Esta taberna do Porto agora chama-se Está-se Bem em Casa. E não é que é verdade?
A taberna da Ribeira do Porto adaptou-se aos tempos de excepção que vivemos: mudou o nome e apostou na entrega de comida em vácuo. Experimentámos o serviço e ficámos convencidos.
Se a memória não me trai, a última vez que estivera na Taberna Está-se Bem, na Ribeira do Porto, fora em Outubro de 2018, numa noite em que a tempestade Leslie fez estragos sobretudo no Centro e no Norte do país. Estava eu e uma amiga, à época íamos lá algumas vezes: o espaço agradava-nos, a comida era boa e os funcionários muito simpáticos. Nessa noite, um sábado, tínhamos ideias de voltar cedo para casa à conta dos avisos de mau tempo, mas o caril de gambas estava óptimo, o vinho acompanhava bem, a conversa era boa como sempre e fomo-nos deixando ficar.
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Se a memória não me trai, a última vez que estivera na Taberna Está-se Bem, na Ribeira do Porto, fora em Outubro de 2018, numa noite em que a tempestade Leslie fez estragos sobretudo no Centro e no Norte do país. Estava eu e uma amiga, à época íamos lá algumas vezes: o espaço agradava-nos, a comida era boa e os funcionários muito simpáticos. Nessa noite, um sábado, tínhamos ideias de voltar cedo para casa à conta dos avisos de mau tempo, mas o caril de gambas estava óptimo, o vinho acompanhava bem, a conversa era boa como sempre e fomo-nos deixando ficar.
Saímos, claro, no exacto momento em que toda a chuva do céu começou a cair. Tínhamos um guarda-chuva para duas, o vento soprava forte e o carro estava estacionado na Alfândega, a uma distância ainda considerável para uma noite de tempestade. A dada altura, reparámos que éramos as duas únicas pessoas a circular a pé na rua. Cada vez mais encharcadas, procurámos abrigo numa paragem de autocarro, mas rapidamente percebemos que era inútil, porque a chuva vinha de todos os lados.
Pusemos de novo pés ao caminho e foi então que tivemos um daqueles ataques de riso impossíveis de controlar. Ensopadas até aos ossos, continuámos a andar pela rua às gargalhadas, o guarda-chuva fechado, os sapatos transformados em piscinas. Foi uma molha épica, mas tudo está bem quando acaba bem e para nós aquela será sempre uma noite de boa memória.
Trago estas memórias à baila por um motivo: para lembrar que ir a um restaurante, nos “bons velhos tempos”, não significava apenas sentarmo-nos a uma mesa. A experiência de um restaurante também é todo um antes, um durante e um depois. Mas os tempos estão como sabemos e, com as salas dos restaurantes fechadas ao público, há que pelo menos tentar reagir. Passaram-se mais de dois anos e por isto ou por aquilo não voltei à taberna da Ribeira. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé – na última sexta-feira, o Está-se Bem passou por minha casa.
Tal como muitos outros restaurantes de todo o país, o Está-se Bem – que até alterou o nome para Está-se Bem em Casa – teve que adaptar-se à nova realidade ditada pela pandemia de covid-19 e funciona em regime de entregas em casa (a opção mais procurada) e take-away. Nos dois casos, as encomendas são entregues em vácuo, uma modalidade que tem conquistado cada vez mais adeptos, tanto da parte dos restaurantes como da parte dos consumidores, na medida em que permite uma finalização do prato em casa em poucos minutos, diminuindo-se assim a decepção de a comida já pronta chegar fria ou num ponto que exige reaquecimento – e, consequentemente, a perda de algumas qualidades dos alimentos.
O menu do Está-se Bem em Casa é generoso e contempla vários pratos que podem incluir-se no espectro da “cozinha de conforto portuguesa”. Dos salgados (congelados ou prontos a comer) às sobremesas, passando, claro, pelas sopas e pelos pratos principais, ambos para duas pessoas. Do cardápio disponível, escolhemos bolinhos de bacalhau prontos a comer (6€, seis unidades), sopa de peixe e marisco (10€), bochechas de porco preto com puré de castanha de Trás-os-Montes (10€), couve salteada (3€) e duas sobremesas: mousse de chocolate e tarte de queijo cremoso, cada uma a 3€.
A entrega foi marcada para a tarde de sexta-feira, uma vez que a ideia era usufruir da refeição ao jantar. Em dois sacos de papel chegou tudo o que pedimos, em óptimas condições de embalamento, e mais uns mimos extra: por exemplo, cinco empadas de tamanho generoso (bacalhau, frango, pato, alheira com grelos e legumes, conjunto de quatro unidades a 6€); pão de azeite; e ainda quatro rissóis e mais seis bolinhos de bacalhau congelados.
A comida embalada em vácuo chega com instruções para a finalização: pode ser aquecida em banho-maria dentro dos sacos; ou, em alternativa, retirada dos sacos e aquecida no microondas, no forno ou no tacho. Optámos pelo tacho. Enquanto isso, experimentámos os bolinhos de bacalhau, que deram boas provas: enxutos, com poucos vestígios da fritura, crocantes e bacalhau no ponto certo de sal. Quem quiser, pode acompanhá-los com maionese de ervas, que também é fornecida. Neste capítulo “entradeiro” ainda se provaram duas empadas: a de pato e a de bacalhau. Muito boa a primeira, a segunda ligeiramente salgada.
Do tacho já se soltam os aromas da carne. E que boa que ela está! Tenríssimas, as bochechas de porco quase dispensam a faca. Envoltas num molho espesso e muito bem apaladado, jogam lindamente com o puré de castanha, que, à luz dos gostos da escriba, pecou apenas por se apresentar um pouco líquido. Já não há muito estômago, mas arranja-se sempre espaço para uma boa mousse de chocolate. A tarte de queijo cremoso também convence.
(Percebemos entretanto que nos esquecemos da sopa de peixe e marisco e de imediato decidimos que o almoço de sábado já estava tratado. Provou-se a sopa, então, perfeitamente preservada no vácuo: duas doses bem servidas para duas pessoas, recheadas das carnes do mar. Serviram-se em seguida as empadas restantes – alheira com grelos, muito boa; frango, idem aspas; legumes, a que menos impressionou – e ainda se aproveitaram as sobras das bochechas de porco e do puré de castanhas – agora mais consistente, claro, e perfeitamente comestível.)
No meio disto tudo, apetece dizer que, sim, Está-se Bem em Casa. Esta foi mais uma noite de boa memória onde a taberna também entra. E ainda temos bolinhos de bacalhau e rissóis no congelador. Agora, é aguardar por voltar a viver a taberna in loco, esperando que sem o azar de uma tempestade, antes com a sorte de alguma bonança.
A Fugas experimentou o serviço de entrega ao domicílio a convite da Está-se Bem em Casa