tribunal considerar a detenção ilegal.
A tentativa de de Bobi Wine anular as eleições, no entanto, parece condenada ao fracasso, até porque em eleições anteriores outros candidatos tentaram contestar a veracidade dos resultados, tentativas que saíram sempre frustradas.
No entanto, apesar de admitir que “não confia a 100% nos tribunais” e que a contestação ao Supremo Tribunal pode acabar por “legitimar” Museveni, o partido de Bobi Wine vê a tentativa de anular as eleições como um teste ao sistema judicial do país, apesar de a decisão de avançar para o Supremo não ser consensual.
“Embora saibamos que os juízes são nomeados por Museveni e que sempre decidiram a seu favor, devemos usá-lo como plataforma para expor a fraude que foram estas eleições. Temos provas esmagadoras como base para um veredicto do tribunal. Os tribunais estão em julgamento. Vamos ver como é que [os juízes] lidam com esta situação”, disse Joel Ssenyonyi, porta-voz da NUP, citado pelo Guardian.
Organizações de defesa dos direitos humanos, a União Europeia e os Estados Unidos denunciaram a violência que antecedeu as eleições presidenciais ugandesas e lamentaram a falta de transparência no processo eleitoral, afirmações que têm deteriorado as relações entre o Ocidente e Museveni, considerado um aliado fundamental na região.