Covid-19: perante o risco de “desobediência civil”, Macron desiste do terceiro confinamento

Presidente francês convocou um Conselho de Defesa extraordinário para responder ao aumento de infecções em França. Mas, ao contrário do que era esperado, Jean Castex anunciou que um terceiro confinamento não vai avançar.

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Emmanuel Macron esteve reunido com alguns dos seus ministros no Palácio do Eliseu Reuters/GONZALO FUENTES

Apesar de registar números próximos ou acima dos 20 mil casos diários de SARS-CoV-2 há mais de duas semanas e com os hospitais a começarem a dar sinais de ruptura, o Governo francês resistiu, para já, a um terceiro confinamento e anunciou, ao invés, um maior controlo nas fronteiras, o encerramento de alguns estabelecimentos comerciais e um reforço policial para garantir o cumprimento do recolher obrigatório.

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Apesar de registar números próximos ou acima dos 20 mil casos diários de SARS-CoV-2 há mais de duas semanas e com os hospitais a começarem a dar sinais de ruptura, o Governo francês resistiu, para já, a um terceiro confinamento e anunciou, ao invés, um maior controlo nas fronteiras, o encerramento de alguns estabelecimentos comerciais e um reforço policial para garantir o cumprimento do recolher obrigatório.

“A questão do confinamento é legítima, mas conhecemos o seu pesado impacto para os franceses. Acreditamos que ainda temos uma hipótese para o evitar”, afirmou o primeiro-ministro francês, Jean Castex, no final de um Conselho de Defesa extraordinário convocado pelo Presidente Emmanuel Macron.

Castex anunciou o fecho das fronteiras para países fora da União Europeia, à excepção de situações “extraordinárias" e com justificação, sendo que os cidadãos dos Estados membros que queiram entrar em território francês têm de apresentar um teste negativo à covid-19.

Os estabelecimentos comerciais, à excepção das lojas que vendam comida, com mais de 20 mil metros quadrados vão ter de encerrar, o teletrabalho vai ser reforçado e as operações de fiscalização vão aumentar, com o Governo a tentar impedir as violações do recolher obrigatório que vigora entre as 18h e as 06h e que se vai manter nos próximos tempos.

Nos últimos dias, perante o aumento substancial de novos casos de coronavírus, impulsionados pela disseminação das variantes britânica e sul-africana, a imprensa francesa dava como certo o anúncio de um um terceiro confinamento em França.

Macron, no entanto, contra todas as expectativas, decidiu deixar de lado, pelo menos para já, um confinamento que não era aprovado pela maioria dos franceses: de acordo com uma sondagem do Instituto Elabe publicada na quarta-feira, apenas 48% dos franceses são favoráveis a um confinamento semelhante ao da Primavera, sendo que, em Março do ano passado, 93% da população defendia as medidas impostas pelo Presidente e pelo Governo.

Além da maior resistência dos franceses, que vêm acumulando fadiga e frustração ao longo dos últimos meses, alguns sectores, nomeadamente a restauração, deram um murro na mesa e anunciaram protestos caso fossem impostas novas medidas de restrição.

De acordo com a France 24, muitos restaurantes do país têm estado a funcionar clandestinamente nas últimas semanas e nas redes sociais aumentam os apelos para a reabertura dos espaços de restauração no dia 1 de Fevereiro, com ou sem autorização do Governo – daí o reforço da fiscalização anunciado por Castex.

Christophe Castaner, líder parlamentar do República em Marcha, o partido de Macron, admitiu ao jornal Le Parisien que existia um risco de “desobediência civil” caso o Governo optasse por um novo confinamento.

Até ao momento, França tem escapado mais ou menos incólume aos grandes protestos que se têm verificado noutros países europeus, mas, na iminência de medidas mais restritivas, aumentaram os receios que os enormes protestos contra as medidas de confinamento nos Países Baixos, os maiores dos últimos 40 anos anos, que já levaram a centenas de detidos, chegassem às ruas francesas.

“Sentimos que as pessoas estão muito mais ansiosas, que não aguentam mais, que estão tensas e stressadas, especialmente os pequenos comerciantes que têm medo de não sobreviver a um novo confinamento semelhante ao da Primavera de 2020”, disse à France 24 Caroline Janvier, deputada do República em Marcha. “Mas, mais do que raiva, vejo problemas relacionados com a saúde mental, problemas com depressão e isolamento, especialmente entre os mais velhos”, acrescentou.

Medidas ineficazes

Na passada quarta-feira, França registou quase 27 mil novos casos de coronavírus, o número mais elevado desde meados de Novembro, quando o país se encontrava no segundo confinamento, aprovado no final de Outubro e que, ao contrário da quarentena imposta em Março, deixou as escolas abertas. Esta sexta-feira, as autoridades sanitárias notificaram mais 22,858 novas infecções.

confinamento a nível nacional terminou a meio de Dezembro, e a estratégia do Governo tem passado pela renovação do recolher obrigatório, mantendo os cafés, bares, restaurantes, teatros e cinemas encerrados.

O descontrolo no número de novas infecções, cujo aumento se explica em parte pela disseminação das variantes britânica e sul-africana - em Paris, 9,4% dos casos detectados entre 11 e 21 de Janeiro têm origem na variante do Reino Unido –, levou o Governo a admitir que as medidas actuais não são suficientes.

“O recolher obrigatório às 18h tem sido relativamente ineficaz. Temos dados que mostram que, nesta fase, não diminui suficientemente a circulação do vírus”, afirmou em conferência de imprensa o porta-voz do Governo francês Gabriel Attal.

No mesmo sentido, o ministro da Saúde francês, Olivier Véran, disse que o actual recolher obrigatório, que vigora entre as 18h e as 06h, “não é suficiente” face às novas variantes, mais contagiosas, e reiterou que é necessário evitar “uma pandemia dentro da pandemia”, quando o número de internados nos hospitais continua a aumentar e a ocupação nas camas de cuidados intensivos já ultrapassa os 60%.

No entanto, apesar de reconhecer que as medidas actuais não estão a resultar, Macron e o seu Governo vão tentar adiar ao máximo a introdução de um novo confinamento, apostando mais na fiscalização das medidas em vigor do que na introdução de novas restrições.