A sanduíche de atum da Subway não é de atum, mas de “uma mistura de coisas”, diz acção judicial
O principal ingrediente, de acordo com a acção judicial a decorrer nos Estados Unidos, é “feito de tudo menos atum”, dizem os queixosos, que fizeram análises num laboratório independente. Subway diz que os restaurantes recebem “atum puro e selvagem”.
A Subway descreve a sua sanduíche de atum como “pão acabado de cozer”, com “atum em flocos misturado com maionese cremosa e coberta com a tua escolha de vegetais frescos e estaladiços”. É uma descrição criada para activar as glândulas salivares — e separar-te do teu dinheiro.
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A Subway descreve a sua sanduíche de atum como “pão acabado de cozer”, com “atum em flocos misturado com maionese cremosa e coberta com a tua escolha de vegetais frescos e estaladiços”. É uma descrição criada para activar as glândulas salivares — e separar-te do teu dinheiro.
É também ficcional, pelo menos em parte, de acordo com uma recente acção judicial intentada no Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito da Carolina do Norte. A queixa alega que os ingredientes a que a empresa chama “atum”, usado nos wraps e sanduíches, não contêm absolutamente atum nenhum.
Um representante da Subway disse que as queixas não têm fundamento. Não só o atum é real, diz a empresa, como é também selvagem.
O principal ingrediente, de acordo com a acção judicial, é “feito de tudo menos atum”. Baseado em testes feitos num laboratório independente a “múltiplas amostras” retiradas de restaurantes da Subway na Califórnia, o “atum” é na verdade “uma mistura de várias coisas que não constituem atum, mas são misturadas pelos arguidos para imitar atum”, segundo a queixa. Shalini Dogra, uma das advogadas dos queixosos, recusou-se a dizer quais os ingredientes que os testes revelaram.
“Descobrimos que os ingredientes não eram atum ou peixe”, referiu a advogada num email enviado ao Washington Post.
Dois dos queixosos foram identificados: Karen Dhanowa e Nilima Amin, ambas residentes no condado de Alameda, na Bay Area. Mas os advogados de Dhanowa e Amin esperam que a sua queixa seja certificada como acção colectiva, o que poderia abrir o caso a milhares de clientes da Subway na Califórnia que tenham comprado sanduíches e wraps de atum depois de 21 de Janeiro de 2017.
Dhanowa e Amin estão a processar a Subway por fraude, deturpação intencional, enriquecimento injusto e outras queixas ao abrigo das leis federais e estatais. Entre outras acusações, argumentam que “foram enganadas na compra de artigos alimentares que não continham os ingredientes que pensavam estar a comprar”, com base na embalagem, publicidade e marca da Subway.
Mais ainda, argumentam os queixosos, a Subway está “a poupar quantias substanciais no fabrico destes produtos, uma vez que o ingrediente que usam em vez do atum é mais barato”. Referem ainda que pagaram preços altos por um ingrediente que primava pelos seus benefícios à saúde (embora o Governo sugira a algumas pessoas que limitem a sua ingestão devido à contaminação por mercúrio). Nos subúrbios de Washington, por exemplo, o preço de uma baguete de atum na Subway é 7,39 dólares. A sanduíche Cold Cut Combo (de carnes frias), com o mesmo tamanho, custa, por seu turno, 6,19 dólares.
“Os consumidores são consistentemente enganados na compra de produtos pelos benefícios e características comummente conhecidos ou publicitados, quando, de facto, esses benefícios não podem ser obtidos, uma vez que os produtos não têm atum”, afirma o processo.
De acordo com a página de informação nutricional da Subway, a salada de atum usada nas sanduíches contém flocos de atum em salmoura, maionese e um aditivo para “preservar o sabor”. Uma porta-voz da Subway garantiu que a informação nutricional está actualizada.
“A sanduíche de atum é uma das nossas mais populares. Os nossos restaurantes recebem atum puro, misturam-no com maionese e servem-no numa sanduíche acabada de fazer aos nossos convidados”, disse Katia Noll, directora sénior para a segurança e qualidade alimentar da Subway, num comunicado enviado ao Post.
Ao longo dos anos, a Subway tem sido um alvo frequente de processos judiciais, uns mais sérios do que outros.
Em 2013, os queixosos de uma acção colectiva acusaram a cadeia de vender sanduíches de cinco dólares que tinham apenas 11 a 11,5 polegadas de comprimento. (O Tribunal de Recurso dos Estados Unidos para o Sétimo Circuito em Chicago acabou por descartar um acordo no caso, descrevendo-o como “totalmente inútil”.) A cadeia de sanduíches teve, recentemente, de defender também o seu pão, depois de o Supremo Tribunal da Irlanda ter decidido, numa longa batalha legal e fiscal, que os pães da Subway não correspondiam à definição de “pão básico” no país.
Ao longo dos anos, os franchisados também processaram a empresa, alegando que a estrutura regional da Subway e o processo de inspecção arbitrária empurraram, injustamente, alguns donos para fora do negócio. Em 2017, a Subway entrou com uma acção judicial contra a Canadian Broadcasting Corporation (CBC), argumentando que a emissora pública canadiana difamou a cadeia num relatório que alegava que os produtos avícolas da empresa continham apenas 50% de ADN de frango. O Tribunal Superior de Ontário arquivou o processo da Subway, afirmando que a investigação da CBC tinha cumprido o “teste do interesse público”.
Os queixosos no caso actual querem indemnizações compensatórias e punitivas, bem como o pagamento dos honorários dos advogados. Querem também que a Subway ponha termo à sua alegada prática de rotular incorrectamente as suas sanduíches de atum e entregue os lucros que obteve com a prática. Os queixosos recorreram aos serviços da Lanier Law Firm, uma empresa com escritórios em várias cidades, incluindo Los Angeles. Lanier tem estado envolvido em vários processos judiciais de alto nível, incluindo um caso em que 22 mulheres reclamaram que os produtos em pó de talco da Johnson & Johnson causaram cancro nos ovários. Um júri atribuiu aos queixosos 4,69 mil milhões de dólares por danos causados, em 2018.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post