Responsável do INEM afastado após mandar vacinar funcionários de pastelaria

Instituição vacinou funcionários de pastelaria situada ao lado das instalações do INEM, no Porto. Responsável defendeu decisão, garantindo que as 11 vacinas iriam para o lixo se não fossem usadas.

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Caso será explicado às 16h30 Nuno Ferreira Santos

O responsável pela delegação do Norte do INEM, António Barbosa, foi afastado do cargo após se saber que tinha autorizado a vacinação contra a covid-19 de profissionais de uma pastelaria, no Porto, que fica junto às instalações da instituição. Isso mesmo foi confirmado pelo médico este sábado à tarde numa conferência de imprensa, onde explicou ter tomado aquela decisão para evitar o desperdício iminente de vacinas que, de outro modo, iriam para o lixo.

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O responsável pela delegação do Norte do INEM, António Barbosa, foi afastado do cargo após se saber que tinha autorizado a vacinação contra a covid-19 de profissionais de uma pastelaria, no Porto, que fica junto às instalações da instituição. Isso mesmo foi confirmado pelo médico este sábado à tarde numa conferência de imprensa, onde explicou ter tomado aquela decisão para evitar o desperdício iminente de vacinas que, de outro modo, iriam para o lixo.

António Barbosa adiantou que colocara o lugar à disposição, apesar de acreditar que tinha condições para continuar. Contudo, já depois das 23h, o conselho directivo do instituto emitiu uma nota dando conta ter aceitado a disponibilidade de António Barbosa, o que implica o seu afastamento do cargo.

Durante a tarde, António Barbosa explicou que, no dia 8 de Janeiro, uma sexta-feira, e o último dia de administração da primeira dose da vacina foi informado, já depois do almoço, de que havia 11 vacinas, já preparadas em seringas, que não tinham destinatário, já que todos os profissionais identificados como prioritários pela delegação já tinham sido vacinados. 

Para não desperdiçar as doses, que, segundo o médico, teriam que ser administradas o mais rapidamente possível para não perderem propriedades, este decidiu, com a concordância da equipa que estava a administrar as vacinas, mandar questionar os profissionais de uma pastelaria ao lado, sobre se estariam interessados e disponíveis para receber a injecção. Porquê essas pessoas? “Foi apenas circunstancial. Por motivos de proximidade e de segurança, já que estando aqui ao lado isso facilitava a monitorização de eventuais efeitos secundários”, justificou António Barbosa, que admite que pode ter havido funcionários de outros estabelecimentos contíguos na lista das 11 pessoas externas ao INEM que foram vacinadas. “Deitar as vacinas ao lixo é que seria imoral”, defendeu o clínico. 

O médico explicou que apesar de estar previsto um prazo de 120 horas, ou seja, de cinco dias, para se usarem as vacinas após a descongelação de um frasco, depois de o seu conteúdo estar diluído e preparado em seringas a utilização deve ser imediata. A norma da Direcção-Geral da Saúde que determina como se deve proceder à descongelação, diluição e administração da vacina da Pfizer/BioNTech, prevê que a vacina só pode ser administrada “até seis horas após o momento da diluição”, devendo depois ser para “descartar”.

As 11 pessoas externas ao INEM receberam igualmente a segunda dose da vacina, administrada na sexta-feira passada, admitiu António Barbosa. Ao todo, a delegação do Norte vacinou 469 pessoas, mais de um terço das 1266 vacinadas no INEM em quatro locais do país. 

Na nota emitida à noite, o conselho directivo do INEM garantia aguardar “com serenidade o desenvolvimento e as conclusões do inquérito a desenvolver pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde ao processo de vacinação contra a covid-19 que decorreu no INEM, mandado instaurar pelo Ministério da Saúde, manifestando total colaboração a esse serviço inspectivo para o apuramento dos factos”.

Este sábado, o Correio da Manhã avançava que a delegação regional do Norte do INEM vacinou os proprietários e funcionários de uma pastelaria do Porto, contígua às suas instalações, durante o processo de vacinação dos seus profissionais considerados prioritários, incluídos na primeira fase do plano de vacinação.

“Tínhamos 11 vacinas preparadas, o que resultou da dificuldade de perceber quantos profissionais podiam ainda vir a ser vacinados. Devo dizer-vos que do grupo de profissionais prioritários ficaram seis dezenas que não quiseram tomar [a vacina] ou já a tinham tomado noutras instituições onde trabalham. As doses foram preparadas porque estávamos com dificuldade de perceber quem podia vir. Tive conhecimento e fui confrontado com a necessidade [de as administrar]. Neste momento, a decisão era a mesma. Era imoral descartar vacinas numa altura destas”, explicou António Barbosa, garantindo que se não fosse esta a decisão as vacinas iam parar ao lixo. 

Esta é a segunda vez que o processo de vacinação no INEM é notícia esta semana, sendo a primeira polémica motivada pelo facto de vários directores, assessores e outros quadros superiores da instituição, profissionais sem prioridade, terem recebido a vacina. Na altura, fonte oficial da instituição explicou ao PÚBLICO que foram usadas as sextas doses presentes em parte dos frascos e também as que não puderam ser administradas a profissionais prioritários que não foram inoculados devido às contra-indicações da vacina.

O INEM emitiu na passada quinta-feira um comunicado oficial sobre o assunto, negando "todas e quaisquer acusações de favorecimento pessoal neste processo”. Curioso é que um dos argumentos usados para justificar a administração da vacina a 92 pessoas do INEM que não faziam parte do grupo prioritário, acaba por ser desmentida, em parte, por este novo caso. “Os prazos estipulados para administração das vacinas após descongelação e diluição, bem como a logística de todo este processo de vacinação, nomeadamente a exigência de condições de assepsia na sua preparação, não permitiriam a administração destas doses sobrantes a pessoas externas, e em ambientes externos ao INEM”, argumentou a direcção da instituição.