Um momento de publicação independente: The Walk. From Lisbon to Lisbon
Fanzines, edições de autor, livros de artista — nesta rubrica queremos falar de publicação independente. André Paxiuta apresenta The Walk. From Lisbon to Lisbon.
Apresenta-nos a tua publicação.
The Walk. From Lisbon to Lisbon é uma monografia fotográfica que resulta da experiência de ser residente numa cidade que se descobre a cada passo. Durante sete anos, fotografei a rotina cosmopolita de Lisboa captando momentos, vidas que se cruzam, histórias que vi sem conhecer. Para um rapaz que viveu toda a sua vida no campo, a fotografia de rua surgiu como uma forma de melhor apreender o espaço, as rotinas, as expressões e as tensões do meio urbano.
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The Walk. From Lisbon to Lisbon é uma monografia fotográfica que resulta da experiência de ser residente numa cidade que se descobre a cada passo. Durante sete anos, fotografei a rotina cosmopolita de Lisboa captando momentos, vidas que se cruzam, histórias que vi sem conhecer. Para um rapaz que viveu toda a sua vida no campo, a fotografia de rua surgiu como uma forma de melhor apreender o espaço, as rotinas, as expressões e as tensões do meio urbano.
Este trabalho ganhou o prémio de melhor portfólio a preto e branco na revista americana Black & White – For collectors of fine photography, tendo sido alvo de destaque no número de Dezembro de 2017. Algumas das imagens incluídas nesta publicação foram apresentadas na exposição Do Paralium ao vazio do lugar, patente durante o ano de 2019 no Laboratório de Artes Criativas de Lagos (LAC) e na galeria do Castelo de Mértola, um trabalho que realizei em conjunto com Carlos Simes do colectivo Soul Frames do qual ambos fazemos parte.
Quem é o autor?
André Paxiuta. Nasci em Lisboa, mas não sou de Lisboa. Passei a minha infância nos arredores da capital, no campo, procurando a cidade de forma estratégica como um satélite enviado ao espaço numa missão específica. Estudei na Universidade de Lisboa, onde completei a licenciatura e doutoramento em Geografia. Uma breve passagem pelo Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, deixou clara a necessidade de explorar o horizonte da fotografia em complementaridade com a leitura documental dos espaços físicos e humanos retratados no espectro da geografia. Este trabalho, The Walk, nasce a partir dessa raiz interpretativa e documental do mundo que me rodeia, mas é, acima de tudo, um exercício fotográfico contemplativo, livre de qualquer aprisionamento narrativo.
Do que quiseste falar?
O ponto de partida para este trabalho é meramente reactivo, como que um impulso à estética do momento que a rua oferece. O acto de fotografar a rua acarreta uma dicotomia entre o distanciamento e a conexão que proporciona com os espaços e os sujeitos com os quais se partilha o passeio. Por um lado, o fotógrafo fica fora de cena, reconhecendo a sua condição transitória no fluxo urbano. Por outro lado, o processo fotográfico pede uma maior ligação e envolvimento, forçando-o a reagir, a captar o outro nas suas idiossincrasias, na sua abstracção, na sua rotina, na sua justaposição geométrica à rua, às estruturas urbanas e ao vizinho transeunte. Não sinto por isso que este trabalho queira dizer alguma coisa. Cada imagem encerra uma história que vi sem conhecer. Coloco os aspectos interpretativos e narrativos nas mãos do leitor.
Questões técnicas: quais os materiais usados, quantas páginas tem, qual a tiragem e que cores foram utilizadas?
O livro foi desenhado por mim e foi impresso na Gráfica Maiadouro, no Porto. Tem 104 páginas, 61 imagens e uma tiragem de 500 exemplares. Salvo duas ou três imagens captadas em meio digital, a totalidade do trabalho foi captado em emulsão fotográfica, recorrendo a filme preto e branco de 35mm.
O processo digital seria em tudo positivo, mais rápido e menos exigente tecnicamente. Mas introduziria um ruído do qual queria manter distância: ser condicionado pela possibilidade de ver o resultado rapidamente; o impulso de partilhar nas redes sociais; e o facto de estar ligado a mais um ecrã que “procurava comunicar” comigo após cada disparo. E sinto que no processo de acompanhar a demanda do mundo digital estamos a excluir o silêncio da fórmula de vida como fotógrafos e como seres humanos; estamos a ficar incapazes de lidar com a ausência de ruído. E embora não haja como escapar do mundo digital, descobri que, ao manter o uso de película no meu fluxo de trabalho, estou a forçar-me a garantir esses momentos de silêncio, seja na captura de imagens, seja pelo tempo que dedico à revelação e edição do material em câmara escura.
Onde está à venda e qual o preço?
O livro está à venda no meu site por 25 euros.
Porquê fazer e lançar publicações hoje em dia?
As edições são a prova viva de um trabalho que assume uma natureza física que subsiste numa esfera própria, distante do swipe esquizofrénico do mundo digital. Caracterizam-se pela liberdade de conteúdo e de design, desprendida de qualquer limitação editorial. São uma oportunidade única de experimentação, de cooperação e conexão com a comunidade que acompanha o nosso trabalho de perto. Mas também uma ocasião para cometer erros, erros que sobressaem passado um tempo de amadurecimento e que nos fazem crescer como autores. Nada se compara a uma publicação física.
Recomenda-nos uma edição de autor recente lançada em Portugal.
99, de Vasco Trancoso. Durante cerca de três anos (2016-2019), o autor fotografou quase diariamente as Caldas da Rainha e Óbidos – abordando aspectos da vida diária – em lugares públicos (ruas, praias, museus, etc.). O livro 99 é a etapa final desse trabalho apresentando uma selecção com 99 fotografias.